E no Sporting tudo acabou mesmo por fazer sentido
Trincão cresceu muito a partir de janeiro (Foto: IMAGO / SOPA Images)

E no Sporting tudo acabou mesmo por fazer sentido

OPINIÃO18.04.202409:00

Trincão é apenas um exemplo de uma gestão a roçar a perfeição esta época em Alvalade

Até ao dia 5 de janeiro deste ano, Francisco Trincão somava apenas 1 golo na Taça de Portugal e 2 assistências na Taça da Liga. Desde então, leva 8 tiros certeiros e 7 passes decisivos em todas competições, tornou-se indiscutível, relegando Paulinho e Marcus Edwards para segundas núpcias, e ganhou uma influência no momento ofensivo que só encontra paralelo em Gyokeres e Pedro Gonçalves. Se o sueco já toda a gente sabe o que é, nada mais do que verticalidade, explosão e potência, Pote é leitura de espaço e definição cirúrgica e o esquerdino finesse ao jeito de espadachim e criatividade. Em Famalicão, os olhos levantados encontraram rapidamente a linha de passe e o momento certo para servir o colega, com caminho aberto para a vitória que quase todos consideravam decisiva para o título.

Se o Sporting não tem propriamente um plano B, a não ser Coates na área para ganhar bolas aéreas como segundo avançado - na pré-época a colocação de Gonçalo Inácio como joker, a subir para o meio-campo e a baixar para central, consoante se tivesse ou não nesse momento a bola, não funcionou de todo -, é a versatilidade dos seus jogadores, assente num coletivo que apresentou sempre um plano A muito bem trabalhado, que acrescenta imprevisibilidade ao seu ataque.

Trincão é, finalmente, a fonte de fantasia que a equipa precisava e a a prova de que um treinador não deve desistir nunca de alguém em quem acredita, mesmo que este demore a dar-lhe razão. No entanto, quando não está inspirado, Amorim também sabe que, se precisar, tem Paulinho para ser âncora, segurar o jogo mais à frente e atacar depois em apoio ou libertar em Gyokeres e pisar os espaços libertados pelo nórdico; Edwards se o caminho para o golo estiver repleto de cabines telefónicas; ou, mais atrás, Bragança se só se for lá com mais certeza de passe e fluidez de circulação.

Olhar para este Sporting quase campeão é relembrar o que toda a gente sabe e repete ano após ano, dando corpo a um La Palice futebolístico: que não são os orçamentos gigantescos que ganham títulos nem as políticas desportivas assentes na compra e venda uma boa estratégia se não forem ao encontro do básico. Têm de encaixar mo modelo e na forma como se quer jogar.

Os leões acertaram no mercado, sem dúvida. Gyokeres fez estragos numa liga que raramente entendeu como se devia defendê-lo, o que levou a que toda a equipa nele se centrasse, e Hjulmand percebeu rápido o que faziam Palhinha e Ugarte antes e acrescentou ainda mais critério no passe e ainda chegada para o tiro de longa distância. Mesmo Fresneda fazia todo o sentido, apesar de não ter vingado. O caso do espanhol foi resolvido pelo treinador com improviso. Apareceu Geny. Esquerdino para jogar como ala direito, foi dividindo o espaço com Esgaio até resolver o dérbi com o Benfica. Taticamente, com e sem bola, foi mais uma cartada importante.

Não há títulos sem felicidade em alguns momentos, porém o Sporting reuniu-se sobretudo à volta da crença em ideias sólidas, talento, paciência e irreverência. O treinador juntou as pontas soltas e tudo acabou por fazer sentido.