Vieira em forma
Jorge Jesus está diferente, clama quem o conhece bem, e, sem reticências, assumiu a sua responsabilidade por não ter conseguido retardar a transferência de Rúben Dias para o Manchester City, uma mudança natural, aliás, e até elogiável, por vincar a excelência do trabalho que está a ser desenvolvido na academia do Seixal e a procura pelos jogadores lá formados, na maioria dos casos com mercado alto e em lista de espera para darem o salto assim que a oportunidade se lhes deparar.
O capitão encarnado de há muito ameaçava, era uma questão de tempo, diria mesmo que se tratava de uma inevitabilidade apesar das balelas que choveram da parte de quem se perfila como alternativa eleitoral para se aproveitar da obra feita e das contas em dia.
Rúben vai jogar na melhor Liga do mundo, ou na mais apreciada de todas, como se quiser, e vai reencontrar na sua nova equipa Bernardo Silva, João Cancelo e ainda Ederson, prova provada de que a formação do Benfica, além de reconhecida e elogiada, tem prestígio internacional, revela boa saúde e recomenda-se, por estar alicerçada numa organização competente que funciona em instalações modernas e de enorme qualidade, ao nível do que melhor existe no mundo, dando corpo a grandioso projeto em permanente evolução, idealizado e edificado por um presidente com espantoso sentido de futuro.
Às barbaridades, invejas e maledicências Luís Filipe Vieira responde com a obra que está à vista de todos, embora inacabada, porque o seu espírito irrequieto e inovador impede-o de ficar quieto, sempre com um Benfica maior e mais forte no horizonte.
O interesse de Pep Guardiola há muito que deixara de ser um segredo guardado a sete chaves para se transformar em namoro que reunia as condições necessárias para ter um final feliz. Era uma questão de tempo, parecendo-me sincera a pena de verem partir um produto do Seixal, um capitão, um jogador da Seleção, como destacou o treinador do Benfica.
Não é fácil contratar um central para contrapor ao valor de Rúben Dias, acentuou Jesus, mas é assim a vida. Em face dos números, e em cenário de crise profunda, trata-se de um grande negócio do ponto de vista financeiro e desportivo: o Benfica vê valorizado mais um produto da sua formação sem ferir a consistência da sua estrutura defensiva, dado receber em troca um internacional argentino de menos futuro, sim, mas, indubitavelmente, com imensa experiência.
As coisas são como são e jovem formado em Portugal que sinta o seu talento comentado nos grandes mercados europeus é evidente que, apesar do amor que possa sentir pelo emblema formador, não descansa enquanto não receber o convite que lhe permita atravessar a fronteira e ser recebido em mais atrativos campeonatos, com a certeza de contratos impossíveis de alcançar na nossa periférica e remediada liga, com nenhuma visibilidade nos mais ricos mercados onde estão os milhões a que só os mais poderosos clubes dos países com mais influência no mundo conseguem ter acesso.
Foi Jesus quem expressou a sua surpresa pelo crescimento e modernização do Benfica entre a data da sua saída, em 2015, e do seu regresso, em 2020. Cinco anos apenas e, no entanto, a estrutura encarnada, como destacou o treinador escolhido por Vieira para a retoma europeia, não parou de crescer e de se robustecer.
A venda de Rúben Dias, além de magnífica operação financeira em período de crise severa, agradou a toda a gente diretamente envolvida no negócio. Dito de outra maneira, recusá-la seria uma decisão claramente prejudicial para os interesses da águia e, sobretudo, para o jogador em causa, o qual não veria com bons olhos se lhe fosse coartada a possibilidade de, como costuma dizer-se, assegurar já a sua estabilidade pessoal, profissional e familiar na medida em que vai passar a auferir uma verba anual que o Benfica, apesar de dever ser o emblema que mais generosas tabelas salariais pratica, não tem condições de rebater, nem sequer de aproximar-se.
Os sócios que vivem o clube percebem e os candidatos ao lugar de Vieira também, porque fariam exatamente o mesmo, apesar de jurarem o contrário. Não é política, é futebol, mas as técnicas utilizadas na manipulação de massas são idênticas.
O ‘jovem’ Veríssimo
Fábio Veríssimo foi perentório ao assinalar penálti contra o Paços de Ferreira por braço na bola do jogador Douglas Tanque. O VAR deve ter validado a decisão. Em A BOLA TV, quando o jornalista João José Pires me questionou sobre o caso, respondi que aceitava a decisão, mas, tratando-se de um lance complexo, os esclarecimentos que se impunham deveriam ser dados pelos especialistas na matéria.
Segundo aqueles que pude ler, parece que o árbitro meteu água, mas o que me surpreendeu foi Duarte Gomes considerar Fábio Veríssimo «um árbitro ainda jovem [37 anos], com qualidade e margem de progressão». Claro que sim, concordo, mas ele é internacional desde 2015. Já passaram cinco anos: ou ele progride muito devagarinho ou haverá outro problema a atormentá-lo que me escapa…