Uma nota de alerta
O Sporting Clube de Portugal e a sua sociedade anónima desportiva não parecem associações com fins desportivos, mas um fórum permanente de discussão, designadamente de questões jurídicas. Não pode ter bons resultados de outra ordem.
Depois de Alcochete, foi a questão jurídica, se assim pomposamente se pode qualificar, da comissão transitória nomeada pelo Conselho Directivo, que o tribunal, como não poderia deixar de ser, considerou ilegal. Um tempo triste para o Sporting e para o Direito, que se não fosse triste, muito triste mesmo, faria do ridículo um admirável quadro de uma revista à portuguesa. Foi também um tempo de providências cautelares, em que o Direito prevaleceu, mas que pouco aproveitou ao Sporting.
O tempo actual também é um tempo de discussão jurídica sobre se deve ou não haver assembleia geral destitutiva, se estão ou não reunidos os pressupostos formais, se há ou não justa causa para destituir. Seria um tempo interessante, se o Sporting tivesse tempo para tempos interessantes, sem pensar no que é importante.
É também um tempo interessante no domínio do direito penal definir e julgar o que se passou em Alcochete em Maio de 2018. Seria também um tempo interessante de discussão jurídica, se o Sporting tivesse tempo para discussões jurídicas, em vez de olhar para Maio de 2018, sobre o que ele significa e as ilações que tem de se tirar para o futuro. Devemos é olhar para ele, como muitos de nós olhámos e olhamos para outro Maio, mas de 68!
São todos tempos actuais de discussão jurídica muito interessantes, mas sem grande interesse para o futuro do Sporting, que não deixa de ser também uma questão jurídica, como é o caso de uma urgente revisão estatutária. Essa sim é uma questão jurídica interessante e fundamental, mas tem de ter subjacente uma discussão e definição do rumo a seguir, porque sem isso a solução poderá ser jurídica, mas com consequências que não serão aquelas que queremos.
É por isso que, com um pedido de desculpas a quem assim não pense, eu digo que não é importante que haja ou não haja assembleia destitutiva, que se houver haja alguém destituído ou não, que, se não houver, alguém se demita ou queira continuar. O Sporting não tem nada a ganhar com isto, porque o seu problema não é de pessoas, nem conjuntural. É um problema estrutural, e por isso vão-se uns e vêm outros, para mais tarde seguirem o caminho daqueles que substituíram.
Não creio que o problema do Sporting seja do foro jurídico, mas, de imediato, um problema médico. O clube e a sua SAD estão doentes, a doença é grave, não se trata com comprimidos e muito menos com golpes de comunicação ou outro tipo de coisas apenas para desviar as atenções. Muito menos se pode assobiar para o lado! O diagnóstico está feito, mas parece que ninguém quer estudar ou apresentar soluções. A continuar assim, o futuro do Sporting será manifestamente um caso de negligência médica.
Uma nota de boa disposição...
NO final do jogo Braga-Sporting e a pensar na arbitragem a que acabara de assistir, lembrei-me, não sei bem porquê, de uma velha história que, verdade ou anedota, me dá a mim, ou a quem a reproduzo, enorme vontade de rir.
Duas velhas amigas dos tempos de liceu, que nunca mais se tinham encontrado, deram de caras num centro comercial, e depois de cumprimentos efusivos, com beijos e abraços, chegaram ambas à conclusão que eram casadas e cada uma delas tinha uma filha, já crescida. E disse uma delas falando da sua: ‘Olha a minha filha é uma mulher de sucesso, e está muito bem na vida. Não tirou qualquer curso superior, mas apenas um curso de dactilografia, e foi trabalhar para uma empresa, onde rapidamente singrou, por ser muito considerada pelo patrão, que a promoveu social e materialmente, ao ponto de já ter um T3 de luxo, um carro topo de gama, veste-se com roupa das melhores marcas, muitas vezes comprada no estrangeiro, onde frequentemente se desloca, em serviço, com o referido patrão.’
Terminada a descrição da próspera vida de sua filha, questionou a velha amiga: ‘então e a tua? Resposta desta: a minha também é p..., mas não tirou o curso de dactilografia!...’
No dia seguinte, num restaurante, comentando criticamente a arbitragem da véspera com um amigo, disse-me este, contestando-me: ‘Jorge de Sousa é um dos melhores, senão o melhor, árbitro português da actualidade!’
Mudando de conversa, retorqui: ‘o Zé do Telhado foi um famoso salteador português, mas nunca arbitrou!...’
Uma nota triste
Écom mágoa que o faço, mas não pode ser de outra forma. A cada dia que passa, é mais fácil as pessoas amigas, as que estimo e as que considero desaparecerem. É a lei natural da vida e aquilo que mais certo temos é o fim dela - a morte! Por isso um grande amigo meu, médico e grande médico cirurgião, diz que nunca salvou a vida a ninguém, mas apenas lhes adiou a morte.
Faz precisamente este ano, em Agosto, quarenta anos que tomei posse como Vice-Presidente do Sporting para o Secretariado Geral, nomeado por João Rocha, que assim me fez optar por uma carreira no desporto em detrimento da opção politica que vinha então mantendo, para além da minha profissão de advogado, que foi e será sempre o meu modo de vida, pois é ele que me permite viver em liberdade e independência, dois valores que herdei e cultivo.
Nesse tempo, de mandatos de dois anos, só eram eleitos o Presidente e o Vice-Presidente. O Vice-Presidente e, naturalmente, substituto legal e estatutário de João Rocha, era o Dr. António Carlos Ahrens Teixeira Esteves, um Colega mais velho 17 anos, que então conheci e por quem nutri, ao longo destes quarenta anos, grande estima e consideração, embora estivéssemos estado muitos anos sem qualquer contacto, interrompido recentemente pelos nossos encontros num Centro de Arbitragem, a Concórdia, de que foi um dos fundadores.
Não era manifestamente um homem do futebol, mas da gestão e da diplomacia. E lembro-me um dia, na ausência de João Rocha, dirigir a reunião da Direcção. Levavam horas essas reuniões porque discutíamos e conversávamos muito, sem ordem de trabalhos pré-definida. Eram assim, noite dentro... Mas nesse dia em que António Esteves presidiu a reunião durou apenas uma hora e foi a mais produtiva em que participei. Poucas vezes vi dirigir uma reunião com tanta classe!
Quarenta anos depois, a 31 de Janeiro passado, faleceu António Esteves, um dirigente que esteve pouco tempo, mas deixou a marca da sua personalidade. É tempo de recordar, com uma enorme saudade, os que já partiram dessa direcção: João Rocha, Sousa Marques, Fiel Farinha, Roque Lino, José Dias e agora António Esteves. Restam Xara Brasil e eu. Já não temos quórum, mas, mais cedo ou mais tarde, voltaremos a reunir!...