Um elogio aos mais velhos que dão lugar aos mais novos
Vitorino Gabriel Pacheco Antunes, conhecido no futebol por Antunes, é o jogador mais velho no plantel do Sporting. Tem 33 anos, tendo nascido em abril de 1987, não é costume ser titular e, quando o é, alinha com os novos, como aconteceu terça-feira, contra o Mafra.
Antonio Adán Garrido, conhecido como Adán, é o segundo mais velho, tendo nascido em maio do mesmo ano. Costuma ser titular da baliza, só a cedendo em jogos onde brilham os mais novos. O seu suplente é Luís Manuel Arantes Maximiano (de 21 anos, quase 22) que, depois da saída de Rui Patrício e das experiências com Rénan e Salin, se tinha tornado na época anterior indiscutível titular da baliza. Até surgir o espanhol, quase uma dúzia de anos mais velho.
Ao contrário, Antunes, que joga pela faixa esquerda, costuma ser utilizado como suplente de Nuno (Alexandre Tavares) Mendes, um rapaz nascido em 2002, 18 anos completados em junho passado, e conhecido pelo primeiro e último nome. Um jogador 15 anos mais novo.
Estes contrastes são interessantes para se entender como o facto de se referir a equipa do Sporting como um conjunto de jovens jogadores, é enganadora. Na formação mais usada na Liga, além de Adán (33 anos), jogam Coates (30), Neto (32) e Feddal (30). Já aqui vamos com uma média bastante respeitável.
João Palhinha tem 25 anos e João Mário 27. Os jogadores das alas, esses sim, são novos: Nuno Mendes (18) e Pedro Porro (21). A frente é mais misturada: Pedro Gonçalves tem 22, tantos quanto Jovane; Nuno Santos tem 25 e Sporar 26. E assim, um dos da frente tem de ficar de fora, ou dois, se entrar Tiago Tomás, outro de 18 anos (por acaso três dias mais velho do que Nuno Mendes). Mas, se à frente contarmos com Nuno Santos, Sporar e Pedro Gonçalves, a média de idades fica acima dos 26 anos, o que não é propriamente uma óbvia juventude, para o futebol, claro.
Mas duas coisas contribuem para a perceção da equipa do Sporting como um conjunto de miúdos. Uma, e a mais importante, é a forma como jogam. Como Rúben os pôs a jogar (lentos atrás, território dos mais velhos), rápidos à frente (território dos intermédios) e explosivos nas alas, onde estão os mais novos. O treinador do Sporting fez o que muita gente não consegue, nem com uma parede: remodelar e renovar completamente algo que outra mão e outro conceito perderia para a vulgaridade.
Calma com os elogios
Mas, como o próprio Amorim costuma dizer, é preciso saber lidar com o sucesso e também com o insucesso, venha ele de onde vier - da aselhice, do árbitro, do VAR, do azar, seja do que for. E por isso mesmo, vejamos como aquela equipa de 26 anos, de média de idade, pode ficar muito mais nova: Maximiano; Quaresma; Gonçalo Inácio; Borja; Antunes; Plata; Daniel Bragança; Matheus Nunes; Pedro Gonçalves; Sporar e Tiago Tomás, equipa que entrou contra o Mafra, na terça-feira passada. Neste caso, a média de idades baixa para 22,5 anos, ou seja, três anos e meio a menos, o que é bastante, tendo em conta que lidamos com médias. Acontece que, mesmo nesta última equipa se mistura mais com menos experiência, independentemente do talento. Borja, Vitorino e Sporar não são propriamente jovenzinhos e, mesmo Max, apesar da juventude, tem mais jogos na equipa principal do que muitos com mais cinco ou seis anos do que ele.
Não será por acaso que a equipa que o Sporting usa mais vezes, para não dizer quase sempre, tem aquele mix de Rúben Amorim. Quem viu a diferença entre dois jogos do clube nos últimos sete dias - contra o Paços (3-0) para a Taça e contra o Mafra (2-0) para a Taça da Liga - reparou, seguramente, que a primeira parte deste último jogo, em que entrou a equipa mais nova, foi absolutamente sonolenta. Coisa que este ano o Sporting tinha evitado. Não se pode dizer que alguém tenha jogado mal, ou que o Sporting não tenha mantido sempre o controlo do jogo. Mas não desenvolvia, salvo raras vezes, aqui e ali, mais por iniciativas individuais, nomeadamente a velocidade que Plata imprimia à partida e a classe que Daniel Bragança mostra no meio campo. É claro que faltaram passes em profundidade, que nenhum dos defesas em campo faz com o acerto que vemos principalmente em Coates, mas até em Feddal e mesmo Neto; naturalmente que Palhinha (a quem já chamaram Palhão, tal tem vindo a ser o seu nível exibicional) faz falta e que João Mário, mesmo muito discretamente, é uma máquina. Nuno Mendes ou Porro têm muito mais velocidade do que Antunes, que quase podia ser pai deles e que Tabata, que contra o Paços metera um golo de se tirar o chapéu, também se está a mostrar uma alternativa muito credível para o ataque. Felizmente, na segunda parte o Sporting já se pareceu mais com o costume e, sempre sem se desnortear e enervar, o que era o mais comum nas épocas passadas (sem um setor que assobia as mínimas falhas de um jogador), marcou com grande calma dois golos, tendo ainda colocado duas vezes a bola na trave, curiosamente pelos dois mesmos jogadores que depois faturaram os golos: Sporar e Tabata.
O terceiro jogo sem Rúben no banco (que o castigo de 15 dias teve o condão de apanhar três encontros, por acaso todos em casa) é depois de amanhã e assim se volta ao campeonato. Sendo contra o Farense, que fora de casa ainda não fez melhor do que um empate (contra o falso Belenenses), é de esperar que o Sporting não sinta dificuldades, e que não facilite. Veremos o que nos reserva a arbitragem que, convenhamos, tanto contra o Paços como contra o Mafra foi, como deve ser, de modo a não se dar por ela.
Onde pára a polícia?
Hesitei muito em escrever sobre este assunto, porque tenho sempre o receio de estar a promover quem não tem qualidade para isso. Mas a gravidade dos assuntos impõe a denúncia e caso nos calemos acabamos relativamente cúmplices da barbárie.
Um senhor, que não sei se ainda é sócio do Sporting, se já teve guia de marcha ou se acaso se demitiu, chamado Nuno Vieira Mendes e mais conhecido por Mustafá(cuja ocupação era ser líder da claque Juve Leo, com quem em boa hora a direção do Sporting cortou) ameaçou outro Alcochete. Claro que, como acontece nestes casos, não é ele que apela a tal barbárie, apenas diz temer a repetição dos acontecimentos de Alcochete em 2018, quando um grupo de mascarados invadiu as instalações e bateu em diversos jogadores e noutros presentes.
Ele teme, afirma, porque «o ódio é muito grande». E acrescenta (talvez à espera de que sejamos todos estúpidos e lhe entreguemos uma medalha) que tem tentado aguentar a coisa, mas, coitado, não sabe se consegue. Pior: «Vai chegar um ponto em que não vou conseguir aguentar.»
Ora, num país em que coisas muito mais inócuas são discurso de ódio, o que falta a este para ser? O que falta a este tipo de declarações públicas, feitas em plataformas públicas, em programas que têm responsáveis e são conhecidos, o que falta, perguntava, para a polícia agir? O que esperam?
Os sportinguistas sabem bem o que se pretende com isto. Pura e simplesmente desestabilizar uma equipa que alguns deles apostaram nunca se voltaria a colocar de pé. Fazem-no milimetricamente. Por exemplo, estas declarações feitas a um canal do Youtube dedicado à reabilitação do destituído Bruno de Carvalho foram feitas na véspera do jogo contra o Paços de Ferreira. Porém, se isto em termos de clube é grave (sobretudo se o senhor ainda for sócio), mais grave é nada nem ninguém atuar contra este tipo de discurso.
Parece que há, nas autoridades, uma convicção generalizada de que no futebol vale tudo, mas convém dizer que nesta casa não é assim. É, também por convicções deste tipo que todos os espetáculos, com as devidas distâncias, podem ter público, salvo o futebol e os outros espetáculos desportivos. No caso do futebol, que é sempre ao ar livre, e depois das boas experiências já feitas, não se percebe mesmo.