Unir contra o ódio todos os que gostam de futebol
Oavançado do Famalicão Fábio Martins, depois de ter dito na flash interview após o jogo com o Benfica, para as meias-finais da Taça, que o seu clube dominou e merecia ter ganho, recebeu uma torrente de mensagens de ódio. De tal modo que foi ao Facebook dizer que não quisera insultar ninguém, nem o tinha feito. E acrescentou: «É execrável a quantidade de mensagens de ódio e de insultos que nós, jogadores de futebol, recebemos.» Tem toda a razão. Nos comentários que restam ainda se vê, no meio de elogios e de benfiquistas que discordando o fazem de forma elegante, uma enorme quantidade de insultos.
Sei o que é isto, embora não seja jogador de futebol. A sociedade está radicalizada toda ela - é certo - mas no mundo do futebol ultrapassa todas as marcas. E, com pena pessoalmente acrescento, com especial agressividade no Sporting.
A que se deve tamanha hostilidade? O que leva um conjunto de pessoas a ameaçarem e agredirem ou tentarem agredir, dois dirigentes do Sporting (sendo eles, presuntivamente, sócios do clube) e a não poupar sequer a filha de um destes? Que cobardia é esta? Que tipo de seres humanos se sentem?
Não há dúvida de que os sportinguistas, sendo ou não adeptos da Direção, gostando ou não de Varandas, estando mais ou menos pesarosos pela época fraquíssima a que temos assistido, devem tomar posição. Aquilo é inadmissível! E não é matéria em que alguém se esconda ou se cale por cálculos de poder. Todos os que gostam do Sporting e daquilo que o Sporting sempre representou têm o dever de apontar a porta da rua a tal gente, aos que os dirigem e a todos os que se envolveram nos sucessivos desacatos a que temos assistido. O Sporting Clube de Portugal não é para pessoas daquelas.
Quando era miúdo e ia ao velho Estádio de Alvalade, mostrava-se o descontentamento com os árbitros, com os jogadores, ou com os dirigentes atirando para o relvado as almofadas (que tornavam mais confortáveis as bancadas de cimento). Jamais me lembro de violência (salvo vernacular ou manifestações de assobiadelas). E não! Não era um clube de viscondes, como alguns agora dizem. Tinha muita gente de todas as classes, inúmeros populares que enchiam o peão (havia peão) e as cabeceiras.
É em nome deste passado, que fez do Sporting um grande clube, mas um clube sempre diferente, que nos temos de unir contra aqueles que o querem destruir e com isso nos querem destruir. A todos! Não a esta Direção em particular, ou a este treinador que hoje lá está. Mas a todos os que têm o Sporting impregnado na sua forma diferente de estar e de ser.
AG que não há
A Mesa da Assembleia Geral decidiu por unanimidade que não havia lugar a uma AG destitutiva da Direção. Já a semana passada aqui disse que não entendo os nossos estatutos e que defendo a sua mudança. Não devo entrar em aspetos técnicos que não conheço a fundo. Ouvi bons argumentos jurídicos para dizer que a mesa não tinha a faculdade de negar a assembleia e argumentos excelentes, também jurídicos, a explicar que podia e devia. Como quase sempre, no que diz respeito à interpretação do Direito e de instrumentos como Estatutos, a doutrina diverge.
Permitam-me, pois, que entre pelos aspetos mais políticos. A verdade é que se aceitássemos que a justa causa pode ser determinada por resultados desportivos, por apostas erradas em jogadores ou por escolhas polémicas de treinadores, entraríamos num ciclo sem fim. Não faria o menor sentido. Por outro lado, se entendermos que os representantes de todos os sócios, que têm por dever resguardar o clube e preservar o seu património são o presidente e a Mesa da AG, então tendo a concordar com Rogério Alves. Sobretudo porque há um claro conflito de valores: a defesa do clube e a defesa de uma literalidade estatutária, no qual tendo para o primeiro.
Aliás, aproveito para dizer, que apesar de os antigos dirigentes terem sido destituídos por enorme maioria numa AG, e depois visto as suspensões decretadas aprovadas por enorme maioria noutra AG e as expulsões de alguns igualmente confirmadas, não podemos ter como exemplo algo que se seguiu à mais negra página do Sporting, que foi o assalto a Alcochete. Mais uma vez não usando linguagem jurídica, que não me compete nem sei usar, acusei, no mesmo dia do assalto, o presidente demitido de autoria moral. Não por ter instigado diretamente (disso não faço ideia), mas por ter, num crescendo louco, criado as condições para que alguns fanatizados, como os que vimos no passado domingo, terem a funesta ideia de assaltar a Academia, provocando a debandada em massa de vários jogadores. Comparar essa situação com a atual não passa na cabeça de ninguém.
No entanto, para que não haja dúvidas no futuro, acho imperativo, como escrevi várias vezes, rever estes estatutos. De modo a que os sportinguistas se revejam, com naturais e saudáveis divergências e pontos de vista, numas regras iguais para todos e que a todos sirvam de modelo. Separando poderes, permitindo duas voltas na escolha do presidente e Conselho Diretivo e acatando a representação de minorias no Conselho Fiscal que, provavelmente, deveria ser diferente do Conselho Disciplinar (também eleito por método de Hondt).
Mais VAR
AGORA que o presidente do Benfica se lembrou de que queria árbitros estrangeiros (não se percebe porquê, porque com árbitros estrangeiros o Benfica tem um saldo bastante negativo entre vitórias e derrotas, vejam-se as campanhas europeias medíocres), penso que seria altura de aqueles que gostam de transparência no futebol exigirem mais VARIA quem diga que tira emoção ao jogo. Pode ser que seja verdade, mas uma forma de lhe conferir mais emoção seria, por exemplo, fazer como no râguebi: ouvirem-se as comunicações entre o árbitro de campo e o que está na Cidade do Futebol. Mais emoção ainda se nos ecrãs dos estádios (que os têm) e nos das televisões se visse o que se está a ver na Cidade do Futebol, ou o que o árbitro de campo vê quando consulta as imagens. Querem mais emoção? Permitir ao árbitro de campo que comunique a todo o estádio (e também a quem segue as transmissões) por que motivo marcou determinada falta.
Acabariam as discussões? Nunca! Mas tudo se tornaria bastante menos opaco. E quem lutou sempre por mais transparência não deve recuar nessa diligência.
E há mais: o regulamento do VAR deveria ser objeto de algumas revisões. Como, por exemplo - e para apenas falar da mais flagrante - poder intervir quando se trata de um segundo amarelo, que determina a expulsão de um jogador. Só nos últimos quatro jogos que vi com a atenção devida, ficaram outros tantos por mostrar. Dois deles sobre o mesmo jogador, curiosamente.
Penso que com medidas destas, não só se preenche o tempo morto provocado por comunicações e dúvidas que não conhecemos, como poderia servir de pedagogia para os espetadores bem-intencionados, caso considerassem as decisões certas.
Aliás, a este propósito devo dizer que não entendo por que razão as repetições de certas jogadas, nomeadamente dos golos, não surgem nos ecrãs dos estádios. No jogo contra o Portimonense tive de recorrer ao telemóvel para perceber que não fora Sporar a marcar o segundo do Sporting, mas que se tratara de um autogolo de Jadson.
Resumindo, combatendo o ódio, organizando e defendendo melhor os clubes e aumentando a transparência, podemos ter um espetáculo de futebol ao nível do que gostamos… e pagamos.