Relatório Vitória de Guimarães vs Mlada Boleslav novembro 2024

Nuno Travassos, editor executivo, analisa mais um triunfo europeu da equipa de Rui Borges

Vitória, Vitória, se era preciso sofrer assim (crónica)

Nove triunfos seguidos na Europa

O Vitória é de Guimarães e quem ganha é Portugal. Os nove triunfos consecutivos do clube vimaranense nesta campanha são recorde nacional na Europa e ajuda preciosa a um país, leia-se Liga, necessitada de pontos num ranking UEFA que define muita coisa, dinheiro incluído.

Essa é, afinal, a grande notícia de ontem no D. Afonso Henriques, onde houve uma pequena revolução. E estas, independentemente do tamanho, trazem sempre consigo algum sofrimento, nesta ocasião provocado por culpa própria de quem mandava em casa.

O jogo decorria no relvado, mas era fora dele que estava a melhor imagem para aquilo que se passava no D. Afonso Henriques. Rui Borges era um homem agitado na linha lateral. O treinador dos vimaranenses passou muito tempo a gritar para dentro do campo e por aí se explicava que o Vitória estava aquém do que o treinador tinha idealizado, com as seis mudanças no onze inicial, em relação ao jogo anterior.

As opções do técnico para o onze inicial não explicavam tudo. O Mladá Boleslav tentou equilibrar jogo, com uma linha de três na defesa e a povoar o meio-campo. O Vitória teve dificuldades em quebrar linhas contrárias e, por isso, tentou ir à volta: abrir bola nos flancos, para que Kaio César de um lado e Arcanjo do outro pudessem colocar habilidade no jogo e desequilibrar.

Os vimaranenses tentaram pressionar em 4x4x2, com João Mendes, o da camisola 17, a subir no terreno e a deixar a linha de meio-campo entregue aos Silvas, Tiago e Manu. Foi percetível que Rui Borges queria melhorar as coisas desde a linha lateral, e, enquanto o Vitória rematava sem grande perigo à baliza de Kral – Arcanjo, Kaio César e Ramirez tentaram entre os 14 e os 29 minutos – os checos pouco respondiam. O remate à trave de Tiago Silva e a cabeçada de Krali a obrigar Bruno Varela a defesa apertada deram alerta de golo num jogo em que isso parecia ainda longe de suceder. Mas aconteceu, graças a uma penalidade cometida sobre Kaio César e convertida por Tiago Silva. O médio foi, mais uma vez, perfeito na execução e ao intervalo podia sublinhar-se: o Vitória demorou a desequilibrar, mas quando chegou ao golo já estava em controlo e, assim, o 1-0 justificava-se. 

E mesmo que alguém duvidasse da ideia anterior, o início do segundo tempo tratou de as desfazer. Os vimaranenses entraram bem, Ramirez podia ter feito o 2-0 e enquanto os checos não desistiam de tentar qualquer coisa e lançavam um ponta de lança para a lide, o Vitória confirmava que não era apenas no papel que era superior.

Ainda que longe de uma exibição para a lembrança, a equipa estava segura do que fazia e o 2-0 de Rivas foi a lógica do que sucedia no duelo de forças. O nono triunfo pareceu garantido ali, mas a complacência por vezes surge quando as coisas parecem feitas. Claramente não só não estavam, como o Vitória iria sofrer: um golo numa distração difícil de aceitar, mas também nos nervos, pois o Mladá Boleslav acreditou que podia garantir o primeiro ponto na Liga Conferência e atirou-se com o que tinha à baliza de Bruno Varela. Aos 81 minutos, esteve mesmo perto de empatar.

Rui Borges foi ao banco buscar alguns nomes – Nélson Oliveira e Gustavo Silva – para que o Vitória voltasse a ver a baliza de Kral e o 3-1 esteve perto, num jogo com sofrimento a mais para o que se antevia, ainda para mais autoinfligido, e um alerta para que a mínima distração pode redundar em dissabor, seja nesta Europa de sonho que o Vitória está a fazer, seja numa outra noite ou tarde qualquer.De resto, nove jogos europeus seguidos a vencer. Não é para todos, pois não, em Portugal é só mesmo para o Vitória.