Na NBA... E por cá?

Na NBA... E por cá?

OPINIÃO17.04.202411:00

Dez clubes esgotaram todos os 41 jogos em casa e no total os pavilhões tiveram lotação de 98 por cento

Há mais de uma década, além de usarem os dados analíticos para preparar os jogos em relação aos seus jogadores, adversários e até árbitros, alguns clubes da NBA começaram também a procurar informações, estruturá-las e estudá-las relativamente aos espectadores. Queriam saber mais sobre os adeptos e o mercado para melhorar o negócio.

Numa conversa que, na altura, tive com um responsável dos Orlando Magic, fiquei a saber, por exemplo, que certos fãs que o clube pensava que só iam de vez em quando aos jogos, afinal iam sempre. Mudava era quem ficava responsável pela compra dos ingressos pagando com cartão. O clube andava enganado.

Criando aplicações que iam fornecendo dados estatísticos sobre o jogo, a partir do momento em que o adepto entrasse, oferecendo-lhe rede de internet gratuita, os Magic podiam fazer promoções e sabiam onde cada um se sentava ou movimentava no recinto ao longo da partida. Se ia às lojas de merchandising, às de comida...

Melhor, e isto, entretanto, já há clubes de futebol em Portugal que o aplicam para detentores de cativos: caso não vá ao um jogo e avise, revendem o bilhete. Só que os Magic ressarciam o dinheiro num cartão para ser usado no pavilhão — lucro extra garantido — e ficavam a conhecer onde é que essa pessoa depois o gastava.

Outro caso, se alguém habitualmente gostava de comer um gelado, eram capazes de ir ao lugar e surpreenderem oferecendo… um gelado. Também descobriam que a maioria dos season ticket holders (donos de cativos) de idade mais avançada usava mais o cartão para pagar o estacionamento ou na loja. O objetivo é que cada vez que os fãs forem ao pavilhão isso se transforme numa experiência inesquecível. Quer a equipa ganhe ou perca naquele dia ou mesmo se a temporada estiver a ser fraca.

E quem assiste às transmissões pela televisão ou já teve a oportunidade de estar num jogo da NBA sabe que é esse o ambiente que se sente e transmite. Há muito para se viver além do basquetebol. O espetáculo nunca para. Em Orlando, onde está o Disney World, 60 por cento da venda de bilhetes para um só jogo era a pessoas fora da cidade e metade dessas turistas estrangeiros. Todos à procura da tal experiência.

Podia continuar a dar exemplos, mas tudo isto vem porque, antes do play98 por cento-off começar, a Liga anunciou que foram batidos uma série de máximos de assistência nos pavilhões: público total, público médio, percentagem de capacidade de ocupação e de lotações esgotadas.

Acontece pela segunda temporada seguida. Verificaram-se 872 lotações esgotadas — em 2022/23 tinham sido 791 (63%) —, o que dá 71% e a média de público de 18.322, face aos 18.077 do ano passado. No total as arenas registaram 98 por cento da capacidade e dez clubes, estão todos agora na segunda fase, o que ajuda claro, lotaram os 41 jogos em casa. E assim será no play-off.

Esta é uma preocupação de uma liga que vende os campeonato pela televisão e internet para 212 países. Até podia não se preocupar muito com os pavilhões. E nós por cá, sobretudo no futebol, claro, continuamos a querer esvaziar ou a encher estádios?