Vitória livrou-se de boa
O FC Porto foi o campeão. Já toda a gente sabe, mas convém sublinhar o mérito da conquista em nome da paz no futebol. Apresentou um plantel curto e sem cotação no mercado quando a época começou, fez o seu percurso, somou mais pontos, venceu mais vezes, marcou mais golos e sofreu menos. Foi o melhor.
Nos jogos entre os candidatos vincou igualmente a sua pujança, com dois empates e duas vitórias nos confrontos com Benfica e Sporting, a que acrescentou mais dois triunfos nas partidas com o SC Braga.
Enquanto a família portista aproveitou a derradeira jornada para comemorar o seu 28.º título, numa festa valorizada pela bonita e sentida atitude de Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, que voltou a abrir as portas que Rui Rio fechou, em Lisboa e no Funchal decidiu-se o título do segundo lugar. Sem nada de surpreendente a registar.
OBenfica ficou em segundo na classificação e justificou a posição, também em pontos, golos e resultados, com Rui Vitória a desaproveitar soberana oportunidade para provar que há diferenças sensíveis entre quem vê no futebol uma festa de família e quem se serve dele como pasto de discórdia, de chafurdice verbal e de outros estratagemas igualmente intoleráveis em sociedade moderna e civilizada.
As opiniões divergem sempre, mas Vitória teria subscrito uma atitude exemplar se fosse capaz de separar as águas. Felicitar o vencedor é um rasgo de cordialidade em qualquer modalidade ou competição e Nuno Espírito Santo teve-o há um ano, apesar da tacanhez de espírito de quem o condenou pelo gesto, numa visão estupidamente tribalista.
Anteontem, Vitória poderia ter feito o mesmo. No entanto, preferiu esconder-se por detrás do biombo da vulgaridade. Quanto a mim, mal. Uma coisa é a relação entre treinadores, ora tranquila, ora agitada; outra, diametralmente oposta, é obedecer a bárbaros modelos comunicacionais que expulsaram os jogadores do espaço mediático e quase se substituíram aos próprios treinadores.
É lá com ele, mas, coincidência ou não, do outro lado surgiu o esclarecimento de Alex Telles a propósito da exibição de um cachecol com frase sobre o Benfica durante os festejos no Porto: «Jamais apoiarei o ódio. De uma forma inocente e na euforia, acabei por exibir um cachecol que me foi passado não sabendo o que estava escrito. Respeito toda a gente e todos os clubes, se alguém se sentiu ofendido foi sem intenção e peço desculpa.»
A expressão «alguns tombos» a que o treinador benfiquista recorreu para justificar o penta por um canudo é eufemismo curioso, dito imediatamente a seguir a exibição modesta e em serviços mínimos que, no entanto, entreabre a porta da Liga dos Campeões, com o generoso retorno desportivo e financeiro que isso poderá representar se houver a necessária competência que não se enxergou na época que agora termina.
Não há memória de participação tão negligente e vexatória, sem que até hoje fosse dada uma explicação técnica razoável para se entender a razão do zero total que colocou o nome do Benfica no centro de todas as conversas pelos motivos que se conhecem, absolutamente desprestigiantes.
O título de vice-campeão, acolhido como um mal menor e alcançado sobre a linha de meta, correspondeu a um peso insuportável de que Vitória se livrou, pois, como escrevi antes, se perder o título para o FC Porto, em face das evidências, suscitou pouca discussão, o mesmo não poderia dizer-se, porém, se perdesse o segundo lugar para o rival da Segunda Circular.
OSporting acabou em terceiro, sem margem de espanto. Comparativamente a FC Porto e Benfica somou menos pontos, marcou menos golos e sofreu mais e teve também mais derrotas.
Ao questionar-se a continuidade de Vitória, com seis títulos (dois Campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga e duas Supertaças), que dizer acerca de Jesus, com dois (uma Supertaça e uma Taça da Liga), na possibilidade de três, caso tenha sucesso na final da Taça, no próximo domingo, diante do Aves?
Bruno de Carvalho convenceu-se, ou alguém o convenceu, de que a contratação milionária de Jesus lhe traria sucesso e, inversamente, instalaria o caos na casa do vizinho. Cometeu um erro colossal: primeiro, pelo custo da operação e, depois, por lhe ter aumentado e prolongado o contrato sem resultados que o justificassem. Não tem de se queixar. À primeira todos caem, à segunda cai quem quer. Ora, BdC caiu por duas vezes e, provavelmente, já se deu conta do dispendioso equívoco que foi o processo JJ.
OSC Braga ficou atrás do Sporting, naturalmente, com mais golos marcados e mais sofridos, mas com vantagem em caso de igualdade pontual (vitória e empate). Além de razões de queixa de árbitros/videoárbitros, nomeadamente em dois jogos concretos, em que lapsos evidentes lhe foram prejudiciais e que, a não existirem, lhe teriam permitido, pelo menos no campo teórico, terminar um lugar a acima. Abel Ferreira teve o terceiro lugar na mão e Jorge Jesus esteve à beirinha do quarto…