Uma coisa é a perceção, outra, muito diferente, a provocação
Quando na semana passada aqui escrevi que o Sporting andava a jogar mal, alguns dos meus consócios fizeram-me ver, simpaticamente, que apesar de na altura em que eu tinha escrito tais palavras virmos de uma derrota com o Tondela, logo na mesma noite ganháramos 2-0 ao Rosenborg, na Noruega e no último domingo vencêramos 2-0 o Belenenses SAD. Quatro golos marcados e nenhum sofrido, nada mau.
De facto, os resultados foram bons e sou o primeiro a ficar contente com isso. Mas deixem-me dizer algo em nome da verdade: o Rosenborg não ganhou um único jogo dos quatro que fez na Liga Europa e o único jogo, até ter apanhado o Sporting, no seu estádio saldara-se por uma derrota por 1-4 com o PSV. Aquele PSV com quem vamos jogar e a quem temos de ganhar no dia 28 deste mês, se queremos uma passagem tranquila e sem calculadora à fase seguinte. O falso Belenenses, ou SAD, é uma equipa que está em 15.º lugar da I Liga com tudo o que isso quer dizer. Ou seja, não foram vitórias com equipas ao nível do que deve ser o Sporting.
Ainda assim, poderíamos ter feito exibições regulares, ou medíocres. Mas não. Foram mesmo más. A primeira parte do jogo com o Belenenses foi tão penosa que quase tive vontade de abandonar o estádio. Só não o fiz para não me confundir com alguns (poucos) circunstantes que dizem ser do Sporting e vão a Alvalade insultar jogadores, Direção e presidente. Jogámos mesmo mal, acreditem os que não viram o jogo, porque todos os outros só podem concordar em que eu estou a dizer a verdade.
Há quem ache que não é oportuno dizer que a nossa equipa joga mal, ou tem carências, ou jogadores que não se percebe o que andam a fazer. Enfim, acham mal que se critique as exibições. Quero a esse propósito dizer duas coisas: critico exibições, treinadores, dirigentes e quem entender, porque parafraseando Aristóteles, gosto muito do Sporting, mas gosto mais da verdade; a segunda coisa é que se não encaramos a verdade, jamais conseguiremos alterar os erros.
Enfim, não foram os golos de Coates e Bruno Fernandes, contra o Rosenborg, nem os dois de Vietto contra o Belenenses que mudaram a essência do jogo do Sporting. Da mesma forma que uma andorinha não faz a primavera.
Olhamos para o lado e o que vemos? O Benfica, além de na Europa ser um desastre total, jogou com o Santa Clara de forma miserável. O Porto conseguiu levar um baile do Rangers e ganhou atabalhoadamente ao Boavista, que aliás não jogou nada. Estes são os grandes clubes portugueses da Liga que é das mais fracas em termos de tempo de jogo jogado, ficando atrás de II ligas de outros países. É este o nosso futebol…
Ainda a célebre AG
Andam uns sócios a recolher assinaturas para demitir a atual Direção. Gostava de perceber porquê, qual o motivo. Aliás, penso que os próprios (são dois grupos, ao que parece diferentes), também gostariam de saber os fundamentos para tal demissão, pois recolhem assinaturas sem explicitar em que se baseia o pedido. Dizem que não há problema, porque há juristas disponíveis a produzir essa fundamentação de destituição com justa causa. É boa! E democrático! Assinar-se um papel para se demitir alguém por um motivo que me hão de dizer qual é. Por amor de Deus, só pode assinar tal papel quem não estiver de boa fé ou quem não perceber minimamente o funcionamento de um clube e dos seus órgãos.
A perceção de que a época foi mal planeada, de que a equipa anda a jogar mal, de que o treinador experimentou táticas e posicionamentos no terreno como quem muda de camisa, existe e é bastante generalizada. O presidente e os dirigentes bem podem argumentar que já estivemos pior e que a época passada foi a melhor dos últimos 17 anos… a perceção - devem compreender - é aquela e nem sequer é demasiado injusta. Mas uma coisa é a perceção, outra é a provocação.
E a provocação está dentro do estádio e do pavilhão quando um conjunto de pessoas que são adeptos deles próprios, que não do Sporting, gritam pela demissão do presidente. Ou quando vão a festas ou galas do Sporting e insidiosamente deixam apelos à demissão de Varandas nas mesas desses eventos. Provocação é querer demitir uma Direção sem que esta tenha cometido algum delito estatutário ou regulamentar.
A mesa da AG não pode sequer admitir (por muitos votos, assinaturas e dinheiro que existam para promover a Assembleia Geral) uma Ordem de Trabalhos daquela índole. Isso seria abrir um precedente que liquidaria o Sporting e qualquer clube.
Já escrevi que se o presidente e a Direção tiverem a perceção de que não podem fazer melhor, deviam ponderar a sua demissão. Mas pelo seu pé. Nunca me verão a exigir a demissão de alguém legitimamente eleito. A menos que… como no caso de Bruno de Carvalho, haja as tais violações grosseiras dos Estatutos.
Uma última nota para os juristas dispostos a fundamentar a justa causa da demissão da Direção: recomendo aos movimentos os insignes juristas Trindade de Barros e Elsa Judas. Foram de grande utilidade para o Conselho Diretivo anterior e se não ganharam causa nenhuma foi, seguramente, por azar.
Justiça????
Uns elementos que pertenceram a uma claque (ou GOA - Grupo Organizado de Adeptos) que o Sporting em boa hora (já elogiei Varandas e a Direção por esse passo importantíssimo) deixou de apoiar e reconhecer, atirou uma tocha para dentro do campo, durante o jogo com o Guimarães. O resultado é uma multa de cerca de 15 mil euros… para o Sporting.
Se me perguntarem se acho bem, acho! O Conselho de Disciplina (CD), assim como o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), têm o entendimento de que os clubes devem zelar pela segurança dos seus recintos, impedindo que neles entrem objetos que possam ferir ou maltratar quem seja. Repare-se que em Alvalade já nem a água é vendida em garrafas sem tampa, como no ano passado. Agora é mesmo em copos de plástico. Todos os jogos somos revistados pela segurança. Se uma tocha entra e não é possível identificar quem a atirou deve ser o clube responsabilizado.
Muito bem, parece-me uma doutrina justa. Salvo… para o Benfica. Este, como não tem adeptos organizados parece que pode fazer o que quiser. Não por causa do TAD, nem CD, nem sequer pelo governamental Instituto Português da Juventude e Desportos (IPJD), mas porque o douto Tribunal Criminal de Lisboa, bem como o doutíssimo Tribunal Central Administrativo do Sul têm entendimentos próprios de quem nunca entrou num estádio de futebol. Os primeiros, contrariando a sentença de um jogo à porta fechada do Benfica, devido ao claro apoio do clube a claques que nunca legalizou, entende que o pobre clube da Luz nada pode fazer se um conjunto de amigos se encontra e leva uma faixa do tamanho de um comboio para o estádio, se sentam todos juntos e insultam a seu bel-prazer quem querem. O segundo tribunal reverteu uma decisão do CD da FPF confirmada pelo TAD (multa de 8600 euros) por incidentes do No Name Boys com a PSP (reparem que 15 mil é para tochas atiradas para o campo). O Benfica recorreu e aquele Tribunal Administrativo diz que não se pode responsabilizar os clubes pelos atos dos adeptos. Ora isto (e ontem este jornal salientava-o) é contra toda a jurisprudência desportiva que tem sido aplicada pela Federação. Espero, sinceramente, que os organismos que se viram desautorizados por estes doutos juízes recorram até onde for possível. Ter tribunais a, objetivamente, defender claques violentas era o que mais faltava!