É preciso recuar dez anos para ver uma equipa portuguesa numa meia-final europeia. Sim, na passada quinta-feira havia um Benfica- Marselha de relevância desportiva inegável. Fui para o estádio animado na importância do jogo , com a ilusão de que podíamos repetir história. Cheguei ao camarote da Luz, e, no meio de antigos craques, estava o meu herói de infância, Sven-Goran Eriksson. Bem sei que o meu avô me descrevia o feiticeiro Béla Guttmann, bem sei que o meu pai me narra os feitos do disciplinador Jimmy Hagan, mas sejamos sinceros, na minha existência, Sven foi o maior, o meu herói. Sven-Goran Eriksson tinha um futebol fantástico, e fazia o futebol fantástico. Numa altura em que outros se distinguiam pela afirmação bélica e guerreira, Eriksson distinguia-se pela qualidade do futebol e pela elegância da comunicação. O respeito pelo jogo e pelos adversários, a sua educação esmerada e aquele inesquecível sorriso estavam lá na passada quinta-feira, a beber uma flute comigo e falar de tantos momentos mágicos. O Benfica ganhou ao Marselha, mas na passada quinta-feira, única e inesquecível foi a conversa com o meu ídolo de infância. Eu posso gabar-me vitaliciamente de ter discutido os lances do jogo, ainda frescos na memória, dessa tarde de 2 de Março de 1983, onde faltando ao liceu, eu assisti ao Benfica vencer a melhor equipa do Mundo na altura, a Roma de Tancredi, Ancelotti, Falcão, Prohaska, Pruzzo, Vierchowood, Nela ou Bruno Conti. Esse foi sem dúvida um dos melhores, senão o melhor e inesquecível, jogo da minha vida. Nesse dia, eu senti que não era apenas adepto do Benfica, era adepto de um enorme clube, treinado por um gigantesco treinador a caminho de uma final europeia. Sven ganhou à Roma em Roma, e nunca me esqueci da aula de ballet de Chalana, nem do aroma e classe de Filipovic como se tivesse sido ontem. Perguntado sobre o treinador da minha vida, nunca hesito, Sven-Goran Eriksson é sempre a resposta. Há doenças malditas, há circunstâncias difíceis de aceitar e há momentos inesquecíveis. Que enorme foi quinta-feira para mim, que bonita foi aquela lembrança, no relvado da Luz, onde se celebrou o melhor do futebol. Desde que saiu do Benfica,Sven-Goran Eriksson fez-me ser da Roma, da Lazio (como festejei aquele scudetto) ou da Fiorentina, porque depois de sair do Benfica, passei a ser pelo clube que o meu herói treinasse. Obrigado por quinta-feira. Obrigado pelo teu futebol. Obrigado pelo teu sorriso. Deste teu eterno fã.