Um outro Neres e mais drible
Quanta burocracia tem ainda António Silva de ultrapassar para jogar pela Seleção principal?
BROOKS, minuto 90+2, para dar, finalmente, utilidade aos seus argumentos, neste caso a altura. Pede-se-lhe que ganhe as bolas pelo ar e faça a equipa ganhar os metros que não consegue conquistar pelo chão. A decisão de Schmidt segue a linha de outras de Rúben Amorim, embora ainda mais tarde na partida, numa situação de desespero e como último dos últimos recursos, depois de nada funcionar. Enquanto uns se concentram no aparente nonsense da entrada do norte-americano, que mesmo com virtudes menores do que o rival uruguaio para ataques em bola corrida ainda oferece uma finalização a Draxler, foco-me sobretudo na ausência de soluções para a revitalização do modelo. É que ao Benfica ainda falta drible!
É óbvio que Yaremchuk ou Seferovic seriam sempre avançados bem mais competentes do que Brooks, porém creio que o alemão agradeceria mais dispor de um segundo Neres, sobretudo nos momentos em que o brasileiro não está inspirado, que são quase tantos quantos aqueles em que desequilibra com a sua arte. Perante um V. Guimarães organizado e muito agressivo sobre o portador, ter outra unidade resistente à pressão teria ajudado os encarnados a chegar mais vezes e mais cedo à baliza de Bruno Varela. E isto apesar de o descalabro ter sido coletivo e visível logo nas alturas em que não teve bola, fosse na reação à perda ou na pressão alta inconsequente.
Em contraponto, teria sido desculpável que, no meio da menor solidez, fosse o miúdo António Silva um dos a sucumbir, no entanto verificou-se precisamente o contrário. No atual contexto da Seleção, talvez tenhamos de esperar meses, eventualmente anos, até vê-lo a jogar pelos AA, mas pergunto: alguém que joga assim na Liga e na Liga dos Campeões terá ainda de preencher quantas páginas da habitual burocracia de Fernando Santos para poder estar no Mundial?