ENTREVISTA A BOLA Balakov com cabelo rapado após ver jogos do Mundial-1978

NACIONAL20.04.202400:59

Era capitão de equipa do Etar quando um barbeiro lhe rapou o cabelo

Krassimir Balakov, um dos melhores estrangeiros que passaram por Portugal, esteve em Portugal durante três dias a convite de A BOLA. Visitou as novas instalações do nosso jornal, passou pelo Jamor onde conquistou um troféu com o Sporting e, claro, esteve no José Alvalade, recebido por Frederico Varandas. Prometeu voltar para ver o Sporting campeão, mas, entretanto, deu uma longa entrevista, que pode ler em A BOLA neste sábado (este é um primeiro excerto).

- Como prefere ser chamado: Krassimir, Balakov ou simplesmente Bala?

-Todos os amigos me chamam Bala, como era conhecido no meu tempo de jogador. Porém, agora, como treinador, muita gente chama-me Krassimir Balakov. Mas pode chamar-me apenas Bala.- Ok, vou oscilando entre Bala e Krassimir.

- Quando fala, percebe-se que mistura um pouco de alemão, com um pouco de português e inglês e, por vezes, até sai algo em búlgaro. Em que língua se sente mais à vontade, excluindo o búlgaro?

- Quando falas várias línguas, por vezes misturas as coisas. Agora, em Portugal, tenho falado com portugueses, búlgaros e alemães e, por isso, por vezesMas pode chamar-me apenas Bala.Mas rapidamente percebo e vou emendando. As pessoas até acham engraçado. Mas acho que falo melhor alemão.

Bala, para fazer esta entrevista fiz uma pequena busca e reparei que o Google é uma ferramenta muito boa, mas tem alguns erros.

- Como assim?

-Por exemplo, o Google diz que você tem 58 anos, o que me parece claramente mentira, olhando para a sua forma física.

- A idade é uma coisa engraçada [risos]. O passaporte, tal como o Google, diz que tenho 58 anos, mas o mais importante é como me sinto. E ainda não me sinto com 58 anos.

- Com que idade se sente?

- De cabeça e de corpo, sinto-me com muito menos. Menos de 50, talvez até menos de 40.

- Mas continua magro. Que faz no dia-a-dia?

- Faço muito desporto. Quando praticas futebol profissional durante 25 anos, tens de continuar a treinar todos os dias. Jogo muito ténis, gosto de jogar golfe e vou ao ginásio muitas vezes.

- É bom a jogar ténis e golfe?

- Sou bom em todos os desportos [risos], mas não tanto como era como futebolista.

- Bala, recuemos até 1966, ano em que você nasceu. Como é que era a vida em Tarnovo?

- Era uma vida normal. Estávamos ainda a viver no socialismo e era uma vida diferente. Mais tranquila e igual para todos. Era uma vida muito boa, apesar de não ter muitas coisas como tenho hoje. Agora, a vida está mais aberta, podes ver tudo, podes ouvir tudo. Na altura não era assim. O meu foco foi sempre para jogar futebol e crescer como jogador.

-Quando começou a jogar futebol, toda a gente viu logo que era um grande talento?

- Não, nunca. Diziam que tinha talento, mas que precisava de trabalhar muito. Para chegar onde cheguei, o talento não basta: é preciso trabalho. Mas o trabalho, por si só, também não basta: é preciso talento. Para ficar no futebol grande, como costumo dizer, é preciso talento e trabalho.

- No Etar, como miúdo,foi logo número 10?

- Não, não foi logo. No princípio jogava à esquerda, como atacante no lado esquerdo. Depois joguei como ponta-lança e, no final, joguei na posição número 10, que é uma posição muito importante numa equipa.

- Na pesquisa que fiz, encontrei uma história muito engraçada, na qual um treinador o obrigou a rapar o cabelo. Verdade?

- [risos]… mais ou menos. Essa história é, de facto, muito engraçada. Eu e os meus companheiros estávamos, num quarto, a ver os jogos do Mundial de 1978, julgo. Eu era o capitão e estivemos a ver jogos para aprender alguma coisa com os grandes jogadores. Éramos cinco ou seis no mesmo quarto. De repente, o treinador adjunto entrou, o senhor Vasil Matev, entrou no quarto para ver o que se passava e eu e mais um colega estávamos a ver o jogo e os outros estavam a jogar às cartas. Então, o treinador disse-me: Balakov, amanhã vais comigo receber uma prenda. Respondi: ok. Pensei: estava a ver o jogo, vou receber uma prenda. No dia seguinte,  fui ter com ele e ele tinha na mão uma… como se diz [faz o gesto de quem vai rapar o cabelo a alguém]?

- Máquina de cortar cabelo?

- Isso. E com ele estava um daqueles homens que cortam o cabelo. Como se chamam?

- Barbeiro.

- Barbeiro, exatamente. O senhor Vasil Matev disse ao barbeiro: «Quero que este jogador, o meu capitão da equipa, fique o mais bonito de todos. Sentei-me na cadeira, o barbeiro pegou na máquina, meteu-a pelo meio da cabeça e, zás, rapou no meio. O treinador gritou: «Que estás a fazer? Faz o jogador mais bonito!». Porém, como estava rapado no meio, teve de me rapar o cabelo todo, E eu tinha uma cabeleira enorme e bonita. Quando olhei ao espelho, nem queria acreditar! Fiquei mesmo triste...