Apresentação de José Mourinho no Benfica
Treinador vai suceder a Bruno Lage, regressando ao comando das águias 25 anos depois

A conferência de apresentação terminou com a foto da praxe e um cachecol especial alusivo à frase proferida por Mourinho à chegada a Portugal.

— Dado o período de eleições e o próprio projeto Benfica District, a contratação de José Mourinho surge para colocar o Benfica noutro patamar que não ocupa há algum tempo?

—Queremos sempre que o clube evolua em todas as áreas. José Mourinho não tem a ver com o projeto do estádio, tem a ver com a dimensão do que somos, queremos treinadores e jogadores ao nível do clube. Estamos muito orgulhosos desta contratação também por isso, o mister já explicou quer, um dos melhores treinadores do mundo, é obvio que isso tem a sua importância. Já agora, sobre uma coisa que foi muito questionada aqui sobre se este era o melhor contexto para vir para o Benfica, por causa das eleições: até a decisão do mister Mourinho mostra a capacidade que tem para aguentar um momento como este. Até para o Benfica Esta decisão também englobou isso, ter um treinador pela experência que tem pode aliar de tudo o que vai acontecer no próximo mês e focar-se nos objetivos do clube que até agora estão intactos, que é conquistar tudo a nível nacional e fazer a prova europeia que pretendemos fazer. O risco grande da época era trazer um treinador sem esta experiência, qualidade e qualidade, que chegasse ao Benfica num período que está a ser como está a ser e que não tivesse a bagagem para aguentar uma situação dessas. Perdíamos uma época quando ela ainda está no início. Tudo isto foi fundamental para a escolha tendo em conta o perfil que escolhemos. Resta-me agradecer uma pessoa desta dimensão que aceita este desafio, está preparado, tem todas as condições e vai focar-se unicamente nos objetivos do clube. O resto são outros quinhentos.

Águias usaram frase dita pelo treinador na véspera
Rui Costa defende currículo do técnico

— Trabalhou com Jorge Jesus, Nélson Veríssimo, Roger Schmidt, Bruno Lage. Disse, no final da última época, que Bruno Lage foi o menos culpado do que aconteceu, mas o que é certo é que a pouco mais de um mês das eleições troca de treinador e chega José Mourinho. Estas trocas não colocam demasiada responsabilidade nos treinadores? Colocando-se na pele dos adeptos, pensaria que a culpa é só dos treinadores ou está mais acima?
— Nunca deixei de assumir as minhas responsabilidades. Serei sempre o primeiro responsável, independentemente do treinador ter ou não sucesso, porque quem escolhe sou eu. A primeira responsabilidade é minha. Estou grato aos treinadores que trabalharam no Benfica no meu mandato. Mas é a vida no futebol. Infelizmente, sobretudo em países como os nossos, latinos, nos quais o futebol é vivido com esta intensidade, nem sempre se consegue fazer projetos a longo prazo ou ter projetos a longo prazo. Roger Schmidt foi o meu primeiro treinador, foi campeão, ganhou a Supertaça e no ano seguinte não teve o sucesso que esperávamos. Bruno Lage entrou com a época em andamento. Procuro dar continuidade aos treinadores até chegar ao momento em que entendemos que alguma coisa não está a funcionar e temos de mudar. Infelizmente, e digo-o muito honestamente, faz parte da vida do futebol. Com certeza, eu ou o Benfica não são os únicos a ter de mudar de treinador no início, meio ou fim da época. Neste momento, é José Mourinho que está ao serviço da equipa e, naturalmente, espero que se chegue a um momento, como o mister disse, em que tenha de haver uma renovação e não rescisão do contrato. Esse é o objetivo de quem se sente ao lado de um presidente para trabalhar numa equipa de futebol. Nem sempre é possível, mas são coisas, infelizmente, inevitáveis e fazem parte do futebol.

Ainda questões para Rui Costa, presidente do Benfica.

Qual o papel de Mário Branco, diretor-geral que já trabalhou com Mourinho? Comente também o timing para o arranque da sua campanha eleitoral? 

— «Estou aqui enquanto presidente e não enquanto candidato a presidente nas eleições do Benfica.  Mas ainda assim, para esclarecer, a minha ida a Paredes [esta sexta-feira, o candidato tem arranque de campanha marcada com uma visita à casa do clube em Paredes] já estava estipulada até bem antes do jogo com o Qarabag. Se tivesse alguma intenção de juntar uma coisa com a outra [o arranque da campanha e o anúncio de Mourinho] se calhar nem seria a melhor semana para isso, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Aconteceu o que aconteceu na terça-feira, tivemos de tomar uma decisão, entrámos em contacto com José Mourinho para o ter hoje aqui, já para dar o treino e ir de encontrei ao que pedi e desejei, que no próximo jogo já tivéssemos um novo treinador à frente da equipa. Em relação a Mário Branco, e a toda a estrutura, a responsabilidade das decisões são minhas, mas toda a estrutura do futebol participa nessas decisões, é por isso que eles cá estão. É uma vantagem que José Mourinho e do diretor-geral já tenham trabalhado juntos, mas, honestamente, quando se pensa em José Mourinho não é absolutamente necessário que haja uma pessoa que já tenha trabalhado com ele. Estamos a fazer de um dos treinadores mais conceituados a nível mundial, a escolha não é assim tão difícil. »  

Mourinho voltou a responder a uma pergunta

-Qual é a sua opinião relativamente a este regresso 25 anos depois de tudo o que se passou na primeira passagem e pelo facto do sucessor de Vale e Azevedo [Manuel Vilarinho] ter tido um discurso um pouco deselegante consigo na época. Já disse que se quer afastar dos sentimentos, mas este sentimento pré-eleitoral mexe um bocadinho consigo? Teme que ter algo parecido que possa voltar a acontecer? 

-Não, não, não penso nisso, não penso nisso. Penso na missão, na responsabilidade da missão, em servir. Quando pensas em servir, dás mais do que aquilo que recebes. Preocupas-te sempre em dar e não em receber. Eu estou nesse momento, não penso que tenha uma dívida com o Benfica pelo fato de o Benfica me ter dado a oportunidade de ser treinador do Benfica, não penso que tenha uma dívida, porque senão podia pensar o oposto. Não penso em nada. Como eu digo, é fácil bloquear qualquer coisa que aconteceu há 25 anos atrás.  Estou extremamente focado na missão e neste momento só pode haver a unica preocupação: preciso de treinar e o tempo está a passar. 

Presidente do Benfica fala de nova mudança no comando técnico
Galeria de imagens 10 Fotos
Rui Costa questionado sobre o papel do diretor-geral na contratação do técnico, com o qual tinha trabalhado no Fenerbahçe
Rui Costa fala da cláusula que permite que Mourinho fique só até final da temporada

— Há alguma cláusula que proteja o próximo presidente do Benfica, que pode não querer José Mourinho? Equacionou ter um treinador interino até às eleições?
— O mister acabou por explicar a parte do contrato. Aproveito também para agradecer ao mister, até porque não são cláusulas vulgares, por perceber o momento do Benfica e inserir-se neste momento desta forma. Há uma cláusula no final da temporada que deixa a possibilidade a quem estiver a liderar o clube de tomar a decisão de continuar ou não com o treinador. Mas estamos a contratar um treinador que não é indiferente a nível mundial. A decisão de trazê-lo para o Benfica visa defender toda a gente. Estamos a falar de um dos nomes mais conceituados da história do futebol mundial. Não estamos a apresentar um treinador qualquer e um treinador que possa condicionar o futuro do Benfica. Estamos a assegurar o futuro com um treinador de excelência.

Rui Costa respondeu, a encerrar a conferência no Seixal, às perguntas dos jornalistas

José Mourinho acaba por ser um trunfo eleitoral?
— «Tenho ouvido muito isso... partimos do princípio de que estou aqui hoje enquanto presidente do Benfica. E enquanto presidente do Benfica estou a escolher um treinador para o futuro do Benfica. Já o disse, depois das perguntas a seguir ao jogo com o Qarabag, em que da vossa parte já se sentia que José Mourinho poderia vir para o Benfica, e faz-me um bocadinho confusão que se fala nesses termos... José Mourinho até explicou como foi feito o contrato. Mas independentemente de como foi feito o contrato, a minha responsabilidade é a de assegurar aquilo que for melhor para o futuro do Benfica em qualquer circunstância. Irresponsabilidade seria a um mês das eleições, acabados de despedir um treinador, ficar sem treinador até às eleições. Era isso que significaria não estar a pensar em eleições? Não consigo entender a razão daquilo que se tem dito. José Mourinho é treinador do Benfica porque é o José Mourinho, porque é o treinador que nós consideramos que tem todos os pergaminhos para estar à frente de uma equipa e de um clube da nossa dimensão. Essa foi a única visão que poderíamos ter neste momento, porque considerámos que tínhamos de alterar a equipa técnica e não iria, nunca na vida, não me preocupar em escolher um treinador que entendemos ser capaz e ter o espírito necessário para um treinar um clube desta dimensão. Seria uma grande irresponsabilidade, enquanto presidente do Benfica não agir assim, e não enquanto candidato. Hoje estou aqui na qualidade de presidente do Benfica.»   

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— Alguns adeptos acusam-no de ser agora um treinador mais defensivo. Pode prometer um futebol atrativo e ofensivo?

— Com bola temos de atacar com 11 e manter alguns equilíbrios. Sem bola temos de defender com 11 e morder muito. O Benfica, nos últimos jogos, mordeu pouco.

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Nova pergunta a José Mourinho

— Esteve no Dragão há pouco tempo e foi muito aplaudido. Voltará lá a 5 de outubro. Que receção espera?
— Estou à espera de uma receção diferente. A que tiveram foi normal, sou um treinador histórico no clube, as pessoas reconhecem-no, não ia ao Dragão há sensivelmente 20 anos. A receção foi normal. Regressar como o treinador do grande rival, sabendo que o objetivo não é desfrutar de uma visita mas ganhar o jogo, obviamente espero uma receção diferente. O respeito que tenho por eles e o respeito que eles têm por mim não vai mudar. Mas volto como treinador do grande rival e, obviamente, não há muita volta a dar. Mas não tenho qualquer problema.

Rui Costa também responde às perguntas dos jornalistas presentes no Benfica Campus

-Foi fácil contratar José Mourinho, o treinador com mais currículo que alguma vez trabalhou em Portugal?

- Bom, fácil nunca é contratar um treinador desta envergadura, mas foi para mim um privilégio enorme perceber que o mister Mourinho tinha vontade de regressar deu-me ainda mais força e apoio para achar que estávamos com a pessoa certa no momento certo e ficávamos muito honrados de facto de perceber que um treinador com este prestígio queria treinar-nos bem. Isso facilitou evidentemente a escolha e a decisão final e acabou por ser um processo também mais rápido. Havia a vontade do Benfica e houve uma imediata vontade do mister José Mourinho de treinar este clube e portanto também por esse facto conseguimos estar hoje aqui de forma, como isto ajudou-nos ainda a estar.

Como vai bloquear o ruído que vem de fora, em período eleitoral? Sobretudo com um calendário desportivo tão preenchido? E que palavras diria ao José Mourinho de há 25 anos? Como acha que ele iria reagir?
— «Diria: fizeste tudo bem. Da maneira como a minha carreira se tem processado, acho que fiz tudo bem. Obviamente que não fiz tudo bem, fiz muita borrada, tomei muitas decisões erradas, mas acho que as coisas correram-me bem. Relativamente ao ruído, ruído mediático, sou muito forte a não o sentir, porque me protejo muito. Não sou um maníaco daquilo que dizem sobre mim, sobre a minha equipa, tento passar ao lado. Não desrespeitando o trabalho dos media, é uma proteção minha, não ter tempo, nem condições para estar preocupado com coisas que são exteriores àquilo que posso controlar. Aquele que de vós me elogiar tremendamente, não vai mudar a minha vida. O que me criticar tremendamente, também não a vai mudar. Talvez pelo facto de treinar clubes muito grandes e com influência mediática, habituei-me a bloquear e a passar um bocadinho ao lado. Acabei de conhecer os nossos responsáveis pela Comunicação Social e eles podem dizer-vos que uma das primeiras coisas que lhes pedi foi que só quero saber as coisas fundamentais. Não preciso de breafings diários, não preciso de grandes detalhes. Preciso só de saber pontos-chave, em dias-chave.» 

— Quando puder meter os dedos todos na equipa, vai jogar com quatro defesas ou com linha de três centrais?
— No meu clube anterior, as coisas foram fáceis. Queria jogar a quatro, mas o clube contratou cinco jogadores no dia seginte à minha saída. Enquanto lá estive era impossível jogar com quatro defesas quando a equipa tinha sete centrais. E só um ala. Adapto-me muito ao que existe. Elogiei o plantel do Benfica e voltarei a fazê-lo. Se me perguntar se tentei jogar com as palavras e emoções, retirar pressão à minha equipa e pôr essa pressão, obviamente que sim. Mas não retiro nenhuma palavra ao que disse na altura, que o Benfica tinha feito um ótimo trabalho no mercado, dotado a equipa de potencial que, se calhar, não tinha na época passada. Como dizia ontem, estou melhor mas não sou propriamente um grande exemplo de fair play, quando perco mordo os dedos, não foi com grande facilidade que me saiu os parabéns ao Benfica, ao Bruno [Lage], o Benfica mereceu tudo isso, reconheço o que aconteceu. O Benfica tem um bom plantel, tem bons jogadores, tinha um bom treinador, mas a nossa vida é assim. Aproveita a oportunidade para dizer que precisamos de fazer um luto quando o nosso trabalho é intrrompido, seguramente o Bruno sofre neste momento, como sofri há um mês, mas a nossa vida é assim e desejo-lhe as melhores felicidade.

—Quando chegou ao FC Porto em 2002 prometeu ser campeão? Pode prometer o mesmo?

— Quando na altura eu prometi e cumpri, podia ter prometido e não cumprido. São fases de um homem de 60 anos ou de um homem de 40. Neste momento, aquilo que eu prometo é que penso e penso verdadeiramente que o Benfica tem todas as condições para ganhar o campeonato. Temos dois pontos perdidos. Seguramente iremos perder mais ao longo do campeonato. Espero que não, O Benfica tem potencial suficiente, dentro daquele balneário, para ser campeão. E eu não me escondo. A promessa [de ser campeão] não [faço], mas a convicção de que podemos e devemos sim.

Declarações do novo treinador das águias na apresentação oficial

Acha que este é o contexto ideal para voltar? 
— «O contexto ideal para mim é voltar a treinar uma das melhores equipas do mundo. A minha carreira até agora foi rica, treinei nos maiores clubes do mundo, em diferentes países. Tive uma opção errada, falta-me às vezes a palavra em português... no regreats [sem arrependimentos], porque o regreats na vida não nos ajuda em nada, mas a consciência do que fizemos bem e mal existe. Fiz mal em ir para o Fenerbahçe, não era o meu nível cultural, não era o meu nível enquanto futebol, não era. Obviamente que dei tudo até ao último dia, obviamente que tive de fazer o meu luto, como o Bruno [Lage] está a fazer agora, porque ninguém gosta de sair, mas treinar o Benfica é regressar ao meu nível e o meu nível é treinar os maiores clubes do mundo.»

Novo treinador está «satisfeito» com a «ética» do vínculo ao clube, que está a pouco mais de um mês das eleições

— O que ainda tem de há 25 anos no José Mourinho de hoje?
— O que não mudou, em absoluto, é que estou doido para ganhar o próximo jogo. Há 25 anos estava doido para ganhar o jogo, há 20/10 anos estava doido para ganhar, quando joguei contra o Benfica estava dois para ganhar e agora estou doido para ganhar ao Aves SAD. Sou eu. Essa é a minha essência. O que é diferente? Tenho mais maturidade, praticamente tudo no futebol passa a ser um déjà vu, é muito difícil acontecer alguma coisa com que não me tenha deparado, venho para um clube com uma estrutura humana e profissional de altíssimo nível. As pessoas que trago comigo são ótimas.

-Porque é que disse que este é o principal desafio e o que mais o responsabiliza? Está também ligado ao facto de estarmos em eleições daqui a 40 dia? Isso mexe um bocadinho consigo? O que é que nos pode dizer sobre o contrato que assinou?

-É um contrato com uma grande ética por trás. Eu só o assinei, não fui eu que o elaborei. Foi, obviamente, elaborado pela direção do Benfica, com o presidente [Rui Costa] e com os meus representantes. Obviamente que só assino aquilo que me agrada, aquilo ao qual concordo. Mas acho que tem um conceito ético tremendo. Acho que tem da parte do clube um respeito enorme pelas eleições e pelos outros e outros consócios que vão concorrer à presidência do clube. E acho que isso é de levar. A mim, sinceramente, sensibilizou-me o contrato ser direcionado a essa ética, dá uma ampla liberdade ou uma facilidade que em condições normais não existiria. O contrato está feito de um modo muito ético. Obviamente quero trabalhar no Benfica mas quero que as pessoas confiem em mim, quero que as pessoas estejam no mesmo barco que eu, é fundamental que isso aconteça. Se você me perguntar qual é o meu desejo, o meu desejo é cumprir os dois anos do contrato que eu tenho com o Benfica e cumpri-los com êxito. Que o êxito permita que o clube, depois ou antes, do final do contrato queira renovar comigo. Porque o meu objectivo é ser bem sucedido e como eu já disse anteriormente, no Benfica, principalmente a nível nacional, ter êxito é ganhar competições.

José Mourinho é o novo treinador das águias e fala do regresso a uma casa que já conhece, assim como do fim da carreira
José Mourinho diz que «na cabeça de algumas pessoas« tem dois currículos

Existiu sempre uma angústia por ter saído do Benfica como saiu, na primeira vez? 
— «Honestamente, tento bloquear esses sentimentos e acho que é importante que o consiga fazer.  São duas fases completamente diferentes, não apenas da minha carreira, mas também da minha vida como homem. Era o início de uma carreira, e hoje estou num momento de grande maturidade e objetivamente digo que se alguém está à espera que eu acabe a minha carreira daqui a quatro ou cinco anos vai enganar-se, vou ser eu que vou decidir quando vou acabar e vou acabar quando sentir que não tenho a mesma paixão por isto. O presidente sabe que é verdade... eu queria vir ontem à noite, estar aqui ontem à noite, queria estar com os analistas, com os assistentes, só foi possível vir hoje por volta do meio-dia, portanto, só vou acabar quando sentir que alguma coisa mudou. E hoje estou a sentir que aquilo que mudou é que hoje tenho mais fome, do que tinha há 25 anos, numa fase completamente diferente, do ponto de vista humano, se calhar hoje as coisas não teriam sido como há 25 anos. Hoje penso muito mais nos outros, quem é o meu clube, os jogadores, quem dirige o clube, uma série de coisas em que venho muito depois; eu sou o último da fila e estou aqui para servir, estou num momento completamente diferente, até na maturidade que me levam a tomar uma série de decisões. Estou muito feliz por estar aqui, com uma enorme responsabilidade, mas sinto-me mais vivo do que nunca. Tenho pena que o jogo seja já daqui a dois dias, não tenho tempo para trabalhar muito, mas ao mesmo tempo é bom porque estou desejoso que isso aconteça. Tenho paixão por isto, e isto é muita coisa junta, e quero muito. Seguramente, vocês têm alguma pergunta mais difícil para me fazer, escondida, como por exemplo se sinto que são todos os benfiquistas que estão felizes por estar aqui, se essa pergunta chegasse, antecipo já: acho que não. Acho que não. Quem é tem o poder de ter toda a gente do seu lado, a favor, que admira, acho que ninguém. De modo algum me sinto dessa maneira, mas tenho a responsabilidade e a motivação de conseguir fazer coisas boas. E fazer coisas boas no Benfica sabemos o que é. Principalmente a nível nacional, é conquistar títulos.» 

Presidente do Benfica destaca currículo de José Mourinho
As primeiras palavras de José Mourinho como treinador do Benfica

— Como vai pôr o Benfica a vencer?
— Na cabeça de algumas pessoas tenho dois currículos — um que durou um certo período e outro que é, digamos, uma fase menos feliz da carreira. A minha infelicidade é que nos últimos cinco anos joguei duas finais europeias. A parte negativa da minha carreira, a parte dramática da minha carreira são duas finais europeias nos últimos cinco anos. Mas não sou importante. Venho para o Benfica numa fasa da minha carreira e como pessoa... transdormamo-nos para melhor. Sou mais altruista, menos egocêntrico, penso menos em mim e no bem que posso fazer aos outros, na alegria que posso dar aos outros. Eu não sou o importante, o Benfica é importante, os adeptos do Benfica são importantes, são o coração de qualquer clube e no Benfica ainda de maneira mais especial, os jogadores são importantes. Estou aqui para servir, fazer o Benfica ganhar. Ganhar é o ADN do Benfica. Revejo-me muito na cultura, no perfil, no que é o povo que ama o futebol, que quer ganhar e sentir-se parte do esforço, da mentalidade, do sacrifício. Nós, treinadores e jogadores, somos privilegiados, mas, em 90 minutos, representamos toda aquela gente. É com este sentimento que sempre entrei em campo. Tenho respeito enorme pela profissão e pelos adeptos, são todos os que me fizeram sentir desconfortável. Fui acompanhado por motas com câmaras de televisões, as pessoas percebiam onde estava e o benfiquismo saltava à estrada. Isso para mim arrepia-me, faz-me pele de galinha, 25 anos de futebol ao mais alto nível não me tornaram imune a tudo isto. O que vou fazer para ganhar? Começar por aí. Queremos ganhar sempre, não podemos perder como perdemos há dois dias, não é Benfica. Benfica é quem jogou contra o Fenerbahçe durante 30 minutos, quem teve em Istambul em dificuldades com menos um jogador, levou a nau a um bom porto e tirou um resultado positivo. É esse o Benfica no qual me revejo, com o qual cresci. Ganha muitas vezes. Quando não ganha, perde de maneira a que as pessoas sintam que perderam com ele. Muito parte disso. Tenho jogo dentro de 48 horas e vou encontrar uma equipa em que metade dos jogadores estão no segundo dia de recuperação. Tenho de metr o meu dedo muito ao de leve. Não posso mudar ou radicalizar. Não posso meter os dedos todos e e querer mudar tudo ao mesmo tempo. Tem de ser com calma. Tem de se começar pelo perfil emocional. Temos de entrar em campo a saber que não somos só 11, que somos muitos milhões e pensar neles. Do ponto de vista tático vou meter o dedinho, mas muito controlado, não quero desvirtuar uma essência, nem sou capaz de mudar muita coisa. E, com toda a honestidade, muita coisa foi bem feita pelo meu antecessor.

José Mourinho já fala à Benfica

José Mourinho começou por fazer uma intervenção sem pergunta.
— «Tenho tantas emoções, mas acho que a experiência me ajuda a controlá-las. Quero agradecer a confiança, a honra que sinto neste momento. Sendo português... não há um único que não conheça a história, a cultura, a dimensão da nação benfiquista e deste clube. Quero deixar uma coisa absolutamente clara: tenho de ser capaz de bloquear todas estas emoções e olhar para o Spor Lisboa e Benfica e para este meu trabalho, minha responsabilidade, de um modo muito simplista. Sou o treinador de um dos maiores clubes do mundo. Quero concentrar-me e fechar-me nesta missão, centrar-me, não diria dificuldade, mas neste prazer, sob o ponto de vista do trabalho de um treinador, ficar-me em algo verdadeiramente apaixonante. São 25 anos, mas não venho para celebrar a carreira, são 25 anos em que tive oportunidade de trabalhar nos maiores clubes do mundo, e para finalizar esta intervenção, como representante deste clube, dizer que nenhum dos outros gigantes clubes que tive oportunidade de treinar me fez sentir mais honrado, responsabilizado, motivado do que ser o treinador do Benfica. Palavras o vento por vezes leva-as, as atitudes não, e a promessa é muito clara, vou viver para o Benfica, para a minha missão. Saí de casa e disse ‘até domingo’... É uma honra tremenda, que a minha experiência me ajuda a controlar. Agradecia que isto seja curto, que daqui a 48 horas temos jogo e para a nação benfiquista não há nada mais importante que este jogo daqui a mais ou menos 48 horas.» 

As águias informaram, em comunicado enviado à CMVM, que chegou a acordo com José Mourinho para a celebração de um contrato válido por duas épocas que pode ser cessado tanto pelo treinador como o clube dez dias após o término da presente temporada

«Como disse depois do jogo da Champions, era nosso desejo que no próximo jogo tivessemos treinador. É por isso que aqui estamos. É para nós um grande orgulho. José Mourinho dispensa apresentações. É um grande orgulho e grande honra fazê-lo regressar a casa que bem conhece, curiosamente 25 anos depois, um dos treinadores mais concentuados a nível mundial. E que vem ao encontro do perfil de que falei depois do jogo da Champions — ganhador, com currículo ganhador. Dificilmente encontraríamos alguém com currículo mais vasto. Mister, as maiores felicidades, nesta etapa da carreira, que seja tão feliz nesta casa como foi noutras, que tenha a capacidade, obviamente, de desenvolver o trabalho que desenvolveu na carreira. É uma honra, um privilégio e um orgulho ter José Mourinho como treinador do Benfica», começou por dizer Rui Costa.

José Mourinho já se encontra na sala de imprensa do Benfica Campus, acompanhado de Rui Costa e de Pedro Pinto, diretor de comunicação dos encarnados

Vai falar, em primeiro lugar, Rui Costa.

O grupo de oito elementos da estrutura encarnada presentes na sala de imprensa inclui Nuno Catarino, CFO e vice-presidente do Conselho de Administração da SAD, Nuno Costa, chefe do gabinete de Rui Costa, Mário Branco, diretor-geral do futebol e Simão Sabrosa, diretor-técnico e Joaquim Milheiro, coordenador da formação

A apresentação de José Mourinho terá início nos próximos minutos

O ecrã da sala de imprensa do Benfica Campus já alude ao novo treinador encarnado, mas as cadeiras à sua frente ainda estão vazias

Conferência de Imprensa está atrasada, mas já há referências a José Mourinho no palco.

15 jornalistas, 14 repórteres de imagem e sete fotógrafos estão presentes na sala de imprensa do Benfica Campus. Os números refletem a dimensão do regresso de José Mourinho ao comando técnico de um clube luso, 21 anos depois de ter abandonado o FC Porto.

A apresentação de José Mourinho vai ser às 15:00, no Benfica Campus.

Empresário já está no Benfica Campus, no Seixal
Treinador chegou depois de Rui Costa

Boa tarde! Vamos acompanhar a apresentação oficial de José Mourinho como novo treinador do Benfica. Fique connosco!