Tuga que é tuga nunca erra
Se o árbitro erra, é corrupto. Comprado por FC Porto, Benfica ou Sporting. Errou porque é isto, aquilo e aqueloutro
TUGA que é tuga mete o dedo no nariz até esborrachar os adenoides, deixa crescer quase infinitamente a unhaca do mindinho direito para escarafunchar bem no fundo do ouvido em busca de cera como se tentasse encontrar petróleo junto da trompa de Eustáquio (não é o Stephen, talvez futuro dragão, é mesmo a trompa), coça as partes íntimas imitando um cão a aparar as unhas na calçada e, sobretudo, diz mal dos árbitros e dos treinadores. O nosso principal hobby é mesmo este: dizer mal dos senhores de preto e dos senhores que, no banco, usam braçadeira. Nisto, meu caros, somos imbatíveis. Não conheço árbitro cuja mãe se tenha mantido imaculada nas gargantas dos adeptos, tal como não há treinador que escape ao incentivo de ir, de novo, para a escola básica de futebol aprender as regras mais simples de colocar 11 jogadores em campo. Pode Nélson Veríssimo ter 30 anos de futebol como futebolista e treinador, pode ter passado por todas as escolas mais brilhantes do desporto-rei e pode saber tudo sobre periodização tática, basculações horizontais, verticais, diagonais e outras que tais e, mesmo assim, não escapar a críticas inflamadas por ter colocado em campo um trio de médios composto pelos macios Weigl, João Mário e Paulo Bernardo. Porém, se tivesse posto Taarabt e não Paulo Bernardo, todos suspirariam agora, pós-empate, pela entrada do jovem formado no Seixal.
PODE Rúben Amorim ter sido internacional A por Portugal, ter passado por Benfica, SC Braga e Belenenses e ser treinador campeão nacional pelo Sporting, algo que não acontecia em Alvalade há 19 anos, que não ficará sem críticas fortíssimas por causa de um mau jogo de Esgaio. O nazareno é agora pau para toda a obra e mal cotado ficará um sportinguista que, entre os amigos, não casque, forte e meio, no 47 de Alvalade. Claro que Esgaio não tem estado bem. Mas tuga que é tuga é assim: está sempre tudo errado menos as suas próprias ideias. Todos fazem as coisas mal menos ele. Se entrarmos em contramão numa autoestrada superlotada, a culpa é das centenas de condutores que conduzem os carros na direção errada. Até eu, diz o tuga que é tuga, marcava aquele golo que o Esgaio falhou quase na pequena área do Vizela.
TAL como Sérgio Conceição não escapou à ira alheia quando metia Marega em campo, dava oportunidades a Felipe Anderson ou disse que Fábio Vieira tem de melhorar fora de campo. O futebol, aliás, deve ser (a par da política e talvez das consequências a curto, médio e longo prazo da toma ou não toma da vacina contra o Covid) um dos poucos setores em que os tugas percebem de tudo e de mais alguma coisa. Criticar faz todo o sentido, claro. Todos temos direito à crítica. Porém, por vezes parecemos o senhor que, de fora, via um burro, um velho e um rapaz. À vez, a culpa era do velho que andava em cima do burro e obrigava o rapaz a andar a pé; do rapaz que andava em cima do burro e não permitia que o velho descansasse; dos dois se andassem ambos em cima do burro; se os dois caminhassem pela estrada puxando o burro pela trela, então eram ambos desprovidos de inteligência.
SE o árbitro erra, é corrupto. Ora comprado por FC Porto, Benfica ou Sporting. Se um avançado falha um golo, se guarda-redes dá um frango, se um médio falha um passe e se um defesa faz autogolo, tuga que é tuga rebenta com eles. Não se limita a dizer que, pronto, errou: errou porque é isto, aquilo e aqueloutro. Ao tuga que é tuga (e eu sou tuga) só falta uma de duas coisas - comprar um espelho ou olhar para o próprio umbigo e pensar: somos todos iguais. Tuga que nunca errou que atire o primeiro tuga (perdão: pedra).