Benfica-Toulouse, 2-1 «Tudo foi mais difícil porque águia sem asas não voa»: a crónica da suada vitória do Benfica
De tanto afunilar o Benfica deixou o Toulouse sair vivo da Luz; Kokçu e João Mário foram cartas fora do baralho; Valeram os 'onze metros'
Uma vitória é uma vitória, mesmo quando arrancada a ferros, em casa, e frente a um adversário manifestamente vulgar. E quando esse triunfo surge mesmo ao cair do pano, ainda é suscetível de desfocar as perspetivas sobre o jogo, porque as últimas impressões são sempre as mais fortes. Mas, para que não fiquem dúvidas, não é a vitória do Benfica que merece qualquer contestação, teve mais oportunidades (aliás o Toulouse apenas fez dois remates enquadrados, um à figura e o outro deu golo), possui valores infinitamente superiores, e dispôs de umas quantas ocasiões para marcar.
O que deixa muitas dúvidas é a forma como os encarnados jogaram, regressando a erros que estão mais do que provados, como sendo o posicionamento de João Mário (que esteve desinspirado, mas não é esse o ponto) da esquerda para o centro, sem dar o mínimo de profundidade à ala, ou agressividade ao momento defensivo, e afunilando sistematicamente o jogo, procurando entrar na área contrária em tabelas, com Arthur ou Rafa, na zona do terreno onde os adversários mais se concentravam; e a insistência em Kokçu ao lado de João Neves, quando toda a gente já percebeu que o internacional turco é muito mais forte quando está perto da grande área contrária, e João Neves, joga ainda mais quando tem as costas protegidas por Florentino.
Se a isto juntarmos um Ángel Di María que já não chega à linha de fundo, e puxa a bola para o pé esquerdo para fazer a magia que ainda lhe resta (e do ponto de vista da qualidade, é um regalo para a vista), temos um Benfica submetido à lei do funil, a desperdiçar sistematicamente a vantagem que a largura no ataque poderia dar-lhe contra equipas vulgares como o Toulouse.
UM RESULTADO 'PREOCUPANTE'
Esta forma de jogar do Benfica, que enfrentou uns franceses que se apresentaram com um sistema-espelho de 4x2x3x1, tentando, aqui e ali, explorar as debilidades defensivas do lado direito dos encarnados, levou a que o guarda-redes do Toulouse não tivesse feito uma defesa ao longo dos primeiros 45 minutos: os dois lances de perigo do Benfica, um por Rafa (38 a beijar a barra) e o outro por João Mário (45+1, ao lado) não precisaram da intervenção de Restes.
Pensou-se, perante o estado da arte, que Roger Schmidt mexesse na equipa ao intervalo, pelo menos trocando João Mário por Neres, mas foi preciso esperar pelo minuto 59 para isso acontecer, assim como a entrada de Bah (também à procura de forma) para a direita e a passagem do pau para toda a obra, Aursnes, para a esquerda. A partir desse momento o Benfica espevitou-se um pouco mais, apesar de David Neres também tender a pisar terrenos interiores. Chegou então o golo (uma mão, após um pontapé de canto, que deu penálti/VAR, justo) e não só o Toulouse tremeu como o Benfica pareceu ir finalmente arrancar para uma exibição mais conseguida.
Aliás, aos 72 minutos, cinco depois do 1-0, os encarnados, através de uma passe genial de Di María para Arthur Cabral, que rematou fortíssimo à meia volta para a defesa da noite de Restes, estiveram perto do segundo golo, que podia abrir as portas a um resultado mais confortável. Porém, como nestas coisas quem não marca, sofre, aos 75 minutos uma paragem coletiva da defesa do Benfica - cada um à espera que o parceiro resolvesse a situação - valeu o golo do empate aos franceses, verdadeiramente caído do céu. Depois disso, Schmidt, sem rasgo, apenas trocou de ponta-de-lança aos 87 minutos e acabou a ganhar o jogo da marca dos onze metros, já no lavar dos cestos...