Sporting em 'burnout'

OPINIÃO16.05.201802:42

O psicólogo alemão Herbert Freudenberger definiu a síndrome de burnout como um «distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso cuja causa está intimamente ligada à vida profissional». Há pouco mais de um mês, o dr. Eduardo Barroso sugeriu ser esse o mal que afetava Bruno de Carvalho e que explicaria o comportamento dele. Julgo que neste momento é justo dizer que, por causa de Bruno, todo o futebol do Sporting se encontra em burnout: o presidente, o treinador e os jogadores encontram-se em guerra aberta e nem os adeptos escapam à espiral de loucura - muitos deles atiram as culpas para os jogadores e tem descarregado neles toda a frustração da perda para o Benfica do 2.º lugar e dos possíveis milhões da Champions. Ontem, cerca de 50 delinquentes de cara tapada, alguns armados com barras de ferro e armas brancas, invadiram a Academia de Alcochete e, não encontrando qualquer obstáculo (?!?), avançaram para a ala profissional onde ameaçaram e agrediram vários jogadores e o próprio treinador Jorge Jesus (!). Um ato absolutamente intolerável que culmina uma semana de crescente hostilidade das franjas mais radicais relativamente aos profissionais do Sporting e deixa Bruno de Carvalho numa posição insustentável. Ele perdeu o controlo da situação e está a levar o Sporting para o abismo. É tempo de alguém com autoridade no universo leonino se chegar à frente e dizer-lhe: BASTA !!!!    


O guarda redes Rui Patrício, um dos melhores jogadores da história do Sporting e o herói mais decisivo do Euro-2016 (o título mais importante da história do futebol português) já tinha sido alvo de um ato miserável por parte de uns quantos energúmenos em pleno Alvalade XXI. A chuva de tochas «casualmente» lançada para cima da baliza do guarda-redes no derby foi uma vergonha e teve seguimento nos insultos e ameaças dirigidas à equipa de futebol no final do jogo da Madeira. O estado de desvario em que se encontra o clube presidido por BdC conheceu ontem uma degradação inaceitável, que soa a toque de finados. Depois disto, é muito difícil defender que Bruno tem objetivamente condições para continuar a liderar uma instituição com a dimensão e as responsabilidades do Sporting.  


Não vou lembrar os sucessivos psicodramas que têm caracterizado o dia a dia sportinguista nos últimos tempos. Creio que toda a gente está saturada deles. Apenas gostaria de lembrar que esta última crise foi desencadeada pelo incendiário-mor BdC em vésperas da final da Taça de Portugal, que pode (podia?) proporcionar ao futebol do leões, por estranho que pareça!, a melhor época nos últimos 16 anos (para os mais distraídos, a última vez que o Sporting ganhou dois títulos na mesma época foi em 2001-2002, com Lazlo Boloni à frente de uma equipa de luxo - Mário Jardel, João Vieira Pinto, Niculae, Ricardo Quaresma, Sá Pinto, Pedro Barbosa, André Cruz, Rui Jorge, Hugo Viana, Paulo Bento, Rui Bento. É evidente que Jorge Jesus tem todas as responsabilidades no 3.º lugar final - um fracasso! - e na forma como a equipa se apresentou perante Benfica e Marítimo; como é evidente que BdC tem TODAS as responsabilidades no clima doentio de permanente fricção que acompanhou a equipa na reta decisiva da época. Foi ele o principal desestabilizador do grupo, percebendo-se agora que nunca perdoou a Jorge Jesus o facto de o treinador ter emergido (para larga franja de adeptos) como o líder adulto e responsável que salvou a equipa na enorme confusão que se seguiu à derrota em Madrid. 


O futebol profissional do Sporting está à beira da implosão. Na sequência do escândalo de ontem há vários futebolistas que querem rescindir contrato. Alguns já nem suportam olhar para BdC. Uma das consequências mais perversas desta crise é a desvalorização do plantel - os interessados nas várias  joias sportinguistas não deixarão de aproveitar a conjuntura a seu favor… - e da própria imagem do clube. Sendo certo que Jorge Jesus não vai continuar, a possibilidade de Bruno de Carvalho sair incólume e continuar a liderar o clube como se não fosse o principal responsável por este descalabro é algo que, em minha opinião, devia perturbar qualquer sportinguista sensato.


Para piorar a situação, uma noticia publicada ontem pelo Correio da Manhã aponta para existência de graves irregularidades imputáveis ao Sporting na conquista do título de andebol da época passada - aparentemente, houve um esquema de corrupção de árbitros destinada a favorecer os leões na luta com o FC Porto. O Sporting repudiou em comunicado a noticia do  Correio da Manhã e declarou «não se rever em qualquer prática que desvirtue a verdade desportiva ou que seja ética, moral e socialmente censurável». Sem prejuízo de novas revelações e aguardando pelo resultado da investigação em curso (já confirmada pela Procuradoria-Geral da República), a nossa posição aqui é rigorosamente igual à do caso dos e-mails: não há na competição lugar para os batoteiros. Seja no futebol, seja no andebol. Investigue-se - e a fundo!