Uma chama que nunca se apaga

OPINIÃO21.09.201804:11

Terça-feira, o FC Porto iniciou a sua vigésima terceira participação na Liga dos Campeões. Não há clube que mais vezes tenha estado presente nesta competição.

O palco era mais que simbólico, foi na Arena de Gelsenkirchen que foi escrita a mais brilhante história do futebol português a nível de clubes. Nenhum feito se lhe compara, basta perceber que desde que esta prova se realiza no atual formato apenas um clube de uma liga fora das quatro mais importantes a venceu: o FC Porto.

A equipa do FC Porto ainda está longe de estar afinada. Há uma indefinição no modelo de jogo que preocupa. A equipa parece não saber o que fazer à bola quando tem de atacar e hesita entre ter a bola ou jogar vertical. A incapacidade em segurar a bola, quando necessário, já vem do ano passado, mas agravou-se. Por outro lado, é mais notória a falta de um jogador que pontue o jogo no meio campo ofensivo e desequilibre. É uma falha que também vem da época passada, só que o Herrera desse ano não está a ser o deste, nem o Brahimi está ao seu nível, e isso faz muita diferença - e não são só esses a estarem vários furos abaixo, outro caso gritante é o Aboubakar. Depois, há um nervosismo em demasiados momentos do jogo que são de difícil compreensão.

Também há boas notícias. O Militão mais do que um grande central é um extraordinário jogador e o Danilo está de volta e parece que não esteve mais de 8 meses parado.

Seja como for, não tenho dúvidas que o grande Sérgio Conceição irá resolver os problemas rapidamente. A minha confiança e, estou certo, de todos os portistas no nosso treinador é total.

Estávamos, porém, a relembrar talvez o maior feito do FC Porto, algo que transcende as equipas que vão passando pelo clube. Se há jogo em que se percebeu que o brasão abençoado é muito mais que a equipa que conjunturalmente entra em campo foi o de Gelsenkirchen. Com todas as debilidades apontadas, o FC Porto mostrou que estava ali para ganhar ao vice-campeão alemão. Fez tudo para ganhar - sem grandes argumentos, repita-se - e os jogadores portistas mostraram que conhecem a camisola que vestem. Muito poucas equipas não enjeitariam um empate naquele campo, mas o Otávio, depois de marcar o penalty, foi rapidamente buscar a bola: não se estava a jogar bem, mas havia um jogo para ganhar. Nada exprimiria melhor o espírito do clube. O pequeno brasileiro mostrou bem que há mais num jogo de futebol que o jogo em si mesmo. Há uma história e uma forma de estar.

É verdade que a equipa alemã não está na melhor das formas, mas nós também não. O que eu vi por aí escrito e dito dava a ideia de que o FC Porto tinha obrigação de ir à Alemanha golear. Aliás, os mesmos que dizem que a equipa portista está longe da melhor forma exigiram que se fosse vencer o vice-campeão alemão também não em forma.

Prefiro pensar que quem o disse pensa como eu. Que as nossas camisolas contam, que o prestigio internacional conta, que é normal os jogadores das grandes equipas dos grandes campeonatos europeus olharem com respeito e temor o símbolo do FC Porto e que os nossos jogadores sabem bem onde estão.

Jogar bem, jogar mal, faz parte. Há épocas em que as equipas estão melhor ou pior, mas um verdadeiro grande tem sempre uma chama que nunca se apaga. A nossa continua e continuará bem viva.

Enfim…

O desespero dos dirigentes da SAD arguida e dos seus paladinos na comunicação social, sobretudo os disfarçados de comentadores independentes, tornou-se patético.

O comunicado do Benfica sobre o afastamento do braço direito e esquerdo de Luís Filipe Vieira é digno de um humorista brilhante. Já passámos a fase de nos sentirmos insultados, agora só dá mesmo para rir.

Paulo Gonçalves sai porque tem a «necessidade de se dedicar à sua defesa num processo judicial em nada relacionado com o exercício de funções que lhe estavam confiadas». A sério? Então o dr. Gonçalves consultava processos em que o Benfica está envolvido, de adversários do clube para quem trabalhava e o processo judicial nada tem que ver com o exercício das funções que lhe estavam confiadas? Que maravilha... Então o homem que era uma espécie de sombra de Luís Filipe Vieira, que estava diariamente com o presidente da SAD arguida há mais de dez anos não lhe dizia nada sobre as informações que tinha, fazia aquilo porque tem uma doença raríssima qualquer que o impele a aceder a processos judiciais? Muito bem.

A sério, continuem. Continuem que tudo isto é de ir às lágrimas.

O segundo momento de um humor que invejaria os nossos melhores humoristas é o da descoberta de que um funcionário do FC Porto andou na faculdade com um presumível hacker. Estão a ver, estão a ver? Mails, hacker, funcionário do FC Porto... logo foi o FC Porto que comprou os mails.

Pessoalmente, estou aflito. Andei na faculdade com, pelo menos, um tipo que já esteve preso e há mais um par deles de reputação duvidosa. Não tarda a Judiciária bate-me à porta.

Mas a coisa não acaba aqui: o chefe da claque do FC Porto e o referido funcionário moravam no mesmo bairro. Agora é que não há dúvida sobre a tramoia.

Mesmo bairro... chefe da claque... mails... é evidente: o FC Porto comprou os mails.

Aproveito para dizer que vivo a 200 metros do primeiro-ministro, se alguém precisar de alguma coisa é só dizer. Também se quiserem saber umas anedotas é ligar-me, é que no meu prédio mora um humorista conhecido.

Mas será que quem escreve estas coisas não se dá conta do ridículo em que cai? Colegas de faculdade? Vizinhança?

Não é que a tática não seja evidente: visa tão somente desviar as atenções. Em vez de se falar e escrever das acusações já passadas a letra de forma, do processo dos mails, do processo Lex (essa coisa pouca em que alguém está a ser investigado por tentar ou mesmo corromper um juiz), inventam-se umas histórias sem a menor credibilidade ou escrevem-se comunicados tão inverosímeis que deixam qualquer pessoa com o mínimo bom-senso de queixo caído.

Tudo isto em si mesmo não tem piada nenhuma, mas é tão absurdo, tão patético que gargalhar é inevitável.

Benfiquista pode-se ser, já portista...

Renato Sanches pode mostrar o seu benfiquismo, James Rodriguez não pode mostrar o seu portismo. E depois há quem fique muito ofendido quando se diz que há dois pesos e duas medidas para o Benfica e o FC Porto.