Paulo Futre recorda 'outro' FC Porto-Barcelona: «Se aquela bola nos descontos tem entrado...»
Paulo Futre foi um dos mais conceituados jogadores da história do FC Porto. Foto: ASF

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NACIONAL02.10.202322:45

Antigo craque esteve presente na última vitória dos dragões sobre os 'blaugrana', já lá vão quase... 38 anos; «Fizemos um jogo memorável», recorda; triunfo (3-1) não chegou para garantir a qualificação, mas foi o início (moral) do título europeu da época seguinte

'Oh tempo, volta para trás'. Este podia ser o título de uma rubrica sobre uma efeméride. Mas não é. Trata-se, afinal, de um apelo à memória. Porque vamos recuar praticamente quatro décadas para recordarmos um jogo entre FC Porto e Barcelona. E quem melhor para falar sobre esse duelo do que um dos grandes artistas que o protagonizou? Senhoras e senhores: Paulo Futre!

Estamos na antecâmara de mais um duelo entre os dois emblemas. Na próxima quarta-feira, dragões e 'blaugrana' medem forças no Estádio do Dragão, em partida da 2.ª jornada do Grupo H da Liga dos Campeões. Os adeptos portistas esperam, naturalmente, uma vitória, não só para reforçarem a candidatura à passagem aos oitavos de final, como também para poderem voltar a ter o prazer de ver o 'seu' FC Porto vencer o Barcelona. Porque a última vez que isso aconteceu foi há quase... 38 anos. Mais precisamente no dia 6 de novembro de 1985. 

Jogava-se a 2.ª mão da 2.ª eliminatória da (então) Taça dos Clubes Campeões Europeus - competição que passou a ser designada de Liga dos Campeões em 1992 - e o Estádio das Antas engalanou-se para um duelo de titãs. Já depois de ter eliminado o Ajax na 1.ª eliminatória, o FC Porto (orientado por Artur Jorge) ia tentar reverter o 0-2 que trazia da Catalunha. Naquela altura, recorde-se, os golos foram contavam 'a dobrar'. Juary, já na segunda parte, bisou e deixou tudo empatado no que toca à qualificação, mas um tento de Steve Archibald - um dos craques desse Barcelona (treinado pelo inglês Terry Venables), a par de Bernd Schuster ou Manolo, entre outros - complicou a vida aos dragões. Juary ainda completaria o 'hat trick', perto do fim, mas o 3-1 não foi suficiente para o FC Porto seguir em frente. O golo apontado fora de casa garantiu a qualificação aos espanhóis. Mas houve um lance que poderia ter mudado tudo. E esse lance é agora retratado na primeira pessoa pelo mítico camisola 10 dos azuis e brancos.

Estádio das Antas, mítico palco azul e branco onde o FC Porto escreveram muitos capítulos de glória no seu historial. Foto: ASF

A partir de Madrid - local onde também tem residência e que o faz dividir os seus dias entre Espanha e Portugal -, Paulo Futre falou em exclusivo a A BOLA. E a memória do esquerdino relativamente a esse jogo é de tal forma viva que quase nos fez... 'estar no estádio'. O melhor mesmo é seguir com atenção a cronologia aqui relatada pelo antigo internacional português.

«Nos descontos, tive uma oportunidade flagrante para marcar, mas o remate, de pé direito, foi ao poste. Se tem entrado, fazíamos o 4-1 e passávamos a eliminatória. Se essa bola desse golo, o estádio vinha abaixo... Não sei como eles saíram 'vivos' daquele jogo. Fizemos uma exibição memorável e merecíamos ter passado».

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O desfecho acabou por ser negativo para as pretensões do FC Porto, mas, ainda assim, permitiu alargar horizontes e acabou por ser um capítulo absolutamente essencial para que os dragões, na época seguinte, atingissem o cume da Europa. Afinal de contas, em 1986/1987, o emblema azul e branco conquistou o seu primeiro grande título internacional: a Taça dos Clubes Campeões Europeus - após vitória (2-1) diante do Bayern Munique, na final disputada a 27 de maio de 1987, no Praterstadion, em Viena (Áustria), com golos de Rabah Madjer e Juary.

«Depois desse jogo com o Barcelona [n.d.r.: nessa época os 'blaugrana' foram finalistas vencidos da competição, perdendo com o Steaua de Bucareste no jogo decisivo] ficámos com uma confiança tremenda de que podíamos ganhar a qualquer equipa. Essa derrota teve um impacto positivo brutal no balneário, os jogadores acreditaram definitivamente que tínhamos todas as condições para chegarmos à glória, a estrutura do futebol e os adeptos do FC Porto deram-nos ainda mais apoio e, na época seguinte, fomos campeões europeus», recorda Paulo Futre, num discurso carregado de emoção. E ainda voltou ao desafio com os catalães, demonstrando o quão vivas estão, ainda hoje, as emoções desse dia: «Era um super Barcelona, mas fizemos uma segunda parte demolidora. E essa injustiça pela eliminação potenciou tudo o que fizemos na temporada que se seguiu.»

E se mais provas eram necessárias sobre as recordações do esquerdino... «Recordo-me perfeitamente que no final desse jogo, nas Antas, troquei de camisola com o Bernd Schuster, que depois viria a ser meu colega de equipa no Atlético Madrid», salienta, a propósito de ter partilhado balneário com o (também) craque alemão no emblema da capital espanhola (onde Futre foi, é e será um eterno ídolo) nas épocas 1990/1991 e 1991/1992, bem como na primeira metade da época 1992/1993 - porque na segunda metade dessa temporada Paulo Futre rumou ao... Benfica.

A verdade é que todos os dados agora relatados por Paulo Futre foram confirmados pela própria história. Porque o FC Porto, em 1986/1987, também com o esquerdino a brilhar de azul e branco, escreveu a primeira de várias páginas douradas do seu extenso e rico historial. Em Viena, os dragões mostraram-se definitivamente à Europa e ao Mundo do futebol e abriram a porta de entrada na elite internacional. Porta essa que não mais se fechou. Porque a partir dessa altura, os portistas aumentaram de forma significativa o cardápio dos êxitos. Afinal, nas últimas quase quatro décadas, o museu dos dragões foi contemplado com mais uma Liga dos Campeões (2003/2004), uma Supertaça Europeia (1987), uma Taça Intercontinental (1987) e duas Liga Europa (2023/2004 e 2010/2011). Sendo que a estes títulos há, naturalmente, a somar dezenas de troféus nacionais referentes à Liga, à Taça de Portugal, à Supertaça Cândido de Oliveira e à Taça da Liga.