Vote agora, discuta depois!...

OPINIÃO19.09.202003:30

Já lá vão muitos anos, ficou célebre um anúncio de uma ou várias agências de viagens - viaje agora, pague depois!
Todos conhecemos a regra que vigora para diversas matérias: primeiro pagas, depois reclamas!
Começa a ser moda as assembleias gerais que, violando os estatutos, servem apenas para votar, sem discutir. É uma moda boa, porque a discussão antes da votação é uma bizantinice democrática. É aliás uma moda a que aqueles que perturbam as assembleias gerais deram uma ajuda preciosa, e a que agora acresce o Covid-19 para ocultar o verdadeiro significado da moda.
De resto, a moda não é assim tão recente, porque já António de Oliveira Salazar dizia: «Não discutimos Deus e a virtude. Não discutimos a pátria e a sua história. Não discutimos a autoridade e o seu prestígio. Não discutimos a família e a sua moral. Não discutimos a glória do trabalho e o seu dever.»
Se se discute o clube na comunicação social cai o Carmo e a Trindade por a discussão dever ser nas assembleias gerais, mas se a discussão está prevista na convocatória das mesmas elimina-se o verbo discutir. E se alguém tem a ousadia de organizar uma discussão sobre o rumo do Sporting, os seus participantes são qualificados entre malfeitores e conspiradores!
Haverá quem se admire de eu estar a pôr em causa a eliminação da fase da discussão do relatório de gestão e contas, quando me passei a recusar a ir a assembleias gerais justamente porque não é possível discutir de uma forma séria e serena os assuntos da ordem do dia. Porém, a explicação é fácil: luto por ideias e princípios e não vou pelos caminhos fáceis e oportunistas, e a meu ver violadores dos estatutos, de, pura e simplesmente, eliminar a fase da discussão.
Na verdade, venho de há muito tempo a esta parte sustentando que importa modificar a composição da assembleia geral num sentido semelhante à dos grandes clubes mundiais e europeus, mesmo aqueles que não se constituíram como sociedades anónimas desportivas, como é o caso do Real Madrid e do Barcelona! Entendo que uma assembleia representativa além de permitir uma discussão mais aprofundada dos diversos temas que lhe são colocados poderia dar um grande contributo para unir os sportinguistas! Voltarei um destes dias a este assunto.
Agora, com Covid ou sem Covid, com pareceres ou sem pareceres da DGS, o que não posso admitir são decisões, unilaterais e sem fundamento, de alteração dos estatutos por parte da Mesa da Assembleia Geral. Com efeito, nos termos do artigo 50.º dos Estatutos do SCP, a «Assembleia Geral comum funciona ordinariamente... até ao dia 30 de Setembro de cada ano, para discutir e votar o relatório de gestão e contas do exercício findo e o competente relatório e parecer do Conselho Fiscal e Disciplinar».
Perante o que está estatuído pergunto com que fundamento se transforma uma assembleia comum com o objetivo de discutir e votar um relatório de gestão e contas numa assembleia eleitoral apenas para eliminar o debate ou a discussão prévia à votação?
Li atentamente o comunicado do SCP e o parecer da DGS e concluí que se correm riscos elevados, mesmo com a eliminação da fase da discussão. Por outro lado, sou de opinião que é mais grave a eliminação da fase da discussão, porque constitui uma alteração dos estatutos, do que a não realização de uma assembleia geral no tempo estatutário, dadas as circunstâncias de pandemia. Estranho que se ache ridículo falar em incumprimento em tempo de pandemia , o que deu lugar a pesada penalização, e se tenha tanta vontade de cumprir as datas das assembleias quando o incumprimento dessas datas nas circunstâncias não tem qualquer penalização, por ser completamente justificado.
É evidente que não vou impugnar as deliberações da assembleia geral eleitoral, porque o Sporting já tem discussões de sobra, jurídicas e não só, e não precisa de mais uma. Aliás, o que penso da gestão e contas deste Conselho Directivo é por demais sabido, com discussão ou sem discussão, com aprovação ou sem aprovação do relatório. E é o que irão fazer os associados que se deslocarem à Alvalade, tenham ou não lido o relatório de gestão e contas. Vão lá para exprimir o seu contentamento ou descontentamento com o Conselho Directivo sobre a gestão do futebol, ainda que esta seja da SAD, e outros assuntos e matérias.
Nos vizinhos não deu grande resultado uma simples votação do orçamento. Vamos ver no Sporting Clube de Portugal qual o resultado do vota agora, discute depois à mesa do café ou na comunicação social!
E vou ficar expectante com o resultado de duas votações que se vão fazer com intervalo de poucos dias no que respeita à gestão do futebol do Sporting. O local próprio para a discussão e votação do futebol do Sporting será a assembleia da SAD no dia 29. Nesta assembleia a aprovação está garantida, seja qual for o sentido da discussão. Mas ninguém tem dúvidas de que, purismos jurídicos à parte, o pensamento dos votantes de dia 26 estará fundamentalmente na gestão do futebol e seus resultados. Aí a aprovação não está garantida, por muitas e diversas razões.
E, assim, concluo, retomando o título: vote a 26, discuta a 29!...

Comissões
É, como todos sabem, o plural de comissão. E comissão tem vários significados, como se pode observar em qualquer dicionário de língua portuguesa: incumbência, encargo; desempenho de funções que constituem emprego temporário; reunião de pessoas para estudo ou exame de algum assunto ou com qualquer outra finalidade; percentagem que um comissário recebe do comitente; mandato; jurisdição delegada (por um magistrado noutro).
Não vamos falar de todos os significados referidos, mas tão somente das percentagens em negócios escuros ou claros e das reuniões de pessoas com uma finalidade qualquer como seja o estudo de um assunto, a execução de uma tarefa ou simplesmente apoiar uma candidatura numas eleições presidenciais, designadamente, das comissões nas transferências de jogadores de futebol e da comissão de honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Sport Lisboa e Benfica!
Estamos na época das transferências e, portanto, falar das comissões é assunto corrente, sendo certo também que estamos em tempo de assembleias gerais de sociedades anónimas desportivas para aprovação de contas e que nos revelam (ou não) as que foram pagas no exercício findo. Esta época, porém, as comissões não foram para já tema, com excepção da acordada na transferência de Fábio Silva, mas completamente abafada pelo tema de outra comissão, mas de honra.
Na minha modesta opinião, não há razão para se falar de uma ou de outra, pois se aquela foi acordada entre todos e por todos vai ser honrada, também não há motivo para com a comissão de honra pôr em causa, quer a honra do apoiado, quer a honra dos apoiantes!
O convite de Luís Filipe Vieira a António Costa, primeiro-ministro de Portugal, a Fernando Medina e outros políticos para fazerem parte da sua Comissão de Honra nada diz sobre a honra dos políticos, antes deixa transparecer a honra que sente Luís Filipe Vieira em ser apoiado e votado por tais personalidades. É tão legítima essa publicidade junto dos adeptos do Benfica como é publicitar junto dos consumidores que o Omo lava mais branco!
Na verdade, é perfeitamente compreensível para mim, que não sou adepto do Benfica nem candidato às eleições, que Luís Filipe Vieira queira evidenciar as qualidades que tem para continuar a presidir aos destinos do Benfica ao ponto de mostrar que o primeiro-ministro de Portugal o apoia. Como acho que é perfeitamente legítimo António Costa, sócio do Benfica, e por acaso, primeiro-ministro de Portugal, exprimir a sua opinião sobre quem é o melhor para presidente do Benfica, através da adesão à respectiva comissão de honra!
Afinal, tanta polémica para um desfecho tão simples e linear: Luís Filipe Vieira já não se sente honrado com a presença de António Costa na sua comissão de honra e António Costa fica livre para dar o seu voto (agora) secreto a qualquer outro candidato. Tudo isto pouco tempo antes da acusação na Operação Lex! Há coincidências felizes!