Treinador sobe-e-desce
Jesus continua a fazer o que faz e a dizer o que diz sem deixar cair um pingo de humildade e confessar que o prestígio que atingiu se deve a um clube, o Benfica
JORGE JESUS foi capaz de repor o Benfica na Liga dos Campeões, segurando a magra vantagem construída em Lisboa através de um desempenho de enorme significado em Eindhoven, mais pela atitude do que pelo futebol exibido, prejudicado pela expulsão de Lucas Veríssimo e que obrigou os jogadores utilizados a funcionarem como um bloco à prova de todas as vicissitudes e a colocarem o interesse do clube acima de qualquer aspiração individual, em palco de grande visibilidade.
Há uma semana escrevi neste espaço nunca ser tarde para acertar contas com o passado, razão pela qual Jesus tinha de ser capaz de compensar o desempenho negligente na eliminatória com o PAOK, na época transata, como todos estamos recordados, garantindo o apuramento através deste play-off em que deu para ver que o PSV não era assim tão forte quanto o treinador benfiquista o pintou.
Analisados os dois jogos, pode deduzir-se que o primeiro terá sido encarado com alguma ligeireza e só devido a isso se explicam os inúmeros problemas em relação aos quais a equipa encarnada demorou uma eternidade a engendrar contramedidas para equilibrar as forças.
Existem sempre pormenores que escapam e que obrigam a urgentes retificações. É essa a área das estruturas técnicas, outra coisa diferente é a deficiente leitura que se fez acerca do perfil do adversário e perante essa falha nada ser feito para eliminar as suas consequências, tal como se observou no jogo da Luz em que o sufoco a que o Benfica foi sujeito se deveu a um trabalho de casa mal feito e jamais à superior capacidade de argumentação do representante dos Países Baixos, inexistente, tal como o desfecho da eliminatória e, sobretudo, a história do jogo da segunda mão expressaram com nitidez.
JESUS resguarda-se em carreira de muitos anos para pensar que já ninguém lhe ensina o que quer que seja. Pelo menos é essa a ideia que perpassa das suas afirmações, o que não quer dizer que esteja imune ao erro. Nem ele, nem ninguém por mais sólida que seja a experiência. Aceito que na sua privacidade o reconheça, mas jamais o admite em público. É o seu estilo e também uma forma de se proteger.
Desta vez, o final foi feliz. A equipa alcançou o seu primeiro objetivo da época, o treinador sentiu-se o melhor do mundo, os jogadores foram valorizados, os adeptos voltaram ao estádio encantados com o rumo dos acontecimentos e o clube segue o seu caminho, agora mais aliviado pela injeção de capital que advém da entrada na Champions.
O problema é que o Jesus omnisciente continua a fazer o que faz e a dizer o que diz sem deixar cair um pingo de humildade e confessar que o prestígio que atingiu se deve a um clube, o Benfica, e a um presidente, Luís Filipe Vieira. Se fosse o treinador que julga ser, muito provavelmente, não estaria, já em idade de reforma, a trabalhar numa liga periférica como é a nossa e de fraca visibilidade.
EM face da sua instabilidade, tipo sobe-e-desce, em função do momento, sem horizontes nem vocação de maratonista, manda a prudência que alguém o coloque no devido lugar, porque, como escreveu Vítor Serpa, em editorial, na edição de ontem de A BOLA, em alusão ao jogo com o Tondela, «desta vez, tudo acabou em bem para a sua equipa, que assumiu o comando isolado do campeonato, mas é improvável que corra sempre bem, porque este experimentalismo tem tudo para correr mal».
Quem faz o favor de me ler sabe que não sou admirador de Jorge Jesus, por todas estas razões e mais algumas. Não aprecio o género, mas sei ver quando o papel dele é determinante no desenho da linha de fronteira entre o sucesso e o fracasso, o que não foi o caso neste play-off da Liga dos Campeões. Porquê? Na primeira mão titubeou na abordagem, apesar de ter vencido, e na segunda os atores principais foram os jogadores.
O que ele alterou foi antecipado em A BOLA TV pelo professor Jorge Castelo, no rescaldo do jogo da Luz, em que assinalou o desequilíbrio no meio campo, com João Mário e Weigl em desvantagem perante três oponentes diretos, e nos dias seguintes o mister Vítor Manuel não só enfatizou esta evidência como antecipou o onze de Eindhoven, colocando Rafa Silva no papel de segundo avançado em apoio a Yaremchuk. Mas é Jesus quem recebe os milhões de euros. Que não justifica, nem ontem, nem hoje. Ser líder à quarta jornada não passa de uma minudência…
Rúben Semedo — O jogador português voltou a ser detido, agora na Grécia Mal acompanhado e pior aconselhado, escolheu o lado errado da vida. É uma pena. Cabeça frágil e dinheiro fácil em adulto jovem é mistura explosiva. Ora deslumbra, ora destrói. Rúben não entendeu o primeiro aviso, ou não o deixaram entender. Erradamente, pareceu-lhe que a vida continuava a ser fácil. Foi convocado para a Seleção, no apuramento para o Euro-2020, e recentemente foi notícia por alegado interesse do FC Porto, depois de ter sido impedido de se transferir para o Wolverhampton. Ninguém se apercebeu de nada. Estranho, no mínimo…