Viva o FC Porto
Hoje, faz anos o meu muito amado Futebol Clube do Porto. O meu amor é um jovem de 125 anos. Vai ser sempre um rapaz novo enquanto houver um homem ou uma mulher que pegue na sua bandeira e a desfralde com orgulho, um coração acelere quando vir o brasão abençoado estampado na mais bela camisola do mundo, uma alma azul e branca chore as derrotas e cante as vitórias.
Vou resistir à tentação de contar a minha história de portista. De explicar como as travessias por desertos me aumentaram a paixão pelo meu clube, de como as imensas planícies de vitórias apenas me alegraram momentaneamente - o próximo jogo é sempre mais importante, o próximo troféu é que é decisivo -, de como a minha vida se define também por esta tatuagem que trago cravada a ferro e fogo no meu peito. E não a irei contar porque ela é igual à de todos os portistas, dos que já nos deixaram, dos que estão vivos e dos que nascem hoje e viverão esta paixão exatamente como todos a vivemos. Nunca houve sacrifício que não tivesse valido a pena, jamais houve distância que fosse longa. O que nos move é mais forte, é muito mais que vitórias, é um sentimento de pertença, de fazer parte de algo maior do que qualquer um de nós, de vivermos juntos o nosso imenso amor.
O nosso clube será sempre da invicta cidade do Porto, a cidade que nos forjou, que nos passou os valores do trabalho, da vontade indómita de nunca se dar por vencido e de uma coragem única. O FC Porto fez-se azul e branco para conquistar o mundo mas nunca esquecerá, nunca pode esquecer o verde da bandeira da sua cidade. Há Porto no adepto do FC Porto alfacinha de Alfama que canta o Fado da Sé, há Porto no alentejano que grita pelo brasão abençoado com aquele sotaque cantado, há Porto no londrino que se junta aos seus irmãos portistas em dia de jogo, há Porto nos angolanos, moçambicanos, chineses, brasileiros, colombianos e em todos os homens e mulheres que, tantos deles, nunca viram a torre dos Clérigos e que nunca viram o casario que o Tê descreve. Todos eles trocam os bês pelos vês mesmo que nem uma palavra de português consigam balbuciar. O nosso clube é do mundo mas o seu coração baterá sempre no Porto.
Sim, claro, o nosso passado é um livro de honra de vitórias sem igual. Sem igual mesmo. Um clube de uma cidade pequena, de um país pobre, fez-se um dos maiores do mundo. Ganhou o que nenhum outro clube português ganhou - e muito, muito poucos outros clubes por esse mundo fora - e mais, fez o que nenhuma outra instituição ou empresa portuguesa fez pelo bom nome do nosso país.
E há verdades como punhos: as nossas vitórias não são como as dos outros. As nossas são mesmo contra muito mais do que os adversários que encontramos em campo. São contra um país centralista até à medula que tenta por todos os meios, rigorosamente todos, impor a hegemonia de um clube que medrou debaixo de um manto protetor de poderes formais e informais herdados da ditadura e que convive mal com a democracia, a lei (como é do conhecimento geral) e a igualdade de oportunidades, sem esquecer o ambiente mediático rendido ao mercado (demitindo-se assim de fazer verdadeiro jornalismo) ou, pura e simplesmente, dedicado a agradar aos do costume.
O passado é um país distante. Pouco importa, neste momento ou em qualquer outro, olhar para trás. É o futuro que temos de construir. Devemos recordar os nossos feitos com orgulho, mas sobretudo com a consciência de que nada nos garantem para o futuro. Já sabemos, se o nosso passado nos enche de orgulho, a alguns dos nossos adversários enche de raiva e não da justa ambição de nos igualar, a que os devia obrigar a trabalhar mais e melhor para nos poder alcançar. Digamos que preferem outros meios. Teremos que estar atentos e fazer ouvir a nossa voz.
Mas é, sobretudo, para dentro de nossa casa que temos de olhar. Não se ganhou nos anos 50 como nos 70, nem nos 90 como nos 80 e assim sucessivamente. O mundo, e o futebol com ele, está em constante mudança. O trabalho, a ambição, a dedicação, a capacidade de superação, que são a nossa assinatura, de pouco serviriam se não tivéssemos sido capazes de nos adaptar aos diferentes combates que os tempos foram trazendo. O nosso Presidente é o maior exemplo dessa realidade, ninguém como ele percebeu - e percebe - as mudanças que se foram dando e foi antecipando-as que nos fizemos enormes.
O período que aí vem não será fácil, é premente e fundamental que repensemos, uma vez mais, o futebol do nosso clube. Há todo um novo futebol cujo aparecimento parece inevitável. Um futebol ainda mais globalizado, ainda mais virado para o negócio e que coloca desafios novos e especialmente difíceis de combater para um clube proveniente de um mercado pequeno e com limitações financeiras derivadas desse facto - e não só. O futuro imediato chama-se super liga europeia ou outro nome que se dê a essa ideia infelicíssima de acabar, de facto, com os campeonatos nacionais. É uma barca infernal mas teremos de nela embarcar.
Devemos ter receio destes novos tempos? Claro que não. Temos é de os encarar como sempre: rigor, trabalho e criatividade. A verdade é que a nossa história é feita de superação, de luta constante com forças superiores às nossas e fomos vencendo todas as dificuldades, todos os obstáculos.
O FC Porto está acima dos sócios e adeptos portistas, mas somos nós que o fazemos e desse papel não podemos nunca prescindir. Que nunca uma quimera resultadista ou uma inevitabilidade financeira ponha esse valor essencial em causa. Ganhar é muito importante, mas a alma do clube somos nós, sócios e adeptos, e temos de ser sempre nós a decidir o seu futuro.
Neste dia, esquecer o maior dirigente desportivo de todos os tempos, e que preside ao nosso clube há 35 anos, seria no mínimo uma ingratidão sem desculpa. Não vou repetir todos as homenagens que já lhe fiz, nem lhe vou agradecer pela enésima vez tudo o que fez por mim e por todos os portistas. É inútil, as palavras são escassas para exprimir de forma minimamente cabal a dívida que temos para o Presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, por aquilo que realizou e realizará no futuro.
Vou apenas dizer o que estou certo ele pensa ser o maior elogio que lhe podemos fazer: ninguém ama mais o FC Porto do que ele, ninguém quer mais que os próximos 125 anos sejam melhores que estes últimos do que ele.
Viva o FC Porto.