«A possibilidade do Diogo Ribeiro ser finalista nos Jogos de Paris é uma coisa extraordinária»
Diogo Ribeiro, uma das grandes esperanças de ouro olímpico português em Paris-2024 (Instagram/Diogo Ribeiro)

ENTREVISTA A BOLA «A possibilidade do Diogo Ribeiro ser finalista nos Jogos de Paris é uma coisa extraordinária»

A BOLA TV05.03.202409:15

José Manuel Constantino, presidente do COP, é o convidado do Conselho de Estádio

O Conselho de Estádio tem como convidado José Manuel Constantino, 73 anos, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) desde 2013, estando agora no último mandato, e antigo líder do Instituto Nacional do Desporto e da Confederação do Desporto de Portugal.

- A propósito do Diogo Ribeiro, fiquei pasmado ao ouvir um comentário numa televisão, em que diziam que Portugal, porque conquistou duas medalhas de ouro, passou a ser uma das grandes potências da natação mundial, o que não faz qualquer sentido.

-  A possibilidade do Diogo Ribeiro ser finalista nos 100 metros mariposa nos Jogos de Paris é uma coisa extraordinária. A possibilidade dele ser medalhado é uma coisa estratosférica. Do ponto de vista da avaliação desportiva, temos que ser cuidadosos, ponderados,  e não devemos criar expectativas que não estejam sustentadas na objetividade, sem prejuízo de reconhecer que também não podemos ser desmotivadores relativamente aos sonhos que os atletas têm quanto a alcançarem esta ou aquela posição, incluindo, naturalmente, serem medalhados.

- No caso do Diogo, creio que tem relevância a alteração estratégica do desenvolvimento da natação por parte da Federação, e o recurso, inclusivamente, a treinadores que não são portugueses, mas que já têm experiência em grandes competições internacionais. E na história da nossa natação não é a primeira vez, basta lembrar Shintaro Yokochi… As alterações que a Federação Portuguesa de Natação introduziu nas suas equipas técnicas têm que ter algum mérito, algum reconhecimento... 

- Mas o potencial é do Diogo Ribeiro, que foi treinado por portugueses, e agora está integrado numa equipa técnica que tem um titular, se assim posso chamar, brasileiro. Mas isto nem sequer é original…

«Esta foi a primeira capa de jornal que vi após ser campeão do Mundo»

24 fevereiro 2024, 01:00

«Esta foi a primeira capa de jornal que vi após ser campeão do Mundo»

O nadador português Diogo Ribeiro alcançou o topo do Mundo da natação em Doha, no Catar, ao conquistar duas medalhas de ouro, nos 50 e 100 metros mariposa. O nosso Menino de Ouro, como lhe chamámos em manchete no dia seguinte ao primeiro feito, falou em exclusivo connosco. Uma entrevista que pode apreciar nas páginas do jornal, aqui no site e em A BOLA TV a partir das 19 horas deste sábado.

- Mas fará sentido que sendo nós um País exportador de treinadores, então no futebol isso é exponencial, coloquemos em causa se vêm treinadores estrangeiros trabalhar para Portugal? É um contrassenso!

- Eu costumo dizer que o saber é como o capital, não tem pátria. O conhecimento não tem pátria. Há especialistas em todas as áreas, que não sendo portugueses, podem dar contributos positivos para o desenvolvimento do país. Vejam o que se passou com a Música, sobretudo com a queda do bloco soviético e com a vinda de músicos e maestros desses países, onde a cultura musical é uma coisa extraordinária. O nosso País só ganhou com o contributo que essas pessoas deram ao desenvolvimento dessa área, incluindo da música clássica. O José Manuel Delgado foi treinado ao longo da sua vida por treinadores portugueses e não portugueses, e seguramente, que com todos aprendeu.

- Temos dos melhores treinadores do mundo de futebol, porque foi possível construir uma escola que teve como base os nossos pioneiros, que aprenderam e evoluíram com treinadores húngaros e ingleses. E mais tarde vieram os brasileiros, e outros, nomeadamente um sueco que nos fez crescer.

- Mas, pedindo desculpa pelo termo,  exportamos  treinadores de outras modalidades, no judo, na canoagem, no voleibol, estamos muito longe de ser apenas um país importador de treinadores. Mas também exportamos atletas, no andebol, no voleibol, no basquetebol, no futebol, no hóquei em patins e em tantas outras modalidades. O nosso grau de desenvolvimento também tem que ser aferido por este indicador.

- E temos os clubes que têm investido e continuam a investir nas modalidades ditas amadoras…

- Sim, mas há dois modelos completamente diferentes. Os atletas  treinam-se sobre a égide da federação e a elite está permanentemente concentrada em estágio, sob a superintendência da própria federação, que coloca os seus quadros técnicos, que fazem o respetivo enquadramento, no âmbito, particularmente, da preparação olímpica, que é o ponto mais significativo da preparação desportiva. De vez em quando há umas competições de clubes, e eles representam os seus clubes. Nas modalidades coletivas os atletas estão nos clubes, e vão aos estágios da federação.