Ultrapassar João Félix
Apostar na formação significa partir desta para criar um plantel e preencher os ‘vazios’
NA LUZ vive-se há muito uma síndrome João Félix. Não que o avançado português tenha culpa, bem pelo contrário, mas o seu talento, somado ao dos antecessores João Cancelo, Bernardo Silva e Renato Sanches, faz com que dirigentes, técnicos e adeptos acreditem que só futuros classe mundial possam ser aproveitados no plantel principal. A isto somam-se apostas descontextualizadas como as feitas em Sandro Cruz - de titular da equipa B a titular da A - e Tiago Gouveia. O jogo correu bem melhor ao segundo do que ao primeiro, talvez porque carregue maior bagagem junto dos mais velhos, uma vez que já se treinou na sua companhia na altura de Jorge Jesus. Ambos, no entanto, mereciam melhor do que caírem no meio de um conjunto desinspirado, desinteressado e com pouco a ganhar diante de um adversário, esse sim, a querer jogar. Antes tarde do que nunca sim, mas novo sinal de uma navegação à vista que não faz sentido perante o trabalho feito.
A evolução de um futebolista não é linear, nem todos vingam e o clube-mãe não pode manter todos. É necessário tomar decisões, mais fáceis ou mais difíceis, porém o fundamental é ter um plano. Apostar na formação não é o mesmo que promover jovens por necessidade, mas sim partir desta para estruturar um grupo, o que de maneira simplista se pode traduzir por contratar apenas para os vazios que não preenche, tendo em consideração o nível exigido para a equipa e as respetivas ambições. Haverá os que ficam no grupo, os que precisam de mais tempo e serão emprestados (para clubes que deem garantias de que podem realmente crescer), os vendidos com dúvidas (se possível com eventual salvaguarda de regresso) e os que viram o ciclo terminar. À questão fundamental tem o Benfica qualidade para realizar já aposta firme na formação, a resposta é inequívoca: é óbvio que sim.