«Começar bem e acabar melhor com tremeliques pelo meio», a crónica do Benfica-Famalicão
Roger Schmidt cumprimenta Arthur Cabral (Atlantico Press/IMAGO)

«Começar bem e acabar melhor com tremeliques pelo meio», a crónica do Benfica-Famalicão

NACIONAL29.12.202322:39

Primeiro uma vantagem escassa e os falhanços do costume; depois foi São Trubin a segurar a vitória; alta intensidade deu final feliz

Quando uma equipa ganha por três golos de diferença, a tendência natural é pensar-se que teve um jogo fácil. Ora, não foi nada disso que aconteceu ao Benfica, que teve de batalhar muito para derrotar um excelente Famalicão, bem organizado e com intérpretes de qualidade, que esteve na Luz para, sem táticas suicidas, mas também sem qualquer autocarro, discutir o resultado com os campeões nacionais. 

Sem os argentinos campeões do Mundo e com seis jogadores made in Seixal no onze inicial, Roger Schmidt apresentou o desenho tático do costume, com Tiago Gouveia a fazer de Di María e Tomás Araújo na vaga de Otamendi, entregando o ataque a Arthur Cabral, acolitado por Rafa. Porém, após uma entrada em grande estilo, com Tiago Gouveia e Rafa muito perto do golo nos minutos cinco e seis, o Benfica passou a viver quase exclusivamente de João Neves, que era a argamassa que Kokçu não conseguia ser, dava aos encarnados a intensidade que João Mário, demasiado refugiado no jogo interior, manifestamente não tinha, e ainda se arvorava em recuperador número um da equipa da Luz. E frente a jogadores de ótimo nível como Topic ou Youssouf, ajudados na criação de superioridade numérica a meio-campo por Gustavo Sá, a tarefa foi exigente. 

O Benfica, que teve em Tiago Gouveia, que fez um jogo de mais a menos, um agitador que se entendia bem com Rafa, foi perdendo agressividade e foi preciso uma genialidade de João Neves aos 31 minutos, que lançou  Rafa para a assistência a Arthur Cabral (peçam-lhe para finalizar, não lhe peçam para ser Gonçalo Ramos, Tengstedt ou Musa, que não é capaz...) para colocar a equipa da casa em vantagem.

Trubin ‘salvador da pátria’

O Benfica entrou mal na segunda parte, com vários passes falhados na zona central e intranquilizou-se. Os minhotos perceberam e depois de terem passado a primeira metade sem conseguir qualquer remate perigoso, começaram a ameaçar o empate, com Trubin, um muro na baliza, a salvar por três vezes o Benfica, a ver Chiquinho (60) reclamar, provavelmente com razão, uma grande penalidade de Tomás Araújo, e a contar com ajuda do poste num remate de Youssouf aos 72 minutos. 

A tremelicar na defesa e sem ter clareza no aproveitamento de espaços que a subida dos famalicenses criou, Schmidt respondeu a uma tripla alteração de João Pedro Sousa (66), que deu mais presença ao ataque, com uma tentativa de reequilíbrio da sua equipa. Guedes, Florentino e Musa foram a jogo, demoraram algum tempo a carburar, mas acabaram por ser decisivos no engordar do resultado. Entretanto, a lesão de Aursnes que provocou a sua substituição por Jurasek, mexeu em todas as posições da defesa do Benfica, que acabou por coordenar-se bem. 

Uma questão de intensidade

Então, o que trouxeram ao jogo os jogadores que Schmidt foi buscar ao banco? Florentino deu uma boa ajuda a João Neves, cada vez melhor, mais influente e com pilhas que parecem infindáveis, a carregar a equipa às costas nos momentos mais delicados, Musa foi o panzer que Arthur Cabral nunca há de ser, e aproveitou os espaços, e Guedes deu à equipa algo que faltou em muitos períodos da noite de ontem, especialmente em João Mário, que teve 90 minutos de futebol telegrafado: intensidade. E com um Benfica intenso, por um lado o Famalicãofoi abrindo espaços, por outro Rafa regressou ao jogo que mais gosta, rápido, vibrante e para a frente, e não para o lado. Quando o 27 do Benfica, que fez o jogo 300 de águia ao peito, marcou um golo de belo efeito (85) após trabalho de Guedes, Musa e João Mário, as dúvidas quanto ao vencedor cessaram. 

Finalmente o Benfica libertou-se e quis dar aos seus adeptos um resultado mais robusto, e em novo contra-ataque  da dupla Rafa/Musa, o croata fez o 3-0 e só não voltou a marcar (90+4) por muito pouco. Em resumo, frente a uma equipa que irá fazer um bom campeonato, o Benfica voltou a dar-se mal quando quis jogar para o lado e entrar em tabelas (João Mário/Arthur Cabral) pelo centro da área, a zona mais povoada do campo, e desmantelou o adversário quando colocou os olhos na baliza de Luiz Júnior e se aproximou da intensidade colocada em campo por João Neves ao longo dos 90 minutos.