Furacão Everton ameaça Man. City e Chelsea (e não só…)
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Furacão Everton ameaça Man. City e Chelsea (e não só…)

INTERNACIONAL21.11.202317:15

Equipa de Bernardo Silva, Rúben Dias e Matheus Nunes e blues de Londres também arriscam perda de pontos. E há emblemas a ponderar processar o Everton por se sentirem prejudicados pelas violações dos toffees. Caso já chegou ao Parlamento

A decisão de uma comissão independente de retirar 10 pontos ao Everton por violação das regras financeiras da Premier League pode ter ramificações sísmicas com consequências muito para lá de Goodison Park.

Desde logo pelo facto de o presidente da comissão se ter mostrado «satisfeito pelo facto de vários clubes terem potenciais pedidos de compensação» junto do Everton, isto ao mesmo tempo que há o risco real de Manchester City e Chelsea, igualmente sob investigação, virem, também, a perder pontos.

Os blues de Londres estão sob investigação, tanto da Premier League quanto da federação inglesa (FA) por possíveis violações das regras financeiras durante o mandato de Roman Abramovich. E, no início do ano, os citizens de Bernardo Silva, Rúben Dias e Matheus Nunes foram alvo de 115 acusações (sim, 115!) por ilegalidades semelhantes. Ambos os clubes negam os factos que lhes são imputados.

Manchester City, de Bernardo Silva e Rúben Dias, investigado por 115 acusações (Foto Imago)

Certo é que o Everton foi punido com perda de 10 pontos por causa de uma única acusação, o que levanta uma questão: qual será a escala de sanções que City e Chelsea poderão enfrentar se forem considerados culpados? Especialistas ingleses em direto fiscal ou desportivo avançam que em discussão poderão estar deduções de 30 pontos ou até mesmo expulsão da competição. Avisando, contudo, que a complexidade de ambos os casos poderá estender os respetivos processos por muitos anos. 

Noutro plano, como referido pelo presidente da comissão independente, há emblemas que pretendem ser indemnizados pelo Everton. Leicester e Leeds (ambos despromovidos ao segundo escalão inglês na época passada) e Burnley (relegado em 2022) já deram indicações às suas equipas jurídicas para estudarem a possibilidade de processar o Everton por danos no valor de milhões de libras, alegando perdas brutais de ganhos por conta de uma descida de escalão na sequência de um campeonato ferido de legalidade pelos Toffees.

No meio deste turbilhão cresce o coro de protestos de figuras ligadas ao Everton que acusam a Premier League de terem atacado o clube de Liverpool por ser um alvo fácil e que funcionaria como exemplo da competência da comissão independente e como aviso para os restantes emblemas.

O Everton, por seu lado, considera a maior dedução de pontos na história da Premier League um castigo demasiado excessivo tendo em conta que os limites financeiros legislados «só foram ultrapassados em 19 milhões de libras (21,8 M€), de algum modo inevitáveis tendo em conta os vários fatores inesperados dos últimos anos», como a Covid e a invasão da Ucrânia pela Rússia, que custou ao clube da cidade de Liverpool, «um lucrativo acordo de patrocínio com a empresa USM», do oligarca russo Alisher Usmanov.

Alega ainda o Everton que a perda de pontos «é um tremendo exagero» quando comparada com «as meras multas de 4 milhões de euros aplicada aos seis clubes» que se envolveram na polémica da criação de uma Superliga Europeia em 2021. 

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A Premier League negará sempre qualquer sugestão de que o Everton tenha sido escolhido como bode expiatório, com a argumentação de que, em última análise, foi uma comissão independente a decidir o castigo.

Dois anos depois da mediática tentativa de revolução com a ameaça de saída dos principais clubes da Premier League para a referida Superliga Europeia, em Inglaterra receia-se agora que a punição do Everton possa marcar o início de outro período de turbulência, lutas internas e litígios judiciais no coração do futebol britânico.

Ian Byrne, deputado trabalhista na Câmara dos Comuns do Parlamento inglês (Foto Imago)

PERDA DE PONTOS CHEGA AO PARLAMENTO

O caso, entretanto, alastrou para além das instituições do futebol e, inclusive, chegou ao Parlamento inglês, por via de parlamentar de Liverpool que classificou o castigo «como extremamente injusta».

Ian Byrne, deputado trabalhista por West Derby, apresentou uma moção na Câmara dos Comuns que entre esta terça e quarta-feira será apresentada e discutida pelos restantes deputados.

Byrne apelou ainda à «criação imediata de um regulador independente» para o futebol profissional, algo que o governo planeia desde fevereiro, planos esses que, já este mês, foram apresentados no discurso anual do rei. Carlos III disse que a Lei de Governação do Futebol, que incluirá um regulador, irá «salvaguardar o futuro dos clubes de futebol para o benefício das comunidades e dos adeptos».

Na moção apresentada, o Ian Byrne solicitou também a «suspensão de todos os processos e sanções tomadas pela comissão até que o regulador tome a sua própria decisão» e acrescentou: «Esta Câmara deve pressionar para a anulação da dedução de pontos grosseiramente injusta imposta ao Everton por uma comissão da Premier League. Uma punição sem qualquer fundamento legal ou equitativo ou justificação para o nível de sanção.»

Steve Rotheram, presidente da câmara de Liverpool (Foto Imago)

Também o presidente da câmara de Liverpool, Steve Rotheram, escreveu ao presidente-executivo da Premier League, Richard Masters, sublinhando que a retirada «sem precedentes» de pontos «é totalmente desproporcional». Na missiva pode ainda ler-se: «Embora eu compreenda, e até apoie, a importância de manter a disciplina e defender a integridade do desporto, é crucial garantir que as medidas punitivas sejam proporcionais e justas. Não acredito que esta punição se ajuste ao crime. Apoio totalmente o apelo do clube e peço-lhe que adote uma abordagem mais branda e considere formas alternativas de punição que não penalizem injustamente os jogadores e adeptos do clube.»

COMISSÃO ‘LAVA AS SUAS MÃOS’

Recorde-se que na Premier League os clubes não podem perder mais do que 105 milhões de libras (120 milhões de euros) em três anos – a comissão independente concluiu que as perdas do Everton em 2021/2022 totalizaram 124,5 milhões (143 M€).

É nesse sentido que a comissão independente, em comunicado do presidente David Phillips KC, lava as suas mãos e responsabiliza exclusivamente o Everton: «A posição em que o Everton se encontra é de sua própria autoria e responsabilidade. O excesso acima do limite é significativo e deve-se a práticas de má gestão que não podem ser desculpabilizadas.»