Sporting é de todos e não é de ninguém
No dia 17 de fevereiro de 2018, no pavilhão João Rocha, Bruno de Carvalho obteve uma vitória esmagadora na AG que lhe alargou poderes e na qual exortou sócios e adeptos a apenas verem a Sporting TV e a lerem o jornal do Sporting. Depois dessa reunião magna, disse o então presidente da mesa da AG, Marta Soares: «O Sporting ganhou a consolidação de uma liderança, que hoje ficou demonstrado ser inquestionável. Poderá não se gostar do estilo, mas o que conta é a dedicação que Bruno de Carvalho devota ao Sporting, com inteligência, competência e vontade de levar o Sporting àqueles momentos altos que desejamos.»
Quatro meses e uma semana depois, a 23 de junho, os sócios do Sporting, em AG destitutiva, decidiram, por 71 por cento contra 29, afastar Bruno de Carvalho da presidência do clube. Nesse curto espaço de tempo, houve o jogo no Wanda Metropolitano e, a seguir, o post suicidário de BdC, a rábula do Paços de Ferreira, o adeus à Champions e o ataque a Alcochete. Cento e vinte dias alucinantes bastaram para que o líder supremo passasse a persona non grata.
Entre a AG destitutiva do Pavilhão Atlântico e as eleições mais participadas de sempre no Sporting distaram apenas dois meses e meio. Frederico Varandas, eleito com 42,3 por cento dos votos, iniciou um novo ciclo e BdC deu sempre a ideia de que não estava a perceber o que tinha acontecido, habitando numa realidade alternativa. Veio a seguir a decisão do Conselho Fiscal e Disciplinar de expulsá-lo, por atos que foram contra os estatutos do clube, e BdC continuou a falar de injustiça, depois de tudo o que tinha feito pelo Sporting. De AG em AG, até à reunião magna do último sábado, o ex-presidente foi sucessivamente derrotado, até dizer realmente o que lhe ia na alma: «Sinto vergonha da massa associativa.» Entre a AG norte-coreana de fevereiro de 2018 e esta declaração passou menos de ano e meio. Em síntese, honra ao Sporting que, dentro da mais estrita legalidade, resolveu de forma superior um problema que colocou em causa a natureza do clube. Só uma entidade com uma matriz tão vincada seria capaz de acordar do pesadelo e retornar ao espírito de 1906.
E daqui para a frente? O brunismo, sabedor da volatilidade das maiorias nos clubes, continuará o seu caminho, procurando alimentar-se dos insucessos desportivos do Sporting. Esta é a nova circunstância, nascida da queda de BdC.