«Autocarro unido jamais será vencido», a crónica do Liverpool-Man. United
Salah vigiado por Dalot e Amrabat (Foto: Propaganda Photo/IMAGO)
Foto: IMAGO

«Autocarro unido jamais será vencido», a crónica do Liverpool-Man. United

INTERNACIONAL17.12.202322:16

‘Reds’ sentiram o momento e esbarravam na estratégia de Ten Hag; avalanche ofensiva pecou pela finalização; nulo entrega a liderança ao Arsenal antes de os ‘Gunners’ visitarem Anfield

LIVERPOOL — A expetativa era obviamente grande. Só o clássico, o maior da Premier League no matter what, por si só já criava o momento, que se estenderá até ao next big match, nova receção, agora ao Arsenal, a dois dias do Natal. Um outro combate de chefes ligado a este, que a partir do apito final de Michael Oliver ainda parece ganhar maior dimensão. Contudo, não se tratava apenas disso. Tal nunca acontece.

Anfield contava ainda com a maior enchente em 50 anos, só possível com a autorização para usar parte da remodelada Road Stand, ou seja, ter nas bancadas mais de 57 mil almas, a maior parte a cantar de peito aberto o mágico You’ll Never Walk Alone. E havia ainda os maus resultados sucessivos do grande rival Manchester City que, sabe A Bola, tinham surpreendido os responsáveis dos Reds, sobretudo o de sábado, diante do Crystal Palace após chegar a um 2-0. Tudo isto intensificava o burburinho na periferia, cheia de turistas do futebol, mas também de gente apaixonada pelo seu clube. 

O estádio estava preparado para um momento de gala, ainda que com respeito pelo grande rival, que não atravessava um bom momento e, para cúmulo, não contava com o castigado Bruno Fernandes. Mesmo entre os scousers, o entusiasmo era moderado. Bem moderado. É verdade que o estrondoso 7-0 da última temporada, o resultado mais desnivelado entre os arqui-rivais, ainda estava bem presente em todos, como mostraram os gestos na receção ao autocarro dos visitantes, além do registo de invencibilidade em Anfield nos últimos sete embates. Havia que contar, sobretudo, com o orgulho ferido do United.

A oportunidade, essa, também se reconhecia como única. A equipa de Diogo Jota e do adjunto português Vitor Matos podia dar, com os dois clássicos, um arranque importante para o ataque ao título. E talvez tenha sido mesmo o excesso de vontade a traí-los.

Ten Hag não saiu ao caminho de Klopp

O Manchester United ainda estará por perceber como conseguiu sair vivo de um encontro em que apenas não foi inferior na sua pequena área. Nunca teve o controlo, foi completamente dominado e, apesar de um ou dois momentos em que Garnacho expôs as fragilidades defensivas de Trent Alexander-Arnold e de Alisson ainda se ter de aplicar numa outra situação, os Reds criaram um volume avassalador, que não teve, aí sim, a devida correspondência na definição perto da baliza.

Estrategicamente, Ten Hag poderá vangloriar-se de ter anulado o poderoso ataque dos da casa, mas Klopp teve o neerlandês durante muito tempo no bolso. Sem o lesionado MacAllister, foi Endo o 6 (com um registo de enorme entrega e simplicidade extraordinária) e juntava-se-lhe por dentro Arnold, num posicionamento cada vez mais comum na Premier e também usado por Ten Hag com Diogo Dalot, para uma saída mais limpa. Só que a grande diferença aparecia sem a posse. Arnold chegava-se mais à frente pela direita para anular Luke Shaw, com o resto da equipa a desdobrar-se: Endo baixava, Konate arrumava-se na direita e, mais à frente, Salah juntava-se a Darwin para anular o passe progressivo dos Red Devils. Os visitantes estavam asfixiados. McTominay plagiava Bruno Fernandes, quando o mais parecido com o português em campo até aparecia do outro lado no cerebral húngaro Szoboszlai

A adrenalina estava ao máximo. Em cada corte, de cada vez que o Manchester United era apanhado no bloqueio, a Kop rugia. Não precisava de um remate ou de uma oportunidade para se manifestar. Reagia a cada golpe infligido e levava o resto das bancadas atrás.

Com a sua postura, vista ainda no excesso de tranquilidade na reposição da bola por parte de Onana, Ten Hag reconhecera a superioridade do rival. Não queria jogar de igual para igual. Só queria sobreviver. Uma ideia nada futebol total, porém bem realista e consciente das limitações.

Sem rasgo e serenidade

Talvez o Liverpool tenha sentido o momento. As bancadas gritaram várias vezes C’mon Mo! a pedir um rasgo de um Salah hesitante. Luis Díaz apresentou-se previsível. Ia sempre para dentro e tanto Dalot como Evans (ou até Antony) iam, aqui e ali, adivinhando o quando. A Darwin não deram espaço para correr e o uruguaio sentiu-se abraçado por um colete de forças. Arnold cruzou muito, nem sempre bem, e quando as bolas lhe saíam à medida os centrais do United anulavam-nas. E mesmo assim, com as intermitências, apenas faltou serenidade para se tomar a melhor decisão.

O United sorri no fim, apesar de todos os problemas que persistem. O empate, pela forma como jogou, está longe de o aproximar do sucesso. Já o Liverpool perde a liderança para o Arsenal antes de receber os Gunners. Mas em Anfield sabe-se há muito que o clube nunca caminhará sozinho. E não será desta.