Uma defesa de milhões

OPINIÃO16.03.202205:30

Benfica volta aos quartos de final com uma exibição defensiva perfeita (Otamendi gigante!) no quinto jogo fora sem sofrer golos. Bravo !!!

S ENSACIONAL vitória e qualificação benfiquista em casa de Cruyff, Amesterdão, num jogo estranho decidido por Darwin Núñez no único remate (digno desse nome) que o Benfica fez em noventa e sete minutos de domínio mais ou menos intenso dos lanceiros. Jogo de sentido único decidido por uma cabeçada vigorosa do flamejante atacante uruguaio num livre cobrado por Grimaldo a cerca de quinze minutos do fim (o guarda redes Onana também ajudou, com saída a destempo). Isto numa altura em que o onze neerlandês continuava a marrar, sem sucesso, contra a muralha defensiva encarnada. Liderada por Otamendi em modo imperial, a defesa do Benfica revelou do princípio ao fim uma coesão e um espírito de entreajuda absolutamente notáveis, bem ao nível desta competição tão difícil e exigente que é a Champions. Esse acerto permanente de Gilberto (que jogo!), Otamendi (cinco estrelas), Vertonghen (outro grande jogo!) e Grimaldo (decisivo) nos desarmes e na antecipação foi corroendo, aos poucos, a confiança do Ajax, que, apesar do enorme domínio territorial, se mostrou ora trapalhão, ora cerimonioso na finalização, de pouco lhe valendo as oportunidades de golo criadas e desperdiçadas por Haller, Tadic, Antony e Gravenberch.
É público que o guarda-redes Vlachodimos tem sido o grande herói benfiquista na Champions, mas ontem não foi só ele a brilhar intensamente. Foram todos, sobretudo os quatro defesas de raiz, embora a equipa tenha estado sempre muito junta e solidária.  Por alguma razão a defesa encarnada, em cinco jogos fora nesta Champions, só sofreu golos num jogo, Munique (cinco). De resto, clean sheets em Moscovo (0-0), Eindhoven (0-0), Kiev (0-0), Barcelona (0-0) e Amesterdão (1-0). Bravo Benfica, uma campanha finalmente à altura dos teus ilustres pergaminhos europeus! E depois do FC Porto, que chegou há um ano aos quartos para cair com o futuro campeão europeu (Chelsea), Portugal volta a ter um representante nos últimos oito.
Uma vitória com laivos épicos pela fortaleza mental mostrada pelo Benfica face ao acosso permanente do Ajax, sobretudo na primeira hora. As águias eliminam a equipa holandesa pela primeira vez (Cruyff e Eusébio viram o jogo juntos lá em cima) e marcam presença nos quartos de final pela quinta vez na era Champions. O interino Nélson Veríssimo junta-se assim a Artur Jorge (1995), Ronald Koeman (2006), Jorge Jesus (2012) e Rui Vitória (2016) no lote dos treinadores encarnados que conseguiram essa façanha, mas é justo lembrar que foi com Jesus no banco que o Benfica conseguiu a qualificação para a fase eliminatória - num grupo com Bayern e Barcelona. E agora, venha quem vier, o estádio da Luz vai abarrotar de gente e entusiasmo no jogo dos quartos de final. Que pode ser contra Real Madrid, Liverpool, Bayern, Manchester City ou Atlético Madrid… e possivelmente, Chelsea ou Juventus.
O Benfica regressa a casa com a imagem europeia e a conta bancária claramente reforçadas. Nunca esquecer que a Champions é a competição europeia de excelência, o palco onde jogadores e treinadores valorizam as respetivas cotações e onde os clubes fazem os grandes negócios. O triunfo de Amesterdão, no estádio onde o Benfica perdeu cruelmente a final da Liga Europa de 2013, mantém os adeptos ligados à equipa e serve de consolo (em face da pobre campanha doméstica) àqueles que têm noção do que foi o grande Benfica europeu e da recuperação que o clube tem de encetar nesse capítulo. Ontem foi dado um belo passo.
 

Liderada por Otamendi em modo imperial, a defesa do Benfica revelou coesão e espírito de entreajuda absolutamente notáveis


E AGORA, CRISTIANO?

TRÊS dias depois de se tornar o maior goleador de todos os tempos, Cristiano Ronaldo  (acompanhado de Dalot e Bruno Fernandes) despediu-se da prova onde é rei absoluto. O Man. United não conseguiu bater Oblak e os gladiadores de Simeone passaram em Old Trafford (1-0) graças a um golo do lateral Lodi numa jogada com intervenção de João Félix. Entre dois projetos futebolísticos medíocres, seguiu em frente o mais feliz. Para Ronaldo, trata-se da terceira eliminação consecutiva nos oitavos de final (há um ano caiu com o FC Porto; há dois anos com o Lyon) e a presença na próxima Champions está claramente em perigo, uma vez que o United nem sequer está nos lugares de qualificação. Nuvens cinzentas no horizonte… 

PS - O ranking dos dez maiores goleadores de sempre segundo a FIFA: Cristiano Ronaldo (807 golos); Josef Bican  (805); Romário (772); Lionel Messi (759); Pelé (757); Ferenc Puskás (746); Gerd Muller (734); Ferenc Deák (576); Uwe Seeler (575); Túlio (575). Que orgulho ser português o recordista absoluto do capítulo mais importante do futebol: o golo. 807 vezes bravo, Cristiano!


SC BRAGA E FC PORTO: REPITAM 2011

E RA muito bom que os dois sobreviventes portugueses na Liga Europa conseguissem repetir, onze anos depois, a incrível façanha de 2011, quando disputaram em Dublin a primeira e única final europeia integralmente portuguesa (o FCP ganhou por 1-0 com um golo de Radamel Falcao). Enfim… talvez seja pedir muito porque os tempos são outros e nem o SC Braga (Artur, Miguel Garcia, Custódio, Hugo Viana, Alan, Vandinho, Mossoró, Lima, Meyong…) nem o FCP (Rolando, Otamendi, Fernando, Guarín, Moutinho, Hulk, James, Falcao, Varela…) têm hoje plantéis tão fortes como esses. De qualquer forma, há uma coisa que os une amanhã: a necessidade de eliminarem adversários franceses para chegarem aos quartos de final. O FCP tem a tarefa mais difícil porque o Lyon, apoiado pelos seus ruidosos adeptos, está em vantagem e parece, comparativamente, bem mais forte que o Mónaco. É claro que o líder do campeonato tem fibra e categoria para chegar lá e resolver a eliminatória, mas convém lembrar que por alguma razão (não somente o azar…) esta tem sido a campanha europeia mais modesta do FCP em muitos anos… apenas duas vitórias em nove jogos, sete golos marcados contra 15 sofridos (!) e três derrotas em casa, algo que nunca tinha acontecido na história europeia do clube. Claro que os adversários não têm sido nada fáceis (Liverpool, Milan e Atlético na Champions; Lazio e Lyon na Liga Europa), mas o FC Porto tem galões e currículo de grande europeu
Quanto ao SC Braga, que repita a exibição das primeiras partes com Sheriff Tiraspol e Mónaco e saiba jogar com a confortável vantagem (2-0) que transporta para o Principado. Pede-se foco, paciência e lucidez, até porque o Mónaco, pelo que mostrou em Braga, parece perfeitamente ao alcance. Mas não se esqueça: só defender costuma dar mau resultado.