O Dr. João Paulo Rebelo: - o governante que sabia pouco (artigo de Manuel Sérgio, 358)

Espaço Universidade O Dr. João Paulo Rebelo: - o governante que sabia pouco (artigo de Manuel Sérgio, 358)

ESPAÇO UNIVERSIDADE16.03.202118:39

Ingressei, em 1968, por convite do Dr. Armando Rocha, diretor-geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar, no Fundo de Fomento do Desporto; trabalhei no INEF, no ISEF, na FMH e no Centro de Medicina Desportiva de Lisboa; por generosidade do reitor da Universidade Estadual de Campinas, Prof. Doutor Paulo Renato da Costa e Souza, que seria depois o Ministro da Educação de todos os governos de Fernando Henrique Cardoso, lecionei, durante dois anos, nas Faculdades de Educação Física e de Educação (departamento de Filosofia) da Universidade Estadual de Campinas, uma Instituição de excelência, na vida universitária de língua e expressão portuguesas; fui dirigente associativo, na Associação de Basquetebol de Lisboa e na Associação de Andebol de Lisboa; e, no meu “clube do coração”, o C.F. “Os Belenenses”, assumi funções várias de direção e, durante dois mandatos, conduziram-me à presidência da Assembleia Geral; fiz amizade com figuras de relevo (atletas, treinadores, dirigentes e políticos) no panorama desportivo nacional; aos quase 88 anos de idade poderia incluir aqui breves biografias de desportistas de relevo e cuja memória venero.

No elenco de personalidades, que neste momento me ocorrem, quero distinguir hoje o Dr. João Paulo Rebelo, atual (moço na idade e nas ideias) secretário de Estado do Desporto e Juventude. Não tenho ídolos, mas tenho referências humanas. O Dr. João Paulo Rebelo é uma delas. Não o conhecia, pessoalmente. Aliás, do seu gabinete governamental só o Dr. Nuno Laurentino, nome dos maiores da natação portuguesa, há muito admirava e não escondia o sincero apreço que por ele nutria e nutro.  E não antecipava eu o que no Nuno Laurentino havia (e há) de singular coragem intelectual, de generosidade e… de conhecimento da vida desportiva nacional (acrescento sem receio e com larga cópia de argumentos)...

Sem o esperar, recebi uma tarde um telefonema do Dr. João Paulo Rebelo, do qual emergia um convite, abonado com alguma riqueza de pormenores, em relação ao meu currículo, para visitá-lo, no seu gabinete das instalações do Ministério da Educação, na avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Saliento a frase que acompanhou o convite: “Como sabe, sou um caloiro nestas coisas do desporto e preciso, por isso, do apoio das pessoas que já cá andam, há mais anos”. Não foi difícil concluir, após a nossa primeira e breve conversa que o Dr. João Paulo Rebelo acabara de enriquecer-me com uma lição de humildade, que me impressionou até ao espanto. Abonados de fanfarronice, já eu conhecera alguns dirigentes desportivos, com delirantes teimosias, antes e depois do fascismo, mas uma lição de humildade, incessante afirmação de independência e liberdade, é coisa rara! E assim tem sido. Criou um gabinete, liderado, no topo da exemplaridade, pelo Dr. Filipe Pais (acompanhado pelo já citado Nuno Laurentino, pelos excelentes juristas Diogo Nabais e Pedro Carvalho e pelas doutoras em Motricidade Humana, Diana Santos e Vera Simões) – um gabinete que sabe resistir corajosamente, com o inestimável apoio técnico do IPDJ, ao desamor de certas pessoas, sempre de catilinária pronta para criticar o atual Secretário de Estado do Desporto, que trabalha muito e fala pouco e portanto nunca o ouvi jactar-se dos êxitos do nosso desporto, sob a sua responsabilidade governamental. E poderia fazê-lo, mesmo sem blasonar do que se está a fazer e projeta realizar. À recente Resolução do Conselho de Ministros, que autoriza o lançamento do Fundo de Apoio para a Recuperação da Atividade Física e Desportiva, cabe aqui uma nota de aplauso, pois que esta Resolução, de indiscutível oportunidade, tem proposta que o Dr. João Paulo Rebelo assinou e sublinhou os motivos de realce.

Muito mais aqui poderia lembrar, “inter allia”: o Diploma dos Direitos Televisivos; a prevenção e o combate à violência no desporto; a constituição de unidades de apoio ao alto rendimento, que abrange 700 atletas de 19 escolas secundárias, em 40 modalidades desportivas; e a equiparação (um marco na história do nosso desporto) dos atletas paralímpicos aos atletas olímpicos. E ao progresso que o nosso desporto de alto rendimento apresenta também não é estranha, com toda a certeza, a diligência (isto é, o trabalho com amor) do atual Secretário de Estado do Desporto e Juventude. O seu trabalho e o seu comportamento sem mácula constituem o mais repetido e eficaz libelo contra os que silenciam ou deturpam uma liderança a que não falta a chancela do talento. A sua humildade confronta-se, necessariamente, com os que são tão pequenos que nunca vêem a grandeza dos outros. Calmo, prudente, reflexivo, ponderado, silencioso, o Dr. João Paulo Rebelo aborda sem esforço todas as questões que se apresentam ao seu exame e, porque governar é cada vez menos improvisar, a eficiência do que tem feito (a que ele, pela sua modéstia, não dá o relevo merecido) revela uma independência de espírito, um rigor no método, uma cultura desportiva que me surpreendem, principalmente em quem, há quatro anos tão-só, confessava, tranquilamente, que pouco ou nada sabia de Desporto.

Dominar, na mesma extensão e profundidade, diferentes problemas, às vezes com nota de urgência e sempre em condições precárias de tempo, constituem documento de sólida formação e de mentalidade forte e original. Estou a escutar o pequenino vento da perfídia das palavras de certos críticos: “Este quer tacho”. Aos 88 anos de idade, o único “tacho” que eu pretendo não passa de um pouco mais de Saúde e de Paz. O país é geograficamente pequeno e moralmente hostil, mas há sempre lugar para uma flor que desabroche mais forte. Neste artigo, de facto, há uma flor que eu não deixo nunca de cultivar e feita de um misto de estima e de admiração! Estima e admiração pelo Dr. João Paulo Rebelo, Secretário de Estado do Desporto e Juventude! Nada mais!    

Manuel Sérgio é professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor para a Ética no Desporto