«Ópera nem sempre é só no São Carlos»: a crónica do Sporting-Estoril
Um dos cinco festejos leoninos na goleada ao Estoril (IMAGO)

«Ópera nem sempre é só no São Carlos»: a crónica do Sporting-Estoril

NACIONAL05.01.202422:08

Grande jogo do Sporting e, sobretudo, grande jogo de Edwards, Gyokeres e Nuno Santos; Sueco pareceu inglês, inglês pareceu sueco

Acabou por ser um Sporting estranho. Não por ter ganho, não por ter dominado de ponta a ponta o jogo, antes por ter goleado. Os adeptos, esta época, estão habituados a ganhar e a liderar a Liga, mas têm andado quase sempre com o coração nas mãos, pois sete das doze vitórias tinham sido pela chamada margem mínima: 1-0, 2-1 ou 3-2.

Amorim, aliás, está há quase quatro anos no Sporting e só por seis vezes vira a equipa marcar mais de quatro golos e só por duas vezes na Liga. Mas, meu Deus, o leão tirou a barriguinha de misérias e goleou o Estoril de Vasco Seabra, que demorou demasiado tempo a perceber que poderia fazer algo mais do que apenas defender, com unhas e dentes, a baliza de Marcelo. Nem sempre Ópera é apenas no São Carlos, como se viu em Alvalade, sobretudo entre o intervalo e o minuto 80. Brilhante. 

A DUPLA 'TRAVESTIDA'

Sabe-se que nada é como começa, antes sempre como acaba. Mas, para terminar bem, dá jeito começar bem. E o Sporting começou bem o campeonato e, quando se está pertinho, pertinho, de terminar a primeira volta, continua bem. Aliás, muito bem. Perante um adversário de segunda linha, sim senhor, mas que já por duas vezes ganhara ao FC Porto (0-1 no Dragão e 3-1 na Amoreira), era preciso ter cuidado. E o Sporting teve-o. Começou o jogo de prego a fundo, como se não houvesse amanhã, com Gyokeres travestido de Edwards e Edwards travestido de Gyokeres. O sueco, indomável como sempre, teve duas arrancadas, a primeira pela esquerda, a segunda pela direita, oferecendo os dois primeiros golos ao sempre paciente inglês. 

O Estoril, perturbado pela avalancha ofensiva do Sporting, quase se limitava a defender a baliza de Marcelo e só esporadicamente atacava a contrária, tão esporadicamente que só por duas vezes tal aconteceu. Até conseguiu fazer golo, mas Rodrigo Gomes estava fora de jogo no momento do passe. Com 2-0 ao intervalo, os leões podiam ter abrandado ou, pelo menos, desacelerado um pouco. Nada disso. Amorim não mexeu no onze e o Sporting continuou indomável e esfomeado, em busca de mais golos, quase jogando numa espécie de 3x2x5.

Três assistências para Gyokeres, dois golos para Edwards (IMAGO)

 Com Nuno Santos e Geny Catamo bem abertos na esquerda e na direita e apenas ligeiramente atrás do trio Edwards-Gyokeres-Pedro Gonçalves, mais por dentro. E a Ópera continuou. Com terceira assistência de Gyokeres, desta vez através de um lançamento lateral, que apanhou a defesa estorilista desprevenida, mas não Nuno Santos. Que rematou forte e, com ligeira ajuda de Pedro Álvaro, fez o 3-0.

 O jogo estava ganho, a liderança na Liga continuaria, assim, a ser do Sporting. Porém, a fome não fora ainda controlada e, já com Trincão no lugar de Bragança e Pedro Gonçalves a médio, a avalancha continuou. Logo a seguir, PedroGonçalves ganhou a bola a Koindredi, progrediu 25 metros com ela colada aos pés e, com Gyokeres desmarcado sobre a direita, pensou-se que o 8 dos leões lhe cederia, por fim, a bola para que o sueco, saciado em assistências, mas imensamente esfomeado de golos, fizesse o 4-0. Erro puro: Pedro Gonçalves, naquele jeito elegante de rematar, passou a bola à baliza de Marcelo e fez golo.

 O 5-0 chegaria pouco depois, com Trincão a marcar de pé esquerdo. Era a goleada. A estranha goleada que oSporting de Amorim tão raramente tem conseguido. Estava por chegar, porém, a pequena nódoa, em mais um golo sofrido pelos leões na sequência de uma bola parada. 

Sem golos, mas com três assistências no bolso, a pergunta mantém-se: estará o Sporting dependente da forma de jogar, de correr e de lutar de Gyokeres?  Sim, está. Como estava o Benfica dependente de Cardozo e Jonas e o FC Porto dependente de Hulk e Falcao. Qualquer equipa que tenha um grande jogador estará sempre dependente dele. O que nem sempre é um problema.