Tempo deitado fora

OPINIÃO28.03.202206:55

Veríssimo está à frente da equipa há tempo suficiente para Rui Costa saber se tem ou não o que é preciso para ser treinador do Benfica

MUITO se tem falado sobre a indefinição (que se arrasta, é um facto indesmentível, há demasiado tempo) em torno do nome do treinador do Benfica para a próxima temporada. E embora me pareça que esse será, muito em breve, tema que chegará também a Alvalade e ao Dragão - o Sporting começa a ser demasiado pequeno para a qualidade de Rúben Amorim e o FC Porto está, não é novidade, mais dependente da vontade de Sérgio Conceição do que o contrário -, é inegável que são os encarnados quem tem mais urgência em definir, de uma vez por todas, quem será o homem que orientará os destinos da equipa em 2022/2023.  Por várias razões.
A primeira, e porventura a mais determinante, porque só depois de escolher o nome do treinador poderá Rui Costa - em consonância com Lourenço Pereira Coelho (um regresso que se saúda) e Rui Pedro Braz - começar a definir de forma mais concreta que Benfica teremos na próxima época. Aliás, sou da opinião que esse processo deveria, até, ter começado assim que as águias ficaram afastadas de todas as competições nacionais, decorria o mês de janeiro. Porque aquilo que esta época veio provar é que precisa, o Benfica, de escolher com muito cuidado (ainda mais cuidado tendo em conta os fracassos dos dois últimos anos) os jogadores com que pretende atacar 2022/2023. Quem fica, quem sai e quem entra - venham os reforços do Seixal ou do exterior. E, tendo isso em mente, cada semana que passa sem haver uma definição quando ao nome do próximo treinador é tempo perdido (em vez de tempo aproveitado, como o momento exigia) na preparação da nova época. O próximo treinador do Benfica devia estar já a trabalhar - o ideal seria que estivesse já a trabalhar diretamente na Luz, mas não sendo possível pelo menos na sombra (não acredito que jogadores ou atual equipa técnica fossem por isso afetados na única prova em que os encarnados correm por alguma coisa, a Champions) - observando os jogadores que compõem o plantel, seguindo com atenção as equipas imediatamente abaixo e discutindo, com o presidente, o modelo que pretende para a equipa e, com base nele, aqueles com quem conta, aqueles que podem ser vendidos ou emprestados e aqueles que pretende ver chegar.
Ainda mais complicado de perceber é, do meu ponto de vista, esta aparente espera para ver aquilo que faz Nélson Veríssimo nas próximas semanas para decidir, depois, que rumo tomar em relação ao comando técnico da próxima época. Nélson Veríssimo pegou na equipa em dezembro do ano passado. Já lá vão três meses. É, parece-me, tempo mais do que suficiente para Rui Costa, e aqueles que com Veríssimo trabalham mais de perto, perceberem se tem, ou não, aquilo que é preciso para assumir, de forma definitiva e não transitória que afinal pode não ser assim tão transitória, o comando da equipa, independentemente dos resultados que obtiver até final da época. Não é, sequer, justo para Veríssimo estar numa espécie de teste, com um plantel sobre o qual teve muito pouco a dizer, como se ganhar a SC Braga e Sporting fosse suficiente para mostrar que pode ser treinador do Benfica ou perder  mostrasse que, afinal, não serve para treinar o Benfica - imagine-se que o Sporting tinha feito o mesmo com Rúben Amorim quando chegou a Alvalade?...
Tenho, por isso, a convicção de que Nélson Veríssimo não será o treinador do Benfica na próxima época, independentemente do que aconteça nas próximas semanas - mesmo que elimine o Liverpool na Champions. Se Rui Costa acreditasse que era ele o homem certo o assunto já estava arrumado e Nélson Veríssimo estaria nas conversas, que já decorrem na Luz, sobre a preparação de 2022/2023. E se assim for, não vale a pena arrastar mais o assunto. É assumir e seguir em frente. Porque tempo é coisa que o Benfica não tem. E o que tem devia aproveitá-lo melhor...