Uma desilusão profunda e angustiante

OPINIÃO24.07.202107:00

Mesmo quando os tempos são de tristeza, os Jogos devem celebrar a vida, a esperança, a qualidade humana da superação. É esse o legado do desporto

OS Jogos Olímpicos são a celebração da vida, e, por isso, da alegria, do futuro, da esperança, da imensa capacidade humana da superação, de ir além do previsível, sobretudo, na adversidade. Podem vir guerras, cataclismos, pandemias, tragédias várias. Será sempre profundamente triste, mas a ideia de que o Homem sobreviverá mais forte, mais capaz, mais preparado, mais solidário é um dos mais sólidos e decisivos legados do desporto. Nada como o desporto para provar a transcendência humana. Nada como os Jogos Olímpicos para demonstrar que a esperança maior das sociedades está em sabermos estar juntos, apesar das diferenças, apesar das diversidades e das adversidades individuais e coletivas. Por isso os Jogos são e serão sempre uma festa, tal como nos ensinou - e bem - a delegação portuguesa, ao entrar no Estádio Olímpico plena de alegria e de espírito de alegria.
A cerimónia de abertura dos Jogos, demasiado solenizada e demasiado presa à dureza dos tempos de hoje, foi, por isso, uma profunda e angustiante desilusão.
Claro que era impossível um acontecimento universal como os Jogos Olímpicos passar sem uma forte e sentida homenagem aos profissionais de saúde que, por todo o mundo, têm sido soldados universais contra o vírus. Evidentemente, que, mais do que incompreensível, seria até de uma insensibilidade inaceitável não evocar os que morreram e todas as famílias que têm vindo a sofrer com a pandemia, mas o que o mundo queria ver no lançamento de Tóquio 2020 era acender uma imensa chama olímpica de esperança; com mais ou menos tecnologia, ver um imenso sinal nos céus de que o mundo não deixou de ter futuro e que todos os que irão sobreviver não deixarão de ter direito a viverem o pleno das suas vidas, se possível, no espírito olímpico invocado nos discursos oficiais, de mais igualdade, menos sectarismo, mais solidariedade, mais visão global dos nossos maiores problemas planetários.
Já era demasiado doloroso ver as bancadas desertas na abertura dos Jogos. Demasiado desconfortável ver a solenidade do Imperador e dos convidados especiais a substituir a festa popular nas bancadas. E demasiado deprimente ver a entrada, mais ou menos festiva, das delegações a acenarem para o vazio. Percebe-se, também, que o Japão é um país particularmente marcado pela realização de um evento que custou largas centenas de milhões de dólares contra a esmagadora maioria da opinião dos japoneses. Porém, esperava-se um esforço maior em olhar o interesse geral do olimpismo e, sobretudo, dos mais de onze mil atletas que, em situações muito difíceis, conseguiram a proeza de se qualificarem para os Jogos.
Agora que a chama olímpica está acesa no estádio - um dos poucos momentos que suscitaram entusiasmo - é o tempo dos atletas e esse será, certamente, um tempo aproveitado. Ao longo de cerca de duas semanas, se assistirão a sucessos e insucessos desportivos e cada país se orgulhará dos seus melhores desportistas, elevando-os, como sempre, à categoria de heróis dos tempos modernos.
Todos nós, humanos, que por esses cinco cantos do mundo temos sofrido o terrível impacto da pandemia de Covid-19, que marcou o último ano e meio das nossas vidas, que nos privou de parte significativa da nossa liberdade, que nos afastou de familiares e de amigos, esperamos ter, nestes Jogos, momentos especiais de prazer e de emoção. Não se trata do egoísmo de esquecermos o sofrimento, trata-se, pura e simplesmente, do direito de continuarmos as nossas vidas, o mais depressa que pudermos. Os Jogos podem ajudar.
 

Que a chama olímpica seja de esperança

O MUNDO EM NOSSAS CASAS

Confesso uma certa nostalgia, nestes Jogos Olímpicos. Cobri cinco Jogos. De Barcelona-92 a Londres-2012, passei por todos os continentes. Foram 20 anos pessoalmente inesquecíveis e profissionalmente decisivos na minha carreira. Por isso admito que invejo os jornalistas que têm o privilégio de estar em Tóquio e que nos podem contar como é a vida numa das capitais vibrantes e diversas do mundo, em tempo de pandemia. Sempre o anseio der ler aquelas reportagens vivas, que nos trazem  o mundo a nossas casas.
 

OS BANHISTAS E OS SURFISTAS

Gosto de surf. Não de fazer surf, que não tenho idade para aventuras, mas gosto de ver surfar uma boa onda. Por isso, nada contra os surfistas. Pelo contrário (quase) tudo a favor. No entanto, também gosto de ir à praia na simplória qualidade de banhista e o que tenho notado é que as zonas, normalmente deminutas, marcadas para banhos não são respeitadas pelos surfistas que se exibem sem qualquer tipo de controlo e de respeito por quem apenas quer dar um mergulho sem correr o risco de levar com uma prancha na cabeça.