Um novo FC Porto
1 - Depois de grandes hesitações, avanços, recuos e esperas que já estavam a deixar nervosos os adeptos, o novo FC Porto, nascido da necessidade de se reconstruir após um vasto desfalque, parece finalmente estar a formar-se. Falta concretizar pelo menos uma aquisição para a posição chave de guarda-redes, onde os nomes de candidatos continuam a abundar, mas ainda nenhum terá reunido as condições julgadas indispensáveis para dar garantias de chegar a pegar de estaca, como se diz. Falta também saber se Marega sai ou fica, o que não é um detalhe de pouca importância, e se Alex Telles, a outra joia da coroa, se aguenta pelo Dragão até ao dia limite para os negócios das «aves de rapina», como lhes chamou Pinto da Costa (quando são os outros…). E há também o caso de Soares e a fatal tentação pelos negócios da China, e cuja saída também não será apenas uma questão de pormenor. Mas esses três casos esgotam praticamente todos aqueles cujas saídas, além, dos que já saíram, causariam danos sérios à estrutura da equipe.
Porém, os buracos vão sendo tapados. Na direita da defesa, um buraco antigo, vamos ter Saravia e o muito jovem Tomás Esteves, que talvez fique, talvez vá rodar algures. E no centro, anuncia-se o regresso do saudoso Iván Marcano, que, espera-se, venha com a sua qualidade e a sua categoria intactas. E há Pepe, mais os Diogos, Osório e Chidozie, se Sérgio Conceição quiser dar uma oportunidade a alguém que apenas dispôs de uma, estreando-se na equipa principal num teste de fogo na Luz, com uma actuação irrepreensível, logo seguida do banco de suplentes e dois anos de empréstimo. Para o meio-campo, julgo que vamos enfim poder ver Galeno como ele justifica, e vem também Luis Díaz, um médio ala que muito promete. No ataque, Nakajima pode vir a ser bem melhor e mais útil que Brahimi, Zé Luís terá de justificar todo o empenho que o treinador pôs na sua vinda e o juveníssimo Fábio Silva estará ali, à espera da sua hora de confirmação.
Francamente, as perspectivas parecem-me sedutoras, se conseguirmos juntar ao que já é certo um grande guarda-redes. E, francamente também, era altura de refrescar a equipa, mudar rotinas e experimentar caras novas. Há um ar de novo começo e uma mistura de experiência e juventude, de continuidade e inovação que são uma bela base de trabalho para uma nova época.
2 - E vamos ter de entrar a matar. Ir à Luz na 3.ª jornada, em cima da eliminatória da Champions, vai exigir uma equipa já em adiantado estado de forma. O que pode ser muito bom se sairmos vitoriosos de ambos os desafios, que são imensos. Nesse caso, abrindo as portas da Champions e ultrapassando com vitória, ou ao menos com empate, o obstáculo da Luz, e jogando também em Alvalade na primeira volta, um FC Porto competente pode chegar a Dezembro com o cenário que mais se deseja e que, aliás, várias vezes tem repetido nos últimos anos: com a qualificação para a fase seguinte da Champions garantida e uma boa embalagem no campeonato, assegurando uma segunda volta mais fácil que a dos rivais. Oxalá!
3 - Não é preciso ser bruxo para adivinhar que o mais provável é que a coabitação entre António Salvador e Ricardo Sá Pinto no Sporting de Braga não vai ser fácil. O primeiro tem um feito torcido, o segundo tem um feitio difícil (há uma diferença…). E Salvador tem o mau hábito de exigir títulos aos treinadores, a quem, todavia, não fornece ferramentas para tal, fingindo acreditar que basta o seu voluntarismo para que os títulos se materializem. E, quando assim não acontece, a culpa é, claro, dos treinadores. Mesmo que, anos após ano, ele desfalque sistematicamente a equipa dos seus melhores jogadores, em benefício das finanças do clube. É uma politica de gestão, inteiramente legítima e, se calhar até, recomendável, mas não compatível depois com ambições fora de alcance. Assim é que, no dia a seguir a ter assinado com Sá Pinto, Salvador vendeu o seu MVP, Dyego Sousa, para a China, a troco de 11,250 milhões, dizendo depois que o treinador avaliará se a equipa ficou com alguma lacuna que precise de ser eventualmente preenchida. Como disse?
4 - Para nós, adeptos portugueses, que seguimos o nosso futebol, é verdadeiramente impossível de explicar como é que há um clube capaz de pagar 120 milhões por João Félix que, por enquanto, não passa de um miúdo talentoso e uma promessa de grande jogador - e não há quem ofereça mais do que 35 milhões por Bruno Fernandes - não um miúdo talentoso, nem uma promessa, mas a certeza de um grandessíssimo jogador, dos pés à cabeça. E, como todos sabemos, a diferença, a injustíssima e inexplicável diferença, tem apenas uma explicação e um nome: Jorge Mendes. É ele, como já o escrevi, e não João Félix, o verdadeiro senhor 120 milhões. Luís Filipe Vieira pode gabar-se e fazer-se gabar até se fartar; pode espetar cláusulas de rescisão estapafúrdias em todos os novos contratos ou nos contratos renovados, tentando fazer acreditar aos pobres de espírito que conseguirá vender um Florentino por outros 120 milhões; a verdade é que, se houvesse justiça na Segunda Circular, Jorge Mendes já teria uma estátua ao lado da de Eusébio. Apesar de ser portista, ao que consta.
5 - Depois de tanto ter ouvido falar e gabar o futebol feminino, depois das descrições dos estádios cheios e dos recordes de audiências televisivas, depois de ler as inflamadas reivindicações das duas principais vedetas da Selecção feminina dos Estados Unidos, Megan Rapinoe e Alex Morgan, por «equal pay» (igualdade de prémios), dispus-me a ver o meu primeiro jogo de futebol feminino. Foquei-me na final do Mundial, EUA-Holanda, mas, como já sabia que o resultado final de 2-0 fora construído na segunda parte, só vi esta. Bem, chamem-me machista, o que quiserem: o que vi (e era a Selecção campeã do mundo pela quarta vez consecutiva!), foi um futebol de uma pobreza franciscana. Técnica, táctica, fisicamente. O campo parecia grande de mais para elas, tanto que a Holanda não conseguiu sequer aproximar-se o suficiente para fazer um remate à baliza e os Estados Unidos fizeram dois, um dos quais de penalty. Tudo aquilo, aliás, perante um Estádio de Lyon apenas meio cheio, me pareceu feito em esforço, aos repelões, sem profundidade, sem beleza, sem emoção. «Equal pay»? Bem, o futebol é um espectáculo e não é barato. Para pagamento igual ao futebol masculino falta ainda muito, mas muito caminho mesmo.
6 - Flashes da Copa América: confirmo a minha opinião de que o VAR talvez tenha trazido maior credibilidade às decisões de arbitragem (o que ainda está por demonstrar em muitos casos casos), mas seguramente veio para piorar o espectáculo. Para lhe roubar emoção, espontaneidade, explosão. De que serve ir ao estádio, quando tudo se decide numa televisão? De igual modo, não sei se, seguindo instruções para tal ou por moda auto induzida, os árbitros desataram a inventar penalties por tudo e por nada, onde até ninguém os reclama: vimos como a final da Champions foi estragada assim por um árbitro ansioso de protagonismo e o mesmo se repetiu agora na Copa América. Os defesas têm de enfrentar os adversários sem braços, saltar à bola sem braços, cair ao chão sem se apoiar nos braços. É o futebol adaptado.
7 - Talvez porque nunca cuidou de promover a sua imagem como uma pop-star, porque não era casado com uma modelo ou porque não exibia as tatuagens devidas, ele nunca foi seriamente considerado para a Bola de Ouro. E, todavia, foi um dos melhores jogadores da última década, inimitável nos seus raids da esquerda para a direita do ataque, culminados com o irrepreensível remate em arco ao canto superior oposto, obra-prima de geometria em movimento, que executava sem sequer olhar para a bola ou para a baliza. Arjen Robben despediu-se agora do futebol, sem que o futebol lhe tenha retribuído tudo o que lhe deve.