Sporting volta ao passado?

OPINIÃO09.12.201903:00

MIGUEL BRAGA é responsável de comunicação do Sporting há coisa de um mês. Até há uns dias mal se tinha dado por ele, a não ser quando desmentiu uma notícia que dava conta de negociações para uma parceria entre o clube de Alvalade e a Red Bull. Não pelo desmentido em si, porque é essa a sua função, mas pela forma que escolheu para menosprezar essa possibilidade: o simples facto de associar a palavra red (vermelho em inglês) ao Sporting era «além de anedótico, ofensivo», disse, fazendo-nos recuar a um passado, não muito distante mas que a maioria pensava ultrapassado, em que o vermelho tinha sido banido de Alvalade. A avaliar pelas palavras de Miguel Braga não é, afinal, bem assim.


O novo responsável de comunicação do Sporting ressurgiu em grande na sexta-feira, com um texto por si assinado no site do clube. E sobre o que decidiu escrever Miguel Braga? Sobre a guerra, por todos considerada tão meritória, de Frederico Varandas às claques? Não. Sobre os 13 pontos de atraso da equipa de futebol profissional para a liderança do campeonato? Também não.  Sobre a expulsão de Acuña em Barcelos e da forma como, de dedo em riste, se dirigiu ao team manager dos leões? Para quê falar nisso? Não, no brilhante texto por si assinado no site  do Sporting, Miguel Braga escreveu sobre... o Benfica.
A estratégia não é nova nem exclusiva do futebol. Pelo contrário. Também na vida há gente que prefere olhar para a vida dos outros do que pensar na sua. É, convenhamos, fácil cair nessa tentação e os clubes portugueses, em especial os maiores, têm por ela uma atração quase obsessiva. A estratégia de Miguel Braga não encerra, portanto, nada de inovador. Mas encerra um problema: atacar o Benfica, mesmo que para distrair as mentes mais suscetíveis a este tipo de chico-espertices, não resolve os problemas do Sporting. Que são muitos. Eles continuam (e continuarão, se for este, de facto, o caminho pensado para a comunicação leonina pelo novo responsável pela área...) lá.


«Já não é tempo de coisas e condutas do tempo passado.» Assim termina o texto por Miguel Braga assinado no site do Sporting. É uma frase sábia. Que o novo diretor de comunicação do Sporting devia começar por aplicar a si próprio, tendo em conta que a estratégia em que parece apostar deu, há não muito tempo atrás, no que deu...

PINTO DA COSTA aproveitou a arbitragem de Jorge Sousa no Boavista-Benfica para mais um ataque aos encarnados, visando os resultados (ou a falta deles, para ser mais correto...) da águia na Europa.


Sobre o lance em causa, o do segundo golo da equipa de Bruno Lage no Bessa, já foi tudo dito pelos especialistas em arbitragem e parece unânime que devia ter sido anulado. Não há, sobre isso, muito mais a dizer, a não ser que, mesmo sabendo-se das limitações do protocolo, é talvez hora de pensar a sério na divulgação dos áudios das conversas entre árbitros e VAR, para que a transparência seja total. Sendo verdade que os árbitros têm de ser defendidos, não é menos verdade que têm, também, de ser responsabilizados. E ficar-se na dúvida sobre quem errou em lances por vezes tão evidentes - o árbitro, o VAR ou ambos - não é, de certeza, o melhor caminho.


Sobre as palavras de Pinto da Costa, em especial a farpa ao desempenho do Benfica na Europa, dizer apenas que não constituem uma novidade. O presidente do FC Porto sempre foi exímio em identificar as fragilidades nos rivais e as sucessivas más campanhas das águias na Champions são, não restam grandes dúvidas, o grande calcanhar de Aquiles da presidência de Luís Filipe Vieira. Sabe-o Pinto da Costa, sabe-o o presidente do Benfica e sabem-no os adeptos encarnados, a quem o assunto causa, percebe-se, especial incómodo. E Pinto da Costa, como se sabe, não tem problemas (pelo contrário...) em colocar sal na ferida. E mesmo que este ano, depois de ter ficado fora da fase de grupos da Liga dos Campeões ao cair aos pés do colosso Krasnodar e de não ter ainda a equipa apurada para a próxima fase da Liga Europa num grupo com Feyenoord, Rangers e Young Boys, o FC Porto não seja, exatamente, o melhor exemplo de bons desempenhos europeus, Pinto da Costa não desperdiça uma oportunidade.