Tem graça!
Quando lhe foi perguntado sobre Gedson ter passado a jogar bastante menos, Bruno Lage respondeu; quando lhe foi perguntado sobre as pouquíssimas oportunidades dadas a Krovinovic, Bruno Lage voltou a responder; quando lhe foi perguntado, agora, como pode Jonas aspirar um regresso à titularidade com o fantástico rendimento da dupla formada pelo jovem João Félix e por Seferovic, Bruno Lage resolveu criar um problema em vez de encontrar uma solução. Não apenas não respondeu como ainda desafiou o jornalista em questão a fazer uma pergunta «em nome próprio» e sobre… futebol.
Ora bolas: falar de Jonas não é falar de futebol? E o que quis Bruno Lage insinuar ao pedir ao jornalista que fizesse uma pergunta de autoria própria? Lage levou a mão à orelha, parecendo querer dizer que o jornalista, com auricular, estaria a receber informação de fora para fazer aquela pergunta. Foi o que pareceu. E o que pareceu foi grande trapalhada de Lage.
O que tem Lage a ver com os auriculares dos jornalistas. Saberá Bruno Lage porque têm auriculares sobretudo os jornalistas de televisão?
«Próxima pergunta!...», disse o treinador do Benfica, recusando assim responder à forma como pode Jonas aspirar a um regresso à titularidade nesta circunstância de Félix e Seferovic estarem a render muito positivamente. E porque não quis responder Bruno Lage?
O que se percebeu é que Lage criou um problema onde ele não existia. Em vez de responder como respondeu sobre Gedson e sobre Krovinovic, Lage resolveu sobre Jonas responder com silêncio e estranhas insinuações. Porquê? Porque Jonas é diferente dos outros? Porque Jonas é um problema para Lage? E se é um problema, porque quer Lage fugir dele? Sente Lage que os jornalistas não devem fazer perguntas sobre Jonas?
O que tem Lage a ver com as perguntas que os jornalistas entendem fazer (desde que ninguém lhe falte ao respeito, Lage tem de aceitar que cada jornalista pergunte o que entende; quanto muito pode não responder!)
Pois, se não queria realmente responder, Bruno Lage devia simplesmente tê-lo dito. Não precisava de se armar em engraçadinho e insinuar (num processo de intenções muito desagradável) que o jornalista estaria a fazer uma pergunta encomendada por alguém.
Fazer uma pergunta sobre Jonas é tocar num assunto assim tão delicado? Se é, então Bruno Lage deve explicá-lo aos benfiquistas. Porque quando está a falar com os jornalistas, Bruno Lage está a falar para os adeptos do Benfica.
Quando lhe perguntaram sobre Gedson e sobre Krovinovic (o afastamento do primeiro e as poucas oportunidades dadas ao segundo) Bruno Lage disse: «Lá está, só podem jogar 11, conto com todos, têm é de continuar a trabalhar e quando surgir a oportunidade, corresponderem.»
Agora, sobre Jonas, o treinador do Benfica podia perfeitamente ter respondido o mesmo e matava ali o assunto. Mas não. Quis afirmar-se de outra maneira e criou, ele próprio, uma falsa questão. Ou seja, creio que quis afirmar-se... desnecessariamente.
Bruno Lage entrou bem no comando da equipa do Benfica. Entrou a ganhar. E tem ganho tão claramente mais do que perdido que os adeptos parecem até desculpar-lhe a única derrota, com o FC Porto, na famigerada meia-final da Taça da Liga.
Entrou bem, tem estado bem, e elogiam-lhe a serenidade e o acerto na maioria das opções, quer do ponto de vista do sistema de jogo, quer do ponto de vista, por exemplo, da firme aposta na titularidade de um jovem realmente muito talentoso como é João Félix, uma espécie de Jonas com menos 15 anos (sim, 15 anos!!!), capaz de criar, agitar, improvisar, desequilibrar e finalizar. Reparem como o rapaz faz tão bem golos de cabeça!...
Pois entrou tecnicamente bem Bruno Lage no lugar deixado por Rui Vitória. Mas não tinha Lage necessidade de se exibir, como, de certo modo, se exibiu já por duas vezes, num plano de autoafirmação, porque Lage não está no lugar em que está para falar dele próprio, está para falar da equipa e do futebol da equipa, das ambições da equipa, dos problemas da equipa, das exibições e dos resultados da equipa.
Antes deste episódio sobre Jonas, o treinador do Benfica pareceu-me alguém capaz de falar sem complexos do jogo e dos jogadores. E escrevi-o, elogiando Bruno Lage. Mas não gostei nada de o ouvir contar ter sentido «no olhar dos jogadores» que iria ser ele o líder, nem de o ouvir afirmar o sentido de que «os jogadores estão agradados com a nossa forma de trabalhar».
O que Bruno Lage passou para a opinião pública foi a necessidade de se valorizar. Que, nesta circunstância, não lhe fica bem. Como fez agora, no caso da pergunta sobre Jonas. Lage é, para já, na primeira linha, uma personagem de circunstância, que deve valorizar-se pelo trabalho e pelos resultados do trabalho e não pela autoafirmação. Os protagonistas são a equipa e os jogadores. Não é Lage quem deve, à pressa, tornar-se protagonista. Deve saber esperar pelo estatuto. Quando tiver estatuto vai perceber a diferença entre a grandeza e a arrogância. A não ser que aprenda mal. E queira começar já a afirmar-se contra... os jornalistas.
SÉRGIO CONCEIÇÃO foi outro treinador que não esteve lá muito feliz nos últimos dias. Não pela forma de ser ou de dizer as coisas. Mas por ter sido levado a encenar justificações que nem são muito próprias da personalidade de Sérgio Conceição, um homem que adora futebol e adora falar de futebol e não tem jeito para justificar com «insultos e cuspidelas dos adeptos» a decisão de retirar a equipa portista do campo antes de os vencedores do Sporting receberem a Taça da Liga, ganha de forma tão limpa no desempate por pontapés da marca de grande penalidade, como sempre me sublinhava ser correto dizer-se o saudoso Cruz dos Santos, uma das grandes figuras que fizeram de A BOLA uma referência de Liberdade e a maior referência da imprensa desportiva portuguesa dos últimos 74 anos, completados esta última terça-feira.
Pois Sérgio Conceição, à falta de melhor, veio dizer aos adeptos do futebol que se revoltou contra os insultos, como se os insultos dos adeptos tivessem cor e os treinadores não tivessem, eles e todos os agentes profissionais do futebol, a extrema responsabilidade (como o próprio Sérgio veio, recentemente, apregoar...) de contribuir, não para um fair play da treta, mas, no mínimo, para um futebol de maior respeito pelo jogo, pelos adversários e pelos espectadores.
Dizer que o FC Porto o contratou, a ele, Sérgio Conceição, para ter mau perder, é um exercício de retórica. Ninguém que compete gosta de perder. Mas se ter mau perder é perder o respeito pelos outros, então que ninguém esqueça que perder o respeito pelos outros é perder o respeito por si próprio.
Os profissionais do futebol não são pagos para ter mau comportamento; são pagos para fazer um espetáculo. E são pagos para respeitar os adeptos. Quanto menos se derem ao respeito mais desrespeitados serão.
Insultar e cuspir é de adeptos que não deviam ter lugar num recinto desportivo, seja ele qual for. Estamos de acordo.
Mas insultar e cuspir é algo que vamos vendo, infelizmente, no comportamento também de profissionais do futebol.
E esse será sempre o comportamento mais lamentável. E Sérgio sabe-o bem!
JESUS deixa o Al Hilal antes do final da época e talvez no final da época os adeptos do Al Hilal venham a ter muitas saudades de Jesus. É um palpite. Pode Jesus ter muitos defeitos, mas ter enganado os sauditas não é um deles, porque Jesus sempre disse aos responsáveis do Al Hilal que apenas ficaria um ano em Riade para logo regressar a Portugal. Pode, entretanto, Jesus nem regressar já a Portugal, se se confirmar a opção da Roma em substituir Eusebio Di Francesco pelo treinador português que se reencontraria, assim, não com Rui Vitória no clássico saudita, mas com Sérgio Conceição nos oitavos da Champions. Tinha a sua graça!
PS - Escrevi, há uma semana, que o auxiliar de Carlos Xistra tinha errado ao assinalar fora de jogo após Pizzi fazer golo ao FC Porto, na meia-final da Taça da Liga. Errei e peço desculpa ao auxiliar de Xistra e aos leitores, porque o protocolo diz que o auxiliar pode assinalar fora de jogo depois de concluída a jogada. Sim, errei. Mas porque tomou o auxiliar essa decisão? Por achar que havia fora de jogo mas, sem a certeza absoluta, deixar que o VAR pudesse intervir? E não devia o VAR ter sugerido ao árbitro que visse as imagens?
Não devem os árbitros, em certas circunstâncias, perguntar o que pede o futebol?!