Valores perdidos
Ao longo destes últimos anos temos assistido a uma degradação generalizada dos valores fundamentais de uma competição desportiva. O respeito pelos adversários foi desaparecendo, chegando ao ponto de não o termos pelos nossos próprios jogadores, funcionários e adeptos. Os dirigentes no futebol profissional chegam ao topo e apenas lhes interessa ganhar, seja de que forma for, para manterem a posição.
O argumento clássico, populista, de que o importante são os adeptos, cria uma manta protetora que provoca a divisão, entre estes, suficiente para os manter seguros. A desilusão da derrota, a frustração de não se ter conseguido melhor prestação, o reconhecimento das capacidades do adversário, mas também o sabor da vitória, o golo aos 90 minutos, o desesperar pelo apito final, sempre com o coração a bater em ritmo acelerado, fazem parte de um processo de educação desportiva fundamental para se respeitar os intervenientes no jogo. Falta educação e cultura desportiva no futebol português. Quem não defende de forma fanática um dos três maiores clubes corre o risco de ser considerado inimigo pelas suas próprias gentes. Os adversários são agora inimigos, mesmo que alguns não o digam abertamente, cultivando esse ódio de forma mais subtil.
O clima de violência está instalado há muitos anos, seja nos estádios ou na comunicação social. Vale tudo para defender o clube e o presidente, vale tudo para acusar adversários e seus dirigentes, que passam a ser os causadores principais de todos os males do futebol. Os responsáveis por este estado de sítio são muitos, começando pelo poder político, que ao longo dos anos tem medo de se intrometer em matérias que são de interesse público, mas que queimam, invocando o direito ao livre associativismo. Ridículo e cobarde. A cumplicidade dos agentes desportivos com estas situações também não fica atrás. Temos sempre uma desculpa para justificar este clima de ódio. Mas chegou a hora de nos unirmos e dizer basta.