Torcer pela Espanha
O que pode haver de geográfico, tão simples, na forma como se apoia um outro país
LI recentemente um livro muito interessante, Prisioners of Geography - Ten maps that tell you everything you need to know about global politics [Prisioneiros da Geografia - dez mapas que lhe explicam tudo o que precisa de saber sobre política mundial], do inglês Tim Marshall. É sobre aproximações e afastamentos entre países, povos, sobre a forma como mares, rios ou montanhas definem ou desprezam fronteiras.
Portugal e Espanha não são especialmente tratados no livro, mas ao lê-lo lembrei-me de duas ideias de que gosto, uma de Saramago, que, a respeito do seu A Jangada de Pedra, dizia que a irmandade entre Espanha e Portugal era tão clara que «bastava olhar para o mapa»; a outra é de Pérez-Reverte, que na apresentação de um livro em Lisboa, há muitos anos, ousou dizer, e com isso causando estupefação, que toda a Península Ibérica devia ser um país e que Lisboa devia ser, também pelos privilégios da geografia, a capital.
Gosto de Espanha. E sinto, estranhamente, nestas coisas dos Europeus e dos Mundiais, que sou dos poucos entre os meus amigos e familiares que torcem pela Espanha a partir do momento em que Portugal cai. Ontem voltou a ser assim. O que se torna engraçado nisto de torcer por um país que não é o meu é que não tem a ver com a simpatia que às vezes se pode ter - e tenho-a - por clubes de outros países. É diferente, parece mais transversal à ideia que se tem de todo o país, como se o futebol fosse só uma representação. Não fará de mim menos português, muito menos mais espanhol; mas talvez me ajude a compreender que pode haver muito de geográfico, tão simples, tão natural, no futebol.
Olho para o campo como se olha para o mapa, creio.