Onde fica Rúben Amorim?
Rúben Amorim (Foto Imago)

Onde fica Rúben Amorim?

OPINIÃO13.04.202401:00

O Sporting ganhou títulos com o treinador, o futebol português poderia ganhar muito mais

O Sporting demonstrou força de campeão em Barcelos, passou mais um obstáculo rumo ao título e está sólido que nem uma rocha. Nada faz prever que o Sporting tenha uma fase como aquela que o Benfica experimentou na época passada com as derrotas no Dragão e Chaves, mas como certamente qualquer pessoa atenta ao fenómeno desportivo sabe, nada é garantido até as contas serem fechadas.

É sabido, também, que o Sporting teve momentos cruciais no seu passado em que esteve perto da glória e falhou redondamente. Um receio que afetará sobretudo adeptos, mas que não atinge Amorim, até porque o passado do líder técnico não foi feito de verde e branco. Caso seja campeão de novo, Rúben Amorim ficará logo na história. Há muitas décadas, que um mesmo técnico não vence dois campeonatos pelo clube. É preciso mesmo ir até à década de 1950 (Randolph Galloway) para encontrar um treinador que tenha vencido dois títulos de campeão (Otto Glória, que já tinha sido campeão, fez um jogo na época 1961/62, e depois Juca assumiu).

Mas há mais: os registos desta equipa de Amorim são do melhor que o leão fez em toda a história no que toca a golos – é preciso ir ao tempo dos Cinco Violinos para ver-se tanta produtividade.

Amorim, porém, vai para além da estatística. O treinador leonino já se portou mal (assumido pelo próprio), mas sempre falou bem. E aqui importa não só o que se diz, é igualmente tão importante aquilo que se evita, o que fica no silêncio: estou mesmo a falar de arbitragens, pois o técnico nunca caiu daí abaixo (lá haverá alguém a lembrar-me de uma qualquer declaração...).

Amorim explica porque não fala de arbitragem

O Sporting ganhou títulos (e pode vencer outro) com Amorim, o futebol português ganhou pelo menos uma lição. Porque o discurso de Amorim foi sempre de normalização das coisas, não viver com fantasmas futebolísticos, em que tudo tem de ser bem medido, pois reina a desconfiança e qualquer ideia pode fazer arder um clube com a rapidez que uma cabeça de um fósforo se esgota.

Sempre argumentei que o século XXI do campeonato português está marcado por dois treinadores: José Mourinho e Jorge Jesus. Não estou a comparar currículos, porque o de Mourinho é mais rico; estou a falar de influência e, aí, não tenho dúvidas que Jorge Jesus marcou uma tendência de jogo e influenciou outros técnicos, inclusive quando perdeu.

É prematuro dizer que Rúben Amorim caminhará ao lado de Mourinho e JJ, porque por um lado tem um estilo de jogo muito próprio e, apesar de feitos históricos nos leões, não tem o CV do Special One. E, já agora, será prematuro também porque duvido que muitos o sigam na ideia de que o comportamento erróneo na linha lateral, não tem de ter uma desculpa esfarrapada na sala de imprensa. Não sei onde fica Amorim, mas para onde for, pode ser-lhe fundamental manter esse class act, um termo inglês que serve apenas para demonstrar honestidade.