Todos perderam calçados!...

OPINIÃO29.02.202003:00

SERIA o título adequado ao filme sobre a jornada europeia dos clubes portugueses, que teve lugar na quarta e na quinta - feira desta semana: três sessões cá no burgo e outra na Turquia. Na verdade, entre as quatro equipas portuguesas que se apuraram para esta fase da Liga Europa, com grande regozijo daqueles que ainda acreditam na capacidade competitiva do futebol luso nas provas europeias, uma coisa é comum e ao nível das outras equipas europeias: tinham botas de futebol nos pés, e das melhores marcas e ... cores!


A diferença está no futebol praticado, pelos pés que estão dentro das botas e pelas cabeças (no sentido material e mental) designadamente, a intensidade com que é jogado. Aí, realmente, a diferença hoje é muito grande, pela simples razão que ao futebol português o que interessa é a discussão sobre a intensidade do encosto para decidir do penalti - e passamos horas e horas nesse teste de intensidade à inteligência e paciência dos telespectadores - e não a intensidade do jogo jogado. Na verdade, enquanto no final de um jogo entre equipas europeias até eu já estou cansado, na maior parte dos jogos entre equipas portuguesas o que acontece é que tenho dificuldade de o ver na íntegra porque, por vezes, até adormeço. Incluídos os jogos do Sporting, ainda que irritado e indignado.


Uma explicação simples, que admito não explique tudo, é que a capacidade competitiva das equipas portuguesas nas provas europeias diminui enquanto parece crescer ao nível da Selecção Nacional, porque os jogadores que a integram exercem a sua profissão no estrangeiro, onde a grande diferença está justamente na intensidade. Um jogo da liga inglesa é um grande espectáculo e um jogo da nossa primeira liga é uma chatice!


Não tive a possibilidade de ver os jogos todos, tendo as circunstâncias determinado que a minha observação tenha recaído sobre o jogo do Sporting e depois do Benfica.

Quanto a este, a diferença de andamento é flagrante, sendo que a equipa mais intensa é aquela que, neste momento e teoricamente, teria menos ritmo competitivo porque veio das férias e está em inicio da sua competição interna. No final do jogo, em contraste com a intensidade posta pelo Shaktar os jogadores do Benfica pareciam estar parados!

Valha-nos a análise dos treinadores no final do jogo, onde também houve diferença, não já de intensidade, mas de mentalidade. Neste caso, por acaso,  ambos portugueses, mas onde se destacou a simplicidade e objectividade do comentário por um lado, e por outro, o discurso redondo e cheio de banalidades!


Nem sei o que diga do jogo do Sporting, onde parece que quem joga bem num jogo é castigado e não joga no jogo seguinte, para lhe dar moral, e, por outro, a culpa do que se está a passar é do Bruno Fernandes que já não tinha cá a cabeça e que não foi vendido quando devia ter sido.


Resolvendo a questão Bruno Fernandes, independentemente de todos os disparates que tenho ouvido, é que ele realmente faz e fará muita falta, porque além de um grande homem e de um grande jogador, era o único leader que residia no clube e na SAD, e agora ficámos sem leader nenhum, estando mais ou menos sem rei nem roque! Não é caso, porém, para preocupações, porque está tudo tão seguro de si próprio que nem a humilhação tempera a arrogância, característica de todos os incompetentes.


Aquilo que realmente me parece ter acontecido na Turquia foi uma equipa a fazer turismo, que alguns chamam de pé descalço,  na rulote do Dr. Zenha. Nem o mais deprimido, ainda que um pouco menos nos últimos dias, esperava uma coisa destas. Mas o sinal foi dado logo na constituição da equipa, com o castigo de Plata em beneficio de Bolasie. Quando o Plata tinha dois anos de idade já jogava mais futebol que o Bolasie. De resto, quando aquele entrou, logo o jogo foi abanado e o Sporting marcou; porém, não fosse caso de o Sporting empatar, logo retiraram o Jovane Cabral para entrar o Doumbia! Que sinais tão tristes...
Eu, ao ler a crónica do meu prezado consócio Henrique Monteiro na quinta-feira, também fiquei motivado para pensar que poderia sorrir um pouco e hoje estar também a escrever com algum optimismo e satisfação pela performance na Liga Europa, assim festejando da melhor forma o dia 27 de Fevereiro de 2020, pois fez cinquenta e sete anos que me tornei sócio do Sporting Clube de Portugal.


Não foi assim, contudo! Na verdade, a jornada no que toca a nação portuguesa foi um desastre. Mas, tal como no clássico do cinema, em que «todos morreram calçados», todos perderam calçados porque, de qualquer forma, se aceita que os clubes estrangeiros que ganharam são superiores, sobretudo, na intensidade que põem nos jogos e nas competições, sem se queixarem se jogam três, quatro ou cinco vezes em duas semanas, ao contrário das nossas equipas que nunca têm tempo para descansar!...


O Sporting, porém, mesmo no estado actual, é superior àquela equipa turca, a quem tínhamos obrigação de ganhar, mesmo a jogar descalços.
O Braga, o Benfica e o Porto todos perderam calçados. Talvez por força dos últimos procedimentos nas revistas no Estádio José de Alvalade, a equipa do Sporting entrou em campo com as botas calçadas, mas mentalmente descalço!


Termino com um grito de revolta e alerta para todos os sportinguistas: para se morrer calçado, não podemos viver de pé descalço!...

Nota: já que falei de pés descalços, gostaria de dizer ao pretenso árbitro, que também faz biscatos de VAR, e que baptizaram de Nuno Almeida, que já é tempo de comprar uns sapatinhos, já que de óculos não precisa porque vê bem, muito bem até, ao longe, mas sobretudo ao perto!