Um título para Portugal em 2019

OPINIÃO02.01.201903:00

Se acontecer será no dia 9 junho no Estádio do Dragão, no Porto, quatro dias depois do triunfo sobre a Suíça no mesmo palco. Refiro-me à segunda conquista da Seleção Nacional numa competição internacional - no caso, o triunfo na primeira edição da Liga das Nações, em que Portugal é um dos quatro semifinalistas ao lado da Suíça, Inglaterra e Holanda.  É este o meu maior desejo futebolístico para 2019. Portugal a ganhar finalmente uma final em casa e a reforçar a posição na elite do futebol mundial. Lembro: com o apuramento para a final four desta competição, Portugal tornou-se a  única seleção europeia (!) do século XXI totalista em todas as fases finais a que concorreu. Melhor do que Alemanha, Espanha, França, Itália, Holanda, Inglaterra e Croácia (todas elas falharam pelo menos uma fase final desde 2001). O triunfo que se deseja é possível e, vamos lá, até provável, não é verdade engenheiro Fernando Santos? Embora se deva sempre desconfiar dos suíços (o nosso saldo com eles não é famoso…), parecem um adversário perfeitamente ao nosso alcance. Assim como o outro finalista, seja ele a Holanda ou a Inglaterra, ambos clientes assíduos há muitos anos. A Inglaterra não nos vence em fases finais desde a célebre meia-final (1-2) do Mundial de 1966. Desde então vencemo-los no Mundial de 1986 (1-0), nos Europeus de 2000 (3-2) e de 2004 (2-2, penáltis) e no Mundial de 2006 (0-0, penáltis). A Holanda, então, nem se fala: por três vezes os defrontámos e deixámos KO: no Europeu de 2004 (2-1), no Mundial de 2006 (1-0) e no Europeu de 2012 (2-1).


É bom que aproveitemos esta oportunidade única de fazermos em casa a festa que devíamos ter feito em 2004 à custa da Grécia. O facto de a final ser no Porto (onde, por sinal, perdemos para a malfadada Grécia o jogo de abertura do Euro 2004…) não é mau sinal tendo em conta o desfecho das finais disputadas em Lisboa: só derrotas. Via-as todas: em 1983, o Benfica falhou na Luz (1-1 com o Anderlecht após 0-1 em Bruxelas) a conquista da Taça UEFA. Em 2004, também na Luz, Portugal perdeu a maldita final do Europeu para os gregos (0-1). No ano seguinte (2005), o Sporting, em vantagem ao intervalo (1-0) acabaria por perder no Alvalade XXI a final da Taça UEFA para o CSKA Moscovo (1-3). Três finais, três desilusões. É mais que tempo de quebrar a sina.


Também gostaria imenso de ver uma equipa portuguesa vencer novamente uma competição europeia, mas isso na conjuntura atual é pedir quase o impossível - mesmo ao nosso melhor representante na Europa, o FC Porto, que parece ter o destino antecipadamente traçado. Até pode eliminar a Roma nos oitavos, mas não deverá ter fôlego para ir muito mais além - basta vir um Liverpool, uma Juventus, um Barcelona. Quanto ao Benfica e ao Sporting, na Liga Europa, até podem (e devem) passar Galatasaray e Villarreal, mas não lhes vejo nem estaleca nem argumentos para sobreviverem a um embate com um Arsenal, um Chelsea ou um Nápoles. É duro, mas é assim.


Quanto ao campeonato. Já disse aqui por mais de uma vez que gostava imenso que o Sporting de Braga fosse campeão, juntando-se ao CF Belenenses (1946) e ao Boavista (2001) na lista dos milagreiros. Era ótimo para a imagem da Liga portuguesa que uma equipa fora de Lisboa e do Porto conseguisse finalmente ganhar aquela que é uma das ligas mais monótonas e previsíveis da Europa. Isso nunca aconteceu em 84 anos de domínio massacrante de três clubes - lembro que Benfica (36), FC Porto (28) e Sporting (18) foram campeões em 82 das 84 edições da prova.  Mas seria lufada de ar fresco numa prova com vencedor quase certo - ou FCP ou SLB; ou SLB ou FCP: é assim há quatro décadas! - não deverá acontecer este ano, a julgar pelo estrepitoso fracasso dos guerreiros no recente teste de personalidade/estofo na Luz (mais uma vez a equipa acusou o trauma-Benfica e falhou na hora H). A dúvida é se o excitante Sporting de Keizer conseguirá a) reforçar-se b) de modo a aguentar este andamento até à reta final do campeonato. Se conseguir, Sérgio Conceição e Rui Vitória têm ali um problema sério.

Lenda em Inglaterra, Espanha... e Itália

2018 foi mais um ano inesquecível na carreira de Ronaldo: ganhou a 5.ª Liga dos Campeões (único a consegui-lo), depois de se tornar o maior goleador das ligas big five (vai com 409), superando dois pontas de lança lendários como o alemão Gerd Muller (365) e o inglês Jimmy Greaves (366); e terminou o ano com a Juventus e a Itália completamente rendidas a seus pés, como antes a pérfida Albion e a sobranceira Castela. Em 2019, os desafios de Ronaldo passam por conquistar a Serie A e a Champions com a Juventus e a Liga das Nações com Portugal. O fulminante sucesso de Cristiano - um Cristiano diferente, mais coletivista e cada vez mais líder pelo exemplo - num futebol tão difícil e fechado como o italiano é, além de uma bofetada brutal nas estúpidas contas de merceeiro de Florentino Pérez, seria a constatação de que não há na história do futebol ninguém mais ambicioso, mais corajoso e mais determinado que Ronaldo.


A carreira dele, feita de desafios, superações constantes e múltiplos recordes nas quatro competições mais exigentes do Mundo (Premier, La Liga, Serie A e Champions), ganhou uma dimensão que a do rival Messi (por opção própria) não tem. Ronaldo não se limitou a ser grande num só clube, num só emblema. Na história ficará como uma lenda em Inglaterra, uma lenda em Espanha, uma lenda em Itália e, muito provavelmente, como a maior de todas as lendas da Champions  (além de ser o melhor futebolista que alguma vez vestiu a camisola da Seleção portuguesa). Messi, um talento extraterrestre, arrisca ficar reduzido à dimensão do Barcelona (na seleção argentina Diego Armando Maradona continua a ser o maior, sem discussão…) se ficar pela Catalunha - na eterna zona de conforto - até ao final da carreira. Se acontecer, estou convencido de que isso vai fazer alguma diferença quando, dentro de uns anos, se fizer o balanço final da rivalidade CR7-Messi e se perceber o que cada um deles fez, como fez, onde fez, que riscos correu e que desafios superou. Nesse particular, parece-me que a carreira de Cristiano tem sido bem mais difícil e estimulante que a de Messi…