Viseu como pontapé de saída
1 - No mesmo berço se nasce e se morre. Nasci em Viseu, cresci entre Viseu e Lisboa, vibrei com o Viseu e Benfica e o Académico de Viseu, acompanhei o Lusitano de Vildemoinhos e os Repesenses. O nosso berço é a nossa alma e a nossa âncora, o nosso refúgio e a nossa esperança, o nosso reencontro e a nossa memória. Nesta semana o nosso João Félix foi justamente homenageado pelo Município de Viseu e pela mão e voz do seu Presidente, Almeida Henriques, outorgado como Embaixador de Viseu. Algumas vozes, poucas, não entenderam a cerimónia. Se fosse numa qualquer Junta de Freguesia de Lisboa era um momento. Em Viseu, nessa pátria do interior que sofre, era uma perplexidade. O certo é que, no Rossio que tanto frequentei, estavam jovens e menos jovens que partilhavam a alegria que se sentia e que expressava o reconhecimento de Viseu a um jovem que está a pôr a nossa cidade no mapa da visibilidade contemporânea. E João Félix e a sua Família ao aceitarem esta homenagem e este reconhecimento mostraram que sabem e sentem que «no mesmo berço se nasce e se morre». Nós que conhecemos a Cava de Viriato e sabemos que Viseu viu nascer o nosso Rei D. Duarte, nós que percorremos o Fontelo e a Sé monumental, nós que estudámos o Senhorio de Viseu - em particular D. Constança Manuel - e que temos orgulho no percurso do Bispo Alves Martins gostamos que milhares de espanhóis e outros amantes do futebol conheçam, a partir de João Félix, a nossa cidade e a secular nossa identidade, a nossa história e as nossas gentes, os nossos heróis e as nossas referências. E nestas estão nomes grandes do nosso desporto e da nossa literatura, da Monarquia e da República, da nossa vida cívica e da nossa vida religiosa. E é este orgulho do que fomos e a certeza do que somos que se sentiu esta semana em Viseu. A homenagem a João Félix foi, também ela, um duplo pontapé de saída. Antecipou a oferta que o Atlético Madrid fez chegar ao Benfica - em rigor à Benfica SAD - e antecipou o arranque da pré-época do futebol europeu. E numa semana em que se disputou a primeira pré-eliminatória da Liga Europa. Com clubes de Andorra e San Marino, do Luxemburgo e do País de Gales , entre outros. E com o clube de Andorra, o Engondany, a ser treinado por um português, Filipe Busto! É mesmo o pontapé de saída da época 2019/2020!
2 - Para além do pontapé de saída nos relvados vivemos tempos de saídas nos diferentes plantéis da Europa. Num momento em que o Mundial feminino que decorre em França conhece os semi-finalistas, o CAN fica a saber, a partir de hoje, os qualificados na fase de grupos e na Copa América também já temos nota das seleções que marcam presença nas meias-finais. E com os clubes titulares dos jogadores a saberem que eles só lhes chegarão no princípio de agosto. Ou seja, em muitos casos, nas vésperas do arranque das respetivas Ligas ou, até, na antevéspera do primeiro jogo de uma relevante pré-eliminatória de acesso à atrativa fase de grupos da Liga dos Campeões. E se na Europa, e com a exceção masculina do Europeu de sub-21, é tempo de arranque, no Brasil e no Egito é tempo de decisivos encontros para a conquista das duas principais Taças continentais. Com o Brasil com lugar garantido nas meias finais e o Egito disputando hoje com o Uganda o primeiro lugar do grupo A do CAN. Uns dão o pontapé de saída da nova época e outros estão a dar os derradeiros pontapés da época 2018/2019. Mas é tempo de desfrutarmos com o futebol que se joga. Com estádios cheios - no Mundial feminino de França - e com outros meio vazios como no Brasil e no Egito! Singularidades e especificidades destes tempos!
3 - A pré-época do Benfica - onde a palavra de ordem tem de ser humildade já que faltam mais de cinquenta jogos para a confirmação da reconquista nacional e para a afirmação da reconquista europeia, desígnio estratégico, na minha opinião, na época que amanhã arranca! - vai receber cinco jovens que a Academia do Seixal desenvolveu, potenciou e acarinhou. Pedro Álvaro (defesa-central), Nuno Tavares (defesa esquerdo), David Tavares, Tiago Dantas e Nuno Santos (todos médios) estarão sob direta observação de Bruno Lage que, aliás, bem os conhece. Acredito que o Benfica, este Benfica cujas ações atingiram esta semana um novo máximo, terá nestes jovens, para além de efetivas promessas, indiscutíveis talentos na linha dos outros seis - Rúben Dias e Ferro, Zlobin e Jota, Florentino e Gedson - que ajudaram o Benfica à reconquista. E esta mistura de talento e disponibilidade, de sagacidade e humildade, de vontade e de fé, de convicção e de paixão, terá de ser, uma vez mais, o fator para um vitorioso pontapé de saída da nova época. Derrubando e eliminando a palavra euforia e proclamando que cada jogo é uma final e que depois de cada jogo o que se programa é o jogo que se segue. E sabendo que mesmo quando se vence há erros que se cometem e quando não se ganha há momentos que devem ser reconhecidos e, até, enaltecidos. Desta forma se consolida o coletivo, se afirma o espírito de grupo e se fortalece o balneário. Que é, afinal, o ponto de encontro e, sempre, o porto seguro!
4 - No domingo passado o Casa Pia, os gansos pretos, conquistaram o Campeonato de Portugal. Cândido Oliveira foi uma dos grandes impulsionadores dos gansos e o Casa Pia era, nas décadas de 30 e 40 do século passado, um dos grandes de Lisboa, a par do Benfica, do Sporting e dos Belenenses. O outro finalista foi a União Desportiva Vilafranquense. E, aqui, e acompanhando as lúcidas e sempre sagazes análises históricas do Professor Alcino Pedrosa - vale a pena conhecer! - direi que a biblioteca da União foi, num determinado período, dirigida por Alves Redol, um do grandes escritores do século XX. E a biblioteca que acolhia livros proibidos chegou a ser dividida, para efetiva segurança e salvaguarda, pelas casas de diferentes dirigentes e os livros, estes livros, eram lidos e conhecidos. E este sinal de resistência, que se multiplicava em outras instituições desportivas, tem de ser conhecido e reconhecido. Nestes tempos em que só se fala em intromissões ilegais - e que intromissões Deus meu! - e em comissões legais. E que comissões! Mas o que reafirmo é que «no mesmo berço se nasce e se morre». Sou viseense e com orgulho. Como também disse, numa humildade que registo, o meu conterrâneo João Félix. Boa sorte! Muitas felicidades!
5 - A chegada do antigo internacional português Tiago à Cidade do Futebol e, em concreto, à estrutura técnica das Seleções Nacionais de formação é uma boa notícia. Diria, mesmo, uma grande notícia. Conheceu o futebol português e o grande futebol europeu. Sentiu o dinamismo em grandes clubes - Braga e Benfica, Chelsea e Juventus, Lyon e Atlético Madrid - e envergou por 66 vezes a camisola da nossa seleção. Sabe o que é o futebol de hoje e conheceu o futebol por dentro e em tempos de mudanças. É um bom momento federativo. É um instante de reconhecimento e com a consciência que Tiago vem acrescentar valor. Um dos vetores estratégicos da Federação Portuguesa de Futebol: acrescentar valor! Boa sorte! Muitas felicidades!