Renato Paiva: «Rúben Amorim não surpreende no futebol português»
Entre elogios aos futebol de autor de Rúben Amorim, o técnico reforçou o trabalho feito na formação dos clubes e espera um dia treinar em Portugal. Foto: IMAGO

ENTREVISTA A BOLA Renato Paiva: «Rúben Amorim não surpreende no futebol português»

INTERNACIONAL26.04.202411:30

Estando por terras mexicanas, o técnico confessa não ter muito tempo para acompanhar o futebol português, mas não poupa elogios a Rúben Amorim e ao seu «futebol de autor»; sobre um regresso a Portugal, não esconde o desejo... embora o foco seja o Toluca e o treino seguinte

- Estando no México, como é que tem visto o desempenho dos clubes portugueses esta época e em particular do Benfica ?

- Tenho tido muito pouco tempo e acompanho mais os resultados que jogos. Vejo um Benfica que no ano passado jogava a um nível e este ano não tem conseguido manter. Os resultados são um pouco evidentes a isso. Vejo mais os resultados, mais por afinidade e história, gosto de acompanhar. Contudo, tenho de dizer que existe uma coisa que não surpreende no futebol português: Rúben Amorim. Esse não me surpreende. Desde há muito tempo, ainda ele jogava no Benfica e eu estava na formação, ouvia dizer e bastava-me ver um polivalente que jogava em todo o lado, com um conhecimento do jogo extraordinário. Se existe algo que não me surpreende é o Rúben Amorim, porque, para mim, é já um dos melhores treinadores portugueses e aquilo que está a fazer é muito com tão pouco à disposição. Olhas para o Sporting e é uma equipa de autor. Notas que é uma equipa de treinador, não há dúvidas e é fácil de os estudar. Eu tenho-os estudado muito, porque jogava com três centrais no Independiente e queria perceber estes três dele, o trabalho da linha defensiva que é parecido muito ao do Jorge Jesus. Mesmo a linha de três do Leverkusen tu notas que é uma equipa de treinador e isso dá-me um gozo extraordinário quando tu vês que estão ali jogadores que estão híper potenciados pelo trabalho do treinador, e isso é o caso do Rúben Amorim.

- Numa altura em que se vive uma forte expectativa sobre a participação no Euro, considera que a máquina do futebol de formação em Portugal está bem oleada para continuar a produzir talento deste nível por muitos anos? E quais as suas expectativas para o Euro?

- Só irá ser uma realidade. Os clubes estão cada vez mais preparados nas estruturas do futebol de formação, na preparação e desenvolvimento dos jogadores. Cada vez mais os clubes mostram um papel preponderante e a FPF reconhece isso, além de apresentar um trabalho extraordinário no seu futebol de formação. Como um não vive sem o outro, Portugal não sendo um país milionário e sendo um país vendedor, o passo mais inteligente que o futebol português deu nos últimos anos foi olhar para o futebol de formação e investir nele. Seja na logística, nas infraestruturas e nos treinadores/profissionais da formação, esse passo é fundamental para o futebol português. Se vacilarmos vamos ter grandes problemas. Sobre o Euro…a expectativa é ganhar. Não é a única coisa que possa acontecer, pois só ganha um, agora, eu olho para a seleção portuguesa e aquilo que é a ideia de jogo, aquilo que é a qualidade individual e onde jogam os nossos jogadores, e não posso esperar outra coisa que não seja Portugal ganhar. Se não ganhar, não será necessariamente uma frustração e um insucesso, porque existe outras seleções, mas o que eu espero é que Portugal ganhe.

- E um regresso a Portugal para treinar está fora de hipóteses de momento? Ou só regressa com o projeto que considere certo?

- Falar do futuro é uma coisa que me incomoda muito no futebol, porque eu vejo o futebol- e sempre vi assim- a olhar para o futuro com este a ser o treino de amanhã. Eu não sei se a bola vai bater no poste e sair e tu ficas sem emprego ou se a bola vai entrar várias vezes e tu tens um contrato num clube em que não estás à espera. O futebol é tão volátil, incontrolável em muitas coisas, e eu só consigo olhar para este momento, para o feliz que estou, num projeto que eu gosto bastante a todos os níveis, que me permite estar a jogar para ganhar, lutar por títulos com uma massa adepta fenomenal. Sou um profissional que olha para a minha profissão com muita paixão. Obviamente, que gostaria de treinar em Portugal e na Liga portuguesa, já que o fiz tanto tempo em Portugal, é o meu país e já tive hipóteses para o fazer, mas não achei o momento ideal. Acho que um dia vou fazê-lo, porque é um desejo que tenho, mas, neste momento, o foco é no treino de amanhã e o Toluca.

O técnico mostra o desejo que um dia orientar um clube em Portugal, mas vincula que o foco está no Toluca e no treino seguinte. Foto:Toluca