Mitoma: a incrível história do Tsubasa real que se reinventou a si próprio
Mitoma tem sido um dos destaques da Premier League (Foto: Pro Sports Images/IMAGO)

Mitoma: a incrível história do Tsubasa real que se reinventou a si próprio

INTERNACIONAL18.10.202322:41

Estreou-se profissionalmente apenas aos 22 anos; rejeitou o primeiro contrato para aprofundar a arte do drible; é hoje uma das figuras do Brighton, da Premier League e da seleção do Japão

O talento também se aperfeiçoa. É a conclusão que podemos tirar da história do japonês Kaoru Mitoma, um dos destaques do Brighton, da Premier League e da seleção nipónica. Aos 18 anos, recusou um primeiro contrato profissional do Kawasaki Frontale, uma das melhores equipas do seu país, a fim de estudar educação física na universidade, e baseou a sua tese no aperfeiçoamento do próprio drible. Não só não se sentia preparado para as exigências do escalão principal como quis fazer algo para evoluir e atacar a nova etapa com sucesso.

Mitoma ingressou em Tsukuba de 2016 a 2019 e representou o Japão nos campeonatos universitários durante esse período. A certa altura, explicou a decisão à Eurosport: «Pensei que seria melhor ir para a universidade para ter sucesso enquanto futebolista profissional. Foi assim que estudei uma série de coisas, como o treino, outras modalidades e a nutrição.»

Não foi, no entanto, o único tema de estudo. Munido de uma GoPro na cabeça e de uma outra câmara de apoio, gravou horas de dribles seus, para estudar os movimentos do corpo e as reações dos adversários. E chegou a uma conclusão: «Percebi que se alterasse o centro de gravidade de quem me defendia iria quase de certeza ganhar o duelo.» Aí está o seu segredo.

«Na universidade, não só a minha força aumentou, como também a velocidade. Tinha bastante habilidade quando era mais novo, mas não aproveitava a velocidade para ganhar vantagem como faço agora. Consigo usá-la bem. O sucesso do meu drible mais característico também duplicou», conclui o jogador na sua tese, muito procurada pelos alunos de Tsubuka», conclui, citado pelo site Sports Graphics Number.

Em entrevista ao site da federação japonesa, o professor Koido Masaaki recordou os tempos em que ajudou Mitoma: «Era tudo intuição, pouco falava. Não era um goleador quando estava na universidade, experimentava outras coisas. Não estava particularmente interessado em marcá-los, mas sim em driblar quem lhe aparecesse à frente.»

Em 2020, voltou ao clube e assinou o seu primeiro contrato profissional. Tinha 22 anos. Marcou 18 golos em 37 encontros na primeira temporada e mais 8 em 20 partidas na segunda, precisamente a que antecedeu a transferência para o Brighton, clube conhecido pelo ‘scouting’ apurado, a troco de três milhões de euros. Assinou por quatro anos e seguiu por empréstimo para o St. Gilloise. Hoje, o seu valor de mercado é de 50 milhões. «Pensava jogar na Europa e ao nível mais alto desde que era criança. Por isso, quando ao fim de uma época e meia o Brighton me contactou achei que era o momento.» Pelo meio, falhou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio, apesar do golo que marcou no encontro de atribuição do terceiro e quarto lugares. «Foi um momento de aprendizagem. Tinha receio de que não era suficiente bom e estava muito nervoso, mas aprendi a lidar com isso. Foi uma experiência importante.»

Provou-o quando saiu do banco, mais tarde, para bisar e carimbar o apuramento para o Mundial do Catar, diante da Austrália. O «momento mais alto» da carreira. O torneio no Médio Oriente até começou bem para o Japão, ao se qualificar num grupo com Espanha, Alemanha e Costa Rica, mas os asiáticos acabaram eliminados nos penáltis, logo depois, pela Croácia. O registo de Mitoma não foi brilhante. Sempre suplente, conseguiu apenas uma assistência para partida com a ‘Roja’.

No entanto, é precisamente a partir do Catar que a sua contribuição dispara, ao ponto de rubricar cinco golos e seis assistências em 33 partidas pelos ‘Seagulls’. Nesta temporada, leva um registo ainda mais impressionante: três remates certeiros e outros tantos passes decisivos em oito partidas. 

No Japão, há um ‘manga’ que fala das aventuras Capitão Tbusasa, desenhos animados que por cá ficaram mais conhecidos por ‘Oliver e Benji’. Quem viu alguns episódios, acrobacias sobre-humanas à parte, não pode deixar de tecer comparações entre essa figura que encantava os mais novos e o japonês que deslumbra as bancadas do Falmer Stadium.