Todos juntos

OPINIÃO20.07.201804:00

Não foi por o Sérgio Conceição dizer que há jogadores no plantel que não têm qualidade suficiente para representar o FC Porto e que são precisos reforços, nem por termos perdido um mero jogo-treino que estou mais ou menos preocupado com a próxima época.
O adepto vive em permanente estado de ansiedade, já se sabe. As alegrias duram poucas horas, as angústias ocupam-nos a vida toda. Para o nosso clube, tudo é sempre pouco e os problemas parecem sempre gigantes. É fácil ser frio quando olhamos para a casa doutros e muito difícil quando olhamos para a nossa.

Por exemplo, o nosso treinador disse o óbvio, disse o que todos os homens e mulheres do brasão abençoado estão carecas de saber: são precisos reforços e há jogadores que não servem para o clube.

É aquela a sua forma de estar no futebol, não tem papas na língua. Em qualquer circunstância só mereceria o meu aplauso, mas, nesta situação, preferia que apenas o tivesse dito (e não tenho dúvidas nenhumas de que já o fez) aos dirigentes do FC Porto. Faz aumentar o preço dos jogadores em que estamos interessados (dar a ideia de que se está muito necessitado não é a melhor posição negocial...) e, já se sabe, não há nada que mais divirta os nossos adversários do que a ideia de que há algo que não vai bem na nossa casa.  

Sei que o nosso grande treinador falou publicamente pensando só nos interesses do clube e que para nós soubéssemos que ninguém está mais preocupado do que ele. Não era preciso, nós sabemos. E é por sabermos que gostamos dele, não só por ele ser um fantástico treinador de futebol, mas também porque é um dos nossos.  

Claro que é difícil compreender sabermos há muito tempo que íamos ficar sem dois centrais - um deles parte da espinha dorsal da equipa - e estarmos a menos de quinze dias de jogar o primeiro troféu e não temos a situação resolvida. Como também é complicado entender que desde o principio da época passada se sabe que nos faltam jogadores para as alas e as soluções de recurso continuem a ser o Hernâni e o Waris, bons jogadores mas não para jogarem no FC Porto. Como também não é recente a carência de jogadores para o meio-campo com outras características que não as daqueles que hoje dispomos.

Serão, por outro lado, perfeitamente entendíveis dificuldades relacionadas com possíveis vendas de jogadores. É evidente que se, de repente, aparecer uma boa oferta pelo o Brahimi ou Marega ou Aboubakar, ou uma irrecusável pelo Alex ou pelo  Herrera existirão dificuldades normais para preencher esses espaços e, nesse caso, as coisas terão se ser resolvidas com menos tempo disponível. Mas, convenhamos, ao Marcano e ao Reyes só faltava jogarem com uma tarja a dizer que se iam embora e também não é de agora que eram conhecidas as outras carências.

Existirão boas e atendíveis razões, não tenho dúvidas, para ainda existirem falhas importantes no plantel e, lógico, ele nunca será o que nós gostássemos que fosse. Para já, ninguém ignora as dificuldades financeiras que atravessamos e o peso que algumas más decisões do passado ainda têm para a construção do plantel,  e convém não esquecer os erros de casting de janeiro da última época.

Se uma contratação que for puser em causa o futuro próximo do clube, espero que não venha ninguém. Nenhum jogador, nenhum plantel, nenhum desejo de um treinador pode ser mais importante que o clube.

Se temos de ir à luta com os jogadores que agora temos ou mesmo se se perderem outros, vamos a ela. Temos é de sentir que a estrutura, do treinador à Direção, está alinhada e que isso fique claro para todos os portistas. É fundamental que todos, mas todos mesmo, percebam de que estamos todos juntos nisto.

André Pereira  e os outros

Já vejo futebol há tempo suficiente para não fazer avaliações definitivas baseadas em meia dúzia de jogos, quanto mais em apenas um. Não tenho, assim, opinião sobre os dois rapazes que contratamos para a ala direita da nossa defesa. Claro que foram evidentes os erros de posicionamento -normais de quem tem de se adaptar a uma nova equipa e a um novo futebol - mas é muito cedo para se perceber se estão à altura do desafio.

Os outros que são do FC Porto mas não fizeram parte ao plantel do ano passado ou que pertencendo jogaram pouco já são nossos conhecidos e desses tenho opinião. Não me parece que nenhum tenha condições para jogar no FC Porto (incluo nesse grupo Paulinho, Hernâni, Waris e Ewerton, chegado agora e que francamente não entendo a sua contratação).

Diogo Leite, Bruno Costa e André Pereira são outra conversa. Os dois primeiros precisam ainda precisam de rodar para que se possa aquilatar se têm o que é preciso para estar no nosso plantel principal, já André Pereira está em condições para concorrer por um lugar na equipa titular.  

Segundo o que se vai sabendo dos treinos e jogos à porta fechada e por aquilo que se viu contra o Portimonense, o André Pereira está a confirmar o que mostrou no FC Porto B e no Vitória de Setúbal. Ou seja, temos ali um belíssimo jogador. É rápido, intenso, duro, bom tecnicamente e, mais que tudo, tem faro goleador. Temos homem.
 
FIFA e futebol não rimam

Não é assunto que me entusiasme, mas, com um enorme esforço, estaria disposto a discutir se deve haver algum tipo de critério a seguir pelos realizadores de televisão nos jogos de futebol quando mostram adeptos ou adeptas. Só que a FIFA está-se rigorosamente nas tintas para qualquer tipo de conversa séria sobre o assunto. A questão resume-se aquilo em que a FIFA se especializou: dinheiro.


Num dos processos de atribuição da organização de um dos mundiais mais corruptos de que há memória, a FIFA impôs que o torneio fosse dado ao Catar. Não se importou de arruinar os campeonatos nacionais de 2022 fazendo com que os jogos se desenrolem em dezembro e janeiro, que só seja possível jogar em estádios com ar condicionado, num país em que está de facto vedada a ida da esmagadora maioria dos adeptos que fazem a festa deste tipo de eventos e em que os direitos das mulheres são seriamente restringidos.


E é neste último ponto que entra a inopinada intrusão da FIFA na realização televisiva dos jogos. A FIFA quer lá saber se aparecem mulheres bonitas ou feias, o problema é que no Catar não é aceitável que as  mulheres não estejam vestidas segundo os cânones do país. Claro que dizer o que a FIFA disse muito perto do próximo Mundial daria muito nas vistas e ficariam ainda mais claros os reais propósitos.  
No fundo, esta é apenas mais uma na série infinda das poucas-vergonhas e venalidades em que a FIFA se especializou.