«Mágoa por não ter sido porta-estandarte em Tóquio jamais irá passar»
Emanuel Silva viveu em Tóquio a quinta presença em Jogos Olímpicos (Miguel Nunes)

ENTREVISTA A BOLA «Mágoa por não ter sido porta-estandarte em Tóquio jamais irá passar»

MODALIDADES26.04.202409:45

Emanuel Silva lamenta o sonho que ficou por cumprir e que sentia merecer ter vivido

Já se passaram quase três anos, mas Emanuel Silva admite que a dor por não ter tido a oportunidade de cumprir o sonho de ser porta-estandarte de Portugal nums Jogos Olímpicos continua a atormentá-lo. O canoísta que esta semana encerrou a carreira diz que essa mágoa vai acompanhá-lo sempre.

- A mágoa por não ter sido porta-estandarte em Tóquio já passou?

- Essa não. Jamais irá passar. Tudo aquilo que eu perspetivava, aconteceu. Eu pensei mesmo que ia ser o porta-estandarte, até pelos resultados, idade, historial - acredito e desejo que agora seja o Fernando [Pimenta]. Mas vai ficar essa mágoa para sempre, sem dúvida. Porque eu sou muito realista e sabia que poderia não conseguir chegar a Paris. O meu momento seria em Tóquio. Jamais serei porta-estandarte. E a única oportunidade que eu iria ter de ser porta-estandarte era em Tóquio. Mas o chefe de missão não entendeu dessa forma.

- Porque custou tanto?

- Porque acho que tinha todo o direito e fazia todo o sentido eu ser porta-estandarte em Tóquio. Eu não tenho nada contra o Nélson [Évora] nem contra a Telma [Monteiro]. Admiro muito ambos. Mas eles já tinham sido porta-estandarte. Repetir não faz de todo sentido. Cada vez que eu vir os Jogos Olímpicos, vou pensar que gostaria de ter sido porta-estandarte numa cerimónia de abertura. É um episódio que ficará marcado para mim.

- Não foi porta-estandarte nos Jogos Olímpicos, mas carregou sempre a bandeira nacional. Qual o legado que sente ter deixado na canoagem e no desporto português?

- O legado foi mesmo de um atleta muito motivado. Alguém que sabia o que queria. Lutava contra tudo e contra todos. Não via nos outros países superioridade, no que quer que seja. Lutava de igual para igual. Fica a ambição, resiliência, vontade de vencer. Acho que ficará marcado dessa forma. Sou e serei sempre um atleta com muita ambição, querer e orgulho em representar Portugal e os portugueses, a lutar sempre pelos lugares de cima e de mostrar ao mundo que Portugal é pequenininho, mas consegue ser muito grande em certos momentos. Nós somos muito grandes. E com tão pouco, conseguimos fazer tanto.

- Foi possível viver só da canoagem?

- Sim, consegui sempre viver da canoagem. Tudo depende do estilo de vida que tenhas, mas eu consegui criar uma boa almofada financeira para investir. Tive pessoas à minha volta que me souberam ajudar para agora ter um alojamento local no Gerês, uma pizzaria em Braga, e a minha vida completamente organizada para o pós-carreira sustentável. É possível, estando no projeto olímpico. Porque se não estás, só se algum clube tiver capacidade para dar um salário mensal para continuar. Eu estive no projeto olímpico desde 2004, saí quase 20 anos depois, em 2023. Com muita cabeça, juízo, e ambição, consegui criar algum património.

- Vai continuar a apostar no alojamento local?

- A prioridade é essa. Eventualmente, aproveitar a nova portaria que permite a atletas olímpicos terem acesso a empregos públicos, por exemplo, nas autarquias locais.

- A ligação ao Sporting também ajudou a que pudesse viver só da canoagem?

- Sim, sem dúvida. O Sporting foi uma mais-valia em todos os aspetos. Tanto no apoio dos sportinguistas, como a nível financeiro. Deu-me mais estabilidade financeira, logo, aumentou-me a estabilidade emocional e isso permitiu focar ainda mais no treino, sem grandes preocupações. O Sporting ajudou-me muito a ser a pessoa que sou, em vários aspetos.