Um VAR plantado no deserto
Plantar um VAR num país sem cultura desportiva é condená-lo a definhar
OVAR é como uma árvore plantada no deserto. O VAR não eliminou o erro, amplificou-o, tornou-o ainda menos natural, menos humano. O VAR é arma de arremesso contra os céticos sempre que se a sua ausência nos prejudica ou a sua presença nos salva, mas a médio prazo tem sido mais placebo do que cura para um futebol há muito demasiado doente.
Claro que não é só o VAR, mas também o vídeoárbitro do vídeoárbitro (um VARVAR?) que surge no pequeno ecrã após o apito final, os tribunais de arbitragem e as ligas da verdade, os comentários popularuchos, o discurso casuístico, exagerado, dos analistas e o aproveitamento por parte de dirigentes e treinadores. Sim, Rúben Amorim tem razão: às vezes, dá jeito não falar de exibições, resultados e classificações.
Plantar um VAR num país sem cultura desportiva, sem que o terreno esteja fértil - em plena crise geracional de árbitros -, sem que este seja cuidado diariamente ou veja sequer a luz do sol, é condená-lo a definhar. A federação quis ser arauto da modernidade num país com um futebol da Idade Média, ao ver aí oportunidade para embelezar currículo, quando o mais aconselhável seria criar alicerces sólidos para um sucesso a longo prazo.
Talvez tenhamos de esperar décadas até que os adeptos aprendam a gostar do jogo e não apenas de que o seu clube ganhe, mas é difícil não olhar para um ponto de partida mais equilibrado com uma formação completa dos árbitros, abrangendo a vertente comunicacional a fim de abrir de vez as comunicações ao público, a tecnologia da linha de golo (mais cara e mais complexa nos nossos estádios, sim), menos dependente da qualidade humana, e uma maior mecanização da linha de fora de jogo, com uma margem de erro (que sempre existiu e é omitida).
O que acontece a casas começadas pelo teto?