Uma final em dia de confinamento
‘The Times’ fala em cancelamento dos Jogos de Tóquio, mas a CNN nega, segundo fonte do governo japonês. Melhor será manter a dúvida
S PORTING ou SC Braga? Um dos dois chegará ao fim do dia com um título nacional. Não há favoritos, são dois finalistas com hábitos de grandes e decisivos jogos e duas das quatro melhores equipas de Portugal.
Diz a história que o Sporting é, apesar do enorme crescimento do SC Braga, um dos três grandes e, por isso, teoricamente mais forte. Não há, porém, teoria que resista à dimensão do imprevisível que é tão característico de um jogo de futebol. Daí o encanto muito especial deste jogo. Nem sempre ganha o maior e, às vezes, nem sempre ganha o melhor. Porque o futebol é um jogo de imponderáveis, um jogo que resiste às mais cuidadas análises estatísticas, um jogo que se orgulha desse raro privilégio da diferença. Num tempo em que a sociedade moderna tem a mímica do tudo igual e condena o diferente à condição de uma contrariedade evitável, escondendo que só o diferente decide novos futuros, o futebol destoa da moda da igualdade unida e protege o inalienável direito de ser diferente.
E isso é, indiscutivelmente, uma das fundamentais razões para o futebol ser um jogo de interesse universal, capaz de suscitar entusiasmos e emoções nos cinco cantos do mundo.
Daí que, hoje, num dia de confinamento obrigatório provocado por uma pandemia que se tem abatido sobre o país com uma violência assustadora, a final da Taça da Liga, entre o Sporting e o SC Braga, cause expectativa e interesse nos adeptos de todos os clubes e não apenas nos seguidores dos clubes finalistas. Um pouco mais de hora e meia de entretenimento saudável. Uma necessária fuga ao domínio do medo e da angústia.
N OTÍCIAS chegadas do credível The Times davam conta de que o governo japonês se preparava para anunciar o cancelamento dos Jogos Olímpicos, tentando negociar uma nova data para o ano de 2032. A razão seria tão óbvia quanto poderosa: não haver certezas científicas sobre uma diminuição clara dos efeitos mundiais da pandemia.
Mais recentes, porém, são novas e encorajadoras notícias trazidas pela CNN e que, considerando fontes governamentais japonesas, explicam que a ideia do cancelamento dos Jogos era, apenas, um rumor sem fundamento.
Desejamos que assim seja, mas julgo que será de um realismo legítimo, manter, ainda, alguma dúvida. Em primeiro lugar, porque se trata de uma questão muito sensível e que envolve dezenas de milhares de milhões de euros; em segundo lugar, porque será certamente de bom senso esperar mais um pouco pela evolução da pandemia, à medida que crescerem o número de imunizados com as vacinas disponíveis; por fim, porque o cancelamento dos Jogos seria arrasador para milhares de atletas que, em todo o mundo, muito trabalharam para alcançar o sonho de chegar a Tóquio.
Há, por isso, uma reconhecida atitude de ansiedade no mundo da elite do desporto mundial, que pressiona a realização dos Jogos, mesmo que sem público. E, no entanto, são cada vez mais difíceis as condições dos torneios de qualificação, o que pode, ainda, vir a ser um fator em conta para aquela que será a decisão final.
Não acredito, aliás, que um jornal como o The Times não tivesse tido acesso a uma informação, desta natureza, suficientemente confirmada. Tal como acredito que o governo japonês tenha entendido como mais sensato manter, por enquanto, a confirmação dos Jogos. Oxalá se confirme a versão da CNN. Seria bom para o Desporto mundial, evidentemente, mas seria, sobretudo, uma grande notícia para o Mundo.
O 'milagre' do andebol (2)
Já aqui falámos, neste cantinho, do suave milagre do andebol português, hoje em dia, grande entre os maiores do mundo. E assim continua. Apesar de uma derrota tangencial com a poderosa Noruega, um grande jogo e uma merecida vitória com a Suíça, que nos deixa manter as mais improváveis aspirações. Aconteça o que acontecer, todo o grupo que tão apaixonadamente integra a Seleção de Portugal é merecedor do reconhecimento e dos elogios dos portugueses. Uma boa oportunidade, aliás, para olhar o desporto além do futebol.
O voto desenha a democracia
Amanhã é dia de voto para as eleições presidenciais e também eu, mero observador do estado da Nação, temo um número muito elevado da abstenção. Muitas serão as razões. Do cansaço geral provocado pela pandemia ao legítimo medo de ajuntamentos. Mas não é verdade que não haja por onde escolher e que todas as propostas apresentadas pelos candidatos sejam iguais. Tal como não será verdade a ideia de pouca legitimação de quem vencer. A democracia é desenhada pelo poder do voto, ou seja, de quem quer votar.