Tondela

OPINIÃO11.11.201803:00

1Hoje, ao final da tarde, o Benfica tem, em Tondela, um dos jogos mais importantes deste primeiro terço da nossa Liga. Se na Luz frente ao Ajax foi uma equipa empenhada e esforçada hoje, em plena Beira Alta, tem de ser uma equipa que junte vontade com eficácia, superioridade evidenciada no relvado e humildade assumida a partir do balneário. Tem de ser um Benfica unido a partir de dentro de forma a que das bancadas onde estarão milhares de dedicados benfiquistas haja reciprocidade face ao permanente calor com que, mesmo à chuva e com muito vento, acompanham a equipa. A equipa no seu todo! Hoje, ali bem perto da minha cidade natal (Viseu), o Benfica, este Benfica dorido, tem de acreditar que este jogo é um verdadeiro ‘verão de São Martinho’. Bem sabemos que é o dia deste Santo, não deixaremos de comer castanhas - assadas e cozidas! - e, até, alguns de nós,  poderemos provar o vinho novo. Mas o que desejamos, o que ambicionamos, é uma vitória clara, com uma efetiva solidariedade e com uma inequívoca e coletiva personalidade. Todos sentimos os últimos resultados negativos. E todos acreditamos que foram momentos difíceis para todos, incluindo para o Jonas ou Grimaldo. Ou o Jardel ou o André Almeida. Ou o Gabriel ou o Rafa. E todos porventura, terão que interiorizar, alguns de vez, a história grandiosa do Benfica, o profundo sentir dos adeptos, as dores que os assolam quando a equipa, a sua equipa de sempre, lhes provoca desilusões e os leva, por vezes, às lágrimas. É que vestir uma camisola é um ato profissional que registamos, reconhecidos, por exemplo nas cavalgadas de Grimaldo pelo lado esquerdo dos relvados, como aconteceu, é justo dizer, no encontro frente ao Ajax. Mas sentir o manto sagrado do Benfica é mais do que um momento, curto ou alargado, de um vínculo contratual. É um vínculo necessário de permanente entusiasmo. E este é, de verdade, a maior força da alma! Mas também é ter a inteligência de acompanhar um grande novelista russo quando nos legou que «a vergonha é a preciosíssima capacidade do homem de relacionar os seus comportamentos com as exigências daquela suprema consciência, que nos foi deixada de herança pela história da humanidade». E, aqui, é só substituir humanidade por Benfica. Comportamentos e exigências, capacidade e herança, consciência e história. E neste dia que recordamos os cem anos de mais uma dramática guerra europeia e que a história regista como a primeira guerra mundial devemos perceber e recordar, desde Cícero, que «o hábito de tudo tolerar pode ser a causa de muitos erros e de muitos perigos»!

2Nesta pausa para as seleções nacionais, de novo a principal sem Cristiano Ronaldo, viveremos a apresentação do novo treinador do Sporting, Marcel Keizer, com a consciência que terá um tempo, curto, para adaptação e conhecimento e, depois, para as devidas escolhas e ficando, como sempre, dependente dos resultados imediatos. Com a consciência que o novo Presidente do Sporting, assumindo a tridimensionalidade do poder - poder, mais autoridade e, também, influência - suscitou a chicotada psicológica no tempo que considerou oportuno. E pelos resultados imediatos fê-lo com sentido de oportunidade e percebendo, como se intui, a ligação profunda entre o treinador Tiago Fernandes e o balneário.  E hoje em dia esta ligação, estreita e confidencial, é uma mais -valia de qualquer equipa técnica, sob pena de a unidade ser uma aparência e não uma evidência. E pelo que se percebe, a revolução em Alvalade vai implicar o regresso de parte relevante da estrutura que acompanhou, nos últimos anos, Jorge Jesus, como serão os casos anunciados de, entre outros, Raul José e Miguel Quaresma. O que implica que na Arábia Saudita Jorge Jesus ficará relativamente desfalcado, apesar do conjunto de novos e promissores elementos que o acompanham neste desafio árabe. Mas é útil não esquecermos que a história, na sua argúcia e nos seus ensinamentos, nos diz que a revolução não pode ser servidão. Para bom entendedor umas palavras… bastam!

3Que o mundo do futebol de hoje nos deixa, por vezes boquiabertos, é inequívoco. Que o mundo do futebol contemporâneo está a perceber, com dores crescentes, que a justiça comum não deixa de investigar situações complexas e que, também ela, - a justiça - derruba fronteiras e suscita cooperação judiciária é de uma clara realidade. Por excelência, e por Expresso, nos últimos fins de semana… Do Mónaco à Bélgica, de Malta ao México, de Espanha a Portugal os dados atropelam-se e, acredito, estamos, tão só, no arranque de processos que vão abalar estruturas relevantes do futebol europeu e mundial. E como cereja no topo de um bolo temos conhecimento que Neymar recebe 375 mil euros por aplaudir os adeptos no final de cada jogo. Cada aplauso tem um preço e, dirão alguns puristas, que tudo resulta de um contrato livremente assinado. A questão, porém, ter que ver com uma das partes do contrato, o PSG, que sendo um clube de um fundo soberano - de um fundo de um Estado - não cumpre, conscientemente, as regras do fair play financeiro da UEFA e, por isso, pode permitir-se pagamentos que são contra a essência do jogo. Aqui há a confissão que a ligação do jogador ao clube é uma ligação em que tudo tem preço. O que implica que as regras financeiras são uma treta. Uma fina e rica treta. E importa reabilitar - diria que reverter-alguns dos bens que levaram o futebol a ser a modalidade das modalidades. Por mim não quero nenhum jogador que receba dinheiro para me aplaudir. Dispenso essas palmas pornográficas. Dispenso mesmo!

4Convém acompanhar a denominada ‘Plataforma do Desporto Federado’ que resulta de uma reflexão que envolve 55 Federações desportivas e que procuram «encontrar os principais pontos de convergência que as unem no diagnóstico da situação e na visão com e para o desporto». E essas federações querem definir o seu futuro e «convocar os parceiros» que entendam fundamentais para percorrer um diferente caminho. Acredito que esta plataforma - para além dos novos canais televisivos que estão a nascer! -  tem pernas para andar. Para construir e reivindicar. Neste tempo em que se pressentem mudanças em múltiplos níveis do nosso desporto. Que não, apenas, no nosso futebol!