Tarcísio Meira (e o que recordo)
O lamento do Corinthians pela morte do ator - e a minha memória de ‘Luca’
TALVEZ tenha começado a gostar de futebol por causa de uma telenovela brasileira. A meio dos anos 80, era eu um menino, passava a Vereda Tropical, e um dos arcos narrativos era o de Luca, um futebolista interpretado pelo ator-galã Mário Gomes - «inspirei-me em Maradona, e até fui falar com ele, para criar a personagem», contou o ator recentemente, aquando da morte de el pibe -, que depois de subir a pulso na carreira acaba como avançado do Corinthians; e no último episódio aparece como reforço, chega de helicóptero ao Morumbi no início de um jogo (real) com o Vasco. Mário Gomes, contra o previsto, entrou em campo durante um golo do Corinthians e foi festejar com os verdadeiros jogadores (entre os quais Casagrande, que depois iria para o FC Porto!) antes de ser expulso pelo árbitro. A Globo filmou e colocou a festa de Luca na telenovela. No final, com um outro golo, neste caso do empate do Vasco, os adeptos do Corinthians, irritados, cantaram o nome de Luca e pediram-lhe para voltar ao relvado. Ele já não voltou.
Anteontem morreu o ator Tarcísio Meira, o velho ator galã, aos 85, vítima de Covid. O Corinthians foi o primeiro clube a expressar o pesar pela perda do ator paulista: «O Corinthians se une a fãs e amigos num último aplauso à lenda da TV e do cinema.» Por isso me lembrei de Luca no Morumbi. A força das grandes histórias e atores aliada ao futebol fica para sempre - para mim, no caso. É o sublinhar da vida dos heróis que chegam aos estádios de helicóptero, dos galãs que o são até quase aos 90 anos, como se já nada daquele estatuto tivesse só a ver com a beleza, mas com a aura; como se já nada tivesse só a ver com a fama, mas com o talento; como se já nada tivesse só a ver com o futebol, mas com a celebração.