Tristeza e incerteza

OPINIÃO24.05.201804:00

O cálice amargo da Taça: a tristeza.

O jogo correspondente à final da Taça de Portugal não teve nada de festivo. Sentia-se no ar, ao redor do Estádio, o soturno e a perplexidade. A tarde estava bonita, mas a amargura estava por todo o lado. Houve música, houve romaria, houve comes e bebes, houve convívio, mas para nós, sportinguistas, não houve, em momento algum, alegria. Todo o passado recente de acontecimentos desvitalizou a nossa energia. Claro está que, se tivéssemos ganho, o ambiente desanuviaria um pouco. Mas, para nossa desdita, perdemos o jogo. Foi a má notícia desse dia. Pareceu que sofremos um castigo feito de frustração. Nem sequer o resultado tivemos para celebrar. A vitória proporcionaria uma alegria derradeira, fechando, a contraciclo, uma fase que tem sido absolutamente terrível. Nem sequer vale a pena explicar: está tudo escancarado e bem à vista. O clube encontra-se profundamente dividido. A família está desavinda e algo desorientada com todo o ciclone de ocorrências que parece ter vinte fôlegos. O fenómeno que vivemos situa-se para além das fendas usuais (o que não se confunde com boas) que, de vez em quando, se manifestam no nosso universo. Há rivalidades muito antigas que, com maior ou menor intensidade, veem à tona, amiúde, no nosso quotidiano. A diferença é que, desta vez o vendaval envolveu o treinador e os jogadores, apanhados, em moldes tristemente célebres, por todo este remoinho. Numa antítese do que seria a saudável alquimia os ídolos de ontem passaram a proscritos de hoje. Como é possível? Foi pungente vermos os nossos heróis em pranto, numa mistura entre o desgosto a e impotência para fazer melhor. Como foi penoso testemunhar um coletivo destroçado e perplexo, ainda a digerir as agressões sofridas. A tristeza será, por estes dias, o sentimento que mais nos une e mais perpassa nas conversas que partilhamos. Foi todo este lastro, afinal, que levámos para o Jamor. Num quadro carregado a negro os nossos profissionais foram briosos: tentaram contrariar o que parecia ser um determinismo asfixiante. Foram a jogo, lutaram, mas não conseguiram ultrapassar todo o combinado de contrariedades que tinham pela frente. Não será por acaso que estes embates se preparam em estágios feitos de isolamento, com treino adequado, destinado a recobrar a energia física, a manter o aprumo tático, a adequação ao adversário e a mais elevada concentração competitiva. A nossa preparação, ao invés, foi feita na violência, na turbulência e na perplexidade. Um combinado de chuvas ácidas que desaguou no que vimos. A equipa não estava manifestamente em condições de ser submetida àquele teste. Estamos a falar de seres humanos recordemo-lo. Mas não poderíamos, naturalmente, perder por falta de comparência. Isso jamais seria compreendido e perdoado. A via-sacra teve de ir até ao fim. A derrota foi bem mais penosa do que aquilo que, em circunstâncias normais o seria. Estou, todavia, plenamente convencido, que, se as circunstâncias fossem normais, teríamos ganho o troféu. Não porque fosse fácil, bem longe disso. Mas porque somos claramente melhores que o Aves. Saúdo, com desportivismo, o nosso detentor do cetro. Os simpáticos avenses viveram a mais brilhante página da sua história futebolística. Para eles a jornada foi gloriosa. Estão de parabéns. Mas não podemos escamotear o facto óbvio, de que, o que se passou, ficará agarrado, de forma indelével às circunstâncias que nos retiraram, de facto, a capacidade de competirmos em condições de igualdade. Caminho para os 50 anos de sócio do Sporting. Vários prélios me ficaram na memória pelas piores razões, que correspondem, habitualmente, a derrotas. Quem não se lembra do horrendo seis a três com o Benfica naquela noite de tempestade? Ou a derrota no Estádio da Luz em 2005, que nos afastou do título, seguida que foi de outro murro no estômago, sofrido na final da Taça UEFA poucos dias depois? São jogos que se inscrevem na história pelas piores razões. O de domingo passado terá sido, porém, o que mais me marcou. Porque não foi só pelo resultado: foi por tudo. Não foi, naturalmente, a prova que mais me custou perder. Mas foi a tarde mais desenxabida e melancólica de que me lembre a ver um jogo.

O futuro do Sporting: a incerteza.

Está anunciada uma reunião para hoje, que aglutinará os órgãos sociais ou o que resta deles. Já manifestei a minha opinião, que se junta a tantas outras, iguais expressas de forma convergente: os sócios do Sporting devem ser chamados a pronunciarem-se em novas eleições. Face à desagregação patente não se divisa outro caminho. Somos um clube democrático e, por várias vezes, os mandatos foram interrompidos antes do seu termo, mesmo na história recente. Toda a gente constata o que se está a passar e percebe que o que se está a passar não é sustentável. Porventura discordaremos quanto às causas das coisas. Mas concordamos que este cenário de demissões, incertezas e turbulências não é saudável nem sustentável. A escolha deste caminho depende, em primeira linha, dos atuais responsáveis em funções. Até lá não existe processo eleitoral, como não existem candidatos nem candidaturas. Existe, isso sim, contrainformação, especulação e ruído. Não se pode confundir, permanentemente, a participação cívica no debate sobre o clube que amamos, com projetos disto ou agendas para aquilo. Os adeptos, os sócios e os grupos podem e devem manifestar-se. Portugal consagra a liberdade de expressão. Mas deveremos fazê-lo como mandam os estatutos, isto é: os sócios honrando o Clube e defendendo o seu nome e prestígio (como determina, nomeadamente, o artigo 21, n.º 1); os dirigentes exercendo os seus cargos com a maior dedicação e exemplar comportamento cívico e moral (como consta, nomeadamente, do artigo 35, n.º 1). Está tudo escrito. Se cumprirmos os Estatutos, cujo texto nos dignifica e enobrece, não resolveremos todos os problemas, mas teremos meio caminho andado para encontramos novas fórmulas conducentes a soluções. Pelo menos passaremos a conseguir falar uns com os outros e uns dos outros. O resto virá pelo exercício das faculdades que são nossos direitos. Ouçamos os Estatutos. Cumpramos os Estatutos.